Diante da engenhosidade dos cybercriminosos, muita gente vem abrindo mão do net banking, das compras on-line e até mesmo dos tradicionais caixas eletrônicos (já que são cada vez mais comuns as notícias de fraudes com cartões clonados a partir de “chupa-cabras”, micro-câmeras e teclados falsos instalados disfarçadamente nesses aparelhos).
Mas se você acha que é seguro pagar suas compras com o “velho e confiável cheque”, saiba que os estelionatários são capazes de mudar facilmente o valor desses documentos, seja através de adulterações grosseiras – transformando 60 reais em 600, por exemplo –, seja mediante técnicas bem mais rebuscadas: segundo a ABRACHEQUE (Associação Brasileira das Empresas de Informação, Verificação e Garantia de Cheques), o avanço da tecnologia e o aperfeiçoamento das máquinas de impressão facilitam a ação dos fraudadores.
Uma das práticas mais comuns, atualmente, consiste na clonagem de folhas e talões de cheques, que pode ser feita de forma manual ou mecânica. No primeiro caso, os falsários utilizam uma folha de cheque verdadeira, onde o nome do correntista é “lavado” com o uso de produtos químicos ou outros métodos afins; no segundo, eles usam impressoras a laser para reproduzir folhas de cheque em nome de usuários verdadeiros ou não.
O próprio Banco Central reconhece que efetuar pagamentos com cheques é arriscado. Se o documento for repassado (prática comum entre muitos comerciantes) e cair nas mãos de um vigarista, este poderá criar um talão falso, treinar a assinatura do emitente e “pintar e bordar” nas lojas (utilizando documentos igualmente falsificados) ou fazer depósitos em contas de “laranjas”. Para piorar, a coisa pode ser descoberta somente quando o cliente conferir o extrato ou for informado pelo Banco de que sua conta está negativa (ou ainda quando receber telefonemas de cobrança das lojas onde o falsário aplicou o golpe).
Observação: a maioria dos cheques tem uma “proteção” contra lavagem com produtos à base de hipoclorito de sódio (água sanitária) e é impressa com tintas reagentes a solventes orgânicos e inorgânicos (cloro, acetona, benzina, éter, álcool, etc.); a utilização dessas substâncias provoca manchas e borrões que não podem ser eliminados.
Como prevenir acidentes é dever de todos, seguem algumas dicas para quem tem o hábito de efetuar pagamentos com cheques:
a) Nunca permita que outras pessoas preencham o seu cheque, faça-o pessoalmente e com sua própria caneta (existem canetas cuja tinta pode ser apagada facilmente com uma borracha especial que as acompanha, permitindo ao falsário modificar o valor e manter a assinatura do emitente do cheque, dificultando a comprovação da fraude).
b) Rejeite o uso daquelas maquininhas que preenchem cheques (há quem diga que as informações impressas automaticamente podem ser apagadas com o auxílio de um simples forno micro-ondas; não sei se é isso é verdade ou mais uma lenda urbana, mas enfim...).
c) Sempre emita cheques nominais e cruzados, preencha-os com letras grandes, elimine os espaços vazios entre as palavras (escreva #duzentosetrintaecincoreais#, por exemplo, em vez de duzentos e trinta e cinco reais) e faça um risco no espaço que sobrar.
d) No verso de cada folha de cheque emitido, escreva resumidamente a finalidade do pagamento em questão e assine de novo.
e) Evite emitir cheques de baixo valor e passá-los a taxistas, vendedores de zona azul, guardadores de carro e ambulantes em geral.
f) Lembre-se de que cheques pré-datados (prática comum para obtenção de “crédito informal”) costumam ser repassados a terceiros, potencializando sensivelmente o perigo de fraudes.
Já para quem está “do outro lado do balcão”, a maneira mais eficaz de evitar problemas com cheques é deixar de aceitá-los, mas essa medida, além de radical e antipática, pode prejudicar sensivelmente as vendas. Muitas pessoas (geralmente humildes ou de idade avançada) não têm ou não sabem utilizar cartões eletrônicos e acham arriscado (com razão) sacar e levar no bolso grandes volumes de dinheiro. Então, convém atentar para algumas regrinhas:
a) Jamais aceite cheques rasurados, borrados, manchados, amarelados ou desgastados. Redobre a atenção no caso de folhas soltas, sem o talão – e se a borda esquerda não for micro-serrilhada, nem pensar!
b) Observe a “linha louca” do cheque (aquela série de desenhos lineares verticais com o nome do banco impresso em letras pequenas, no lado direito da folha); cada folha do talão deve ter uma combinação diferente.
c) Experimente raspar com a unha qualquer parte impressa em preto no cheque (o nome do cliente ou o número do cheque, por exemplo), se a tinta sair com facilidade, ligue o “desconfiometro”.
d) Examinando o cheque contra a luz, você poderá identificar eventuais colagens de partes. Convém reparar também nos pequenos detalhes impressos na folha (nome do banco na “linha louca”, números e caracteres pequenos, etc.), pois as impressoras e copiadoras raramente os reproduzem fielmente.
e) Sempre que possível, procure checar a autenticidade do RG e CPF do emitente, pois há milhões de documentos falsos circulando no País (se tiver dúvidas, ligue para um serviço de identificação de documentos falsos).
f) Muito cuidado com cheques de contas recentes (o risco é ainda maior no caso de cheques pré-datados ou se o emitente insistir em fornecer apenas o número do telefone celular).
g) A reação do cliente durante a consulta do cheque ou a conferência dos documentos pode ser um bom indicativo – inquietação, nervosismo ou impaciência são sinais de que alguma coisa está errada. Os cuidados devem ser redobrados nos feriados e finais de semana.
h) Lembre-se: pior do que não vender é vender e não receber!
Boa sorte a todos.