terça-feira, 6 de março de 2012

Facebook, traição e divórcio


Li recentemente que o Facebook é apontado como culpado em um de cada três divórcios no Reino Unido (nos EUA, a proporção é de um para cinco), e que, embora nossa legislação não exija “justa causa” para encerrar um casamento, muitos brasileiros buscam na Web provas de infidelidade que lhes permitam escapar do pagamento da pensão ou favorecer a própria posição na partilha dos bens.
A meu ver, o maior responsável pelo divórcio é o próprio casamento, cuja origem se perde na pré-história da humanidade, mas que pouco evoluiu nos últimos séculos. Claro que o modelo atual, criado na Roma antiga e “aprimorado” pela Igreja, na Idade Média, difere sobremaneira do “acasalamento” imposto aos nossos antepassados mais remotos pelo instinto de perpetuação da espécie. No entanto, se já não arrastamos nossas “eleitas” pelos cabelos nem nos unimos a cônjuges escolhidos por nossas famílias à luz de interesses políticos e/ou sociais, ainda convivemos com preceitos pra lá de anacrônicos.
Viver em sociedade só é possível quando se respeita o próximo, e por isso existem leis que resguardam os direitos individuais e os limitam em prol do interesse coletivo. Por outro lado, como o mundo é dinâmico e os costumes mudam com o passar do tempo, as normas comportamentais devem ser revistas e atualizadas, ou se divorciarão (desculpem o trocadilho) inevitavelmente do espírito que norteou sua criação.
O mundo evoluiu mais nos últimos 50 anos do que nos 20 séculos anteriores, e se nossa legislação vem se adaptado aos novos contextos, o mesmo não ocorre com o arcaico Sacramento do Matrimônio, que ainda têm a procriação como finalidade precípua e a indissolubilidade como um de seus principais pilares. Isso sem mencionar que relacionamentos são complicados. Alguns funcionam bem enquanto espontâneos, mas azedam no instante em que se tornam compulsórios (notadamente devido à falsa idéia de que pessoa com quem nos casamos se torne propriedade nossa). Querer eternizá-los é o primeiro passo para transformar convivências baseadas em parceria e cumplicidade em coexistências insípidas e letárgicas. Como dizia Vinicius de Moraes, do alto da experiência advinda de nove casamentos, “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Para concluir, vale lembrar que os homens traem desde que o mundo e mundo. Quando não havia Internet, não faltavam prostíbulos, barzinhos, festinhas de embalo, “matadouros” divididos com amigos e desculpas inverossímeis para chegar tarde em casa ou se ausentar durante um ou outro final de semana. Muitas esposas carregavam os chifres sem reclamar, pois seu papel na sociedade, até meados do século passado, consistia basicamente em procriar, cuidar da casa e dos filhos e satisfazer os desejos de seu amo e senhor. Com a liberação feminina e a luta pela igualdade de direitos, todavia, as mulheres começaram a dar o troco, seja por vingança, seja devido à falta de carinho e atenção por parte dos maridos. Para aquelas que se contentam com casos extraconjugais virtuais, as redes sociais são sopa no mel, ao passo que para os homens a Net representa apenas mais um meio de encontrar parceiras dispostas a consumar o ato ao vivo e em cores.
Comentários serão bem vindos; um ótimo dia a todos e até mais ler.