Depois de uma gestão pródiga em erros e medidas estapafúrdias, a anta sapiens resolveu fechar com chave de ouro sua deplorável passagem pelo Planalto com uma “carta aos senadores e à nação”, apresentada por ela própria em entrevista coletiva e transmitida em sua página no Facebook.
Numa das peças mais patéticas da história política do
Brasil, Dilma insiste na já exaurida
tese do golpe, reafirma que há ruptura institucional no Brasil, nega ter cometido
crime de responsabilidade e defende a antecipação das eleições presidenciais de
2018 (clique aqui para acessar a íntegra da
epístola da sacripanta, ou aqui, caso queira ouvir o Canto do Cisne na versão Grasnado de Pato).
Com uma cara-de-pau de dar inveja a seu execrável
predecessor e mentor, a Assombração do Planalto, às vésperas do exorcismo que
deve despachá-la de vez, tem o desplante de dizer que “recebeu com humildade”
as duras críticas aos erros cometidos e políticas que não foram adotadas pelo
seu governo, bem como de atribuir ao Legislativo
a culpa por não ter conseguido aprovar as medidas necessárias para a retomada
do crescimento do país, reafirmar a existência de “provas irrefutáveis” de sua inocência, que a Constituição não prevê
afastamento por "desconfiança"
e que sua deposição definitiva do cargo constituirá um “golpe de estado”.
Em última análise, o objetivo da missiva dilmista ― redigida
ao longo das últimas semanas com contribuições de Cardozo, Berzoini, Wagner e do próprio Lula ― é tentar obter apoio de
senadores que ainda não decidiram como votarão no julgamento final do impeachment.
Como a caudalosa “Contrariedade ao
Libelo Acusatório” de 670 páginas ― entregue por Cardozo quando faltavam apenas três minutos para o final do prazo
regulamentar ―, trata-se de uma dose cavalar de “mais do mesmo”. Ou uma “bala
de latão”, como classificou a senadora Simone
Tebet, ao dizer que “Dilma fala em golpe enquanto defende um
plebiscito inconstitucional”, ou ainda “de uma superficialidade
impressionante”, na visão do senador Waldemir
Moka, segundo o qual “o documento
deveria ter sido escrito no início de 2015, com ela assumindo os erros que
colocaram o Brasil na pior crise de sua história”.
O que a nefelibata da mandioca grasnou em seu canto de pata
choca cheira a discurso de palanque ― o que causa espécie, considerando que ela
está em via de se tornar inelegível por oito anos. Mas coerência nunca foi o
forte dessa senhora, que, no mesmo dia em que cometeu seu estapafúrdio pronunciamento,
tornou-se formalmente investigada: O ministro Teori Zavascki, relator do petrolão no STF, autorizou a abertura de inquérito contra Dilma, Lula, Cardozo, Mercadante, Delcídio, Marcelo Navarro (ministro do STJ) e Francisco Falcão (presidente do STJ)
por suspeita de obstrução das investigações da Lava-Jato e, por consequência,
da Justiça. No caso de Dilma,
eventual condenação implicaria em perda do mandato, mas, convenhamos, pelo
andar da carruagem, até o final do mês seu mandato já terá ido pelo ralo.
Enfim, pau que nasce torto morre torto, tem jeito não.