Chegamos a tal ponto
de imbecilidade que vemos o trabalho como algo gratificante e enobrecedor,
quando na verdade ele não passa de mera necessidade.
No alvorecer da computação pessoal, os PCs não passavam de
caros símbolos de status que mal e
parcamente substituíam as máquinas de escrever e calcular e – porque não dizer
– o baralho de cartas. No entanto, logo surgiriam novas aplicações, os
programas se tornariam mais e mais rebuscados e, com a popularização da
Internet, a evolução tecnológica mudaria profundamente os nossos hábitos.

Eu, por exemplo, usei
máquinas de escrever durante toda a minha vida adulta – e o fazia com relativa
desenvoltura –, mas acabei me rendendo à comodidade oferecida pelos processadores de texto, que permitem
remover ou remanejar palavras, frases e até parágrafos inteiros sem o uso de borrachas
ou de LIQUID PAPER. Além disso, bastam uns poucos cliques do mouse para inserir
figuras, ajustar a formatação, escolher o tipo, cor e tamanho das fontes, e daí
por diante. Às vezes, fico pensando que me seria impossível voltar a batucar na minha velha REMINGTON, e por
isso incluo em minhas orações Tio Bill
e seu festejado MS WORD.
Observação: Até algum tempo atrás, eu dizia que a única
vantagem da máquina de escrever em relação a um editor de textos era o fato de
ela poder ser usada em qualquer lugar, até mesmo à luz de velas, mas atualmente
os laptops preencheram essa lacuna, de maneira que...
Outro bom exemplo remete às enciclopédias, que tinham
presença garantida na maioria das residências. Quem não podia arcar com o custo
da festejada BARSA, por exemplo (idealizada
em 1957 e publicada pela primeira vez em meados da década de 60) tinha como
opção a ENCICLOPÉDIA CONHECER, que a Editora Abril lançou logo em seguida sob a forma de fascículos
colecionáveis que, ao final, a gente mandava encadernar. Aliás, mais de 30 anos
depois a Editora Nova Cultural
repetiu a dose com a Larousse Cultural,
cujos fascículos vinham encartados nas edições de domingo de um dos maiores jornais aqui de São Paulo (os 24 volumes que
meu pai colecionou para o neto sobreviveram a três mudanças e continuam até hoje
na estante aqui de casa, embora mais por uma questão protocolar do que por real
necessidade).
Enfim, a TI vem transformando o mundo numa verdadeira aldeia global, onde soluções inovadoras
brotam como capim (ainda que a peso de ouro). Fitas cassete e VHS cederam
espaço para CDs e DVDs, e aparelhos de fax foram aposentados pelas (cada vez
mais acessíveis) impressoras multifuncionais. Os Correios precisaram se reestruturar
para manter seu balanço positivo, e as indústrias
cinematográfica e fonográfica
têm feito das tripas coração para enfrentar a pirataria. Os laboratórios fotográficos
diversificaram sua gama de produtos serviços, e, no âmbito automotivo, depois
que a injeção eletrônica aposentou o
carburador, parece que o céu é o
limite para a tecnologia embarcada: já existem carros que freiam sozinhos (para evitar colisões dianteiras), sugerem um “pit
stop” quando notam sinais de cansaço
no comportamento do motorista e, em vez de faróis, trazem câmeras de visão noturna (que ampliam em mais de quatro vezes a
capacidade de visualizar objetos no escuro, mesmo em situações de chuva ou neblina). De minha parte, há muito que deixei de gastar com papel de rascunho, mas minhas esferográficas continuem indo para o lixo – não porque a tinta acaba, mas porque a carga resseca por falta de uso.
Abraços e até mais ler.