A novela do triplex de Lula começou em 2009, com a quebra da Cooperativa Habitacional dos Bancários de
São Paulo, que deixou na mão centenas de famílias ― mas não a Famiglia Lula da Silva, que tinha
comprado a unidade 141. Para não prejudicar o capo di tutti i capi, o então
presidente da cooperativa, João Vaccari,
transferiu para a OAS a incumbência
de concluir as obras do Edifício Solaris,
e Leo Pinheiro destinou a Lula a cobertura 164-A, assumindo a
diferença de R$ 1,15 milhão e bancando os quase R$ 900 mil cobrados pela Tallento Construtora para fazer
alterações no projeto original ― que incluíram até mesmo um elevador privativo
― e decorar luxuosamente o tríplex.
Em seu depoimento, Pinheiro
declarou também que Lula o mandou
destruir qualquer documento que evidenciasse o pagamento do imóvel por Vaccari com dinheiro de propinas
(segundo a ISTOÉ, o “presente” fez
parte dos R$ 87,6 milhões que a OAS pagou ao PT em troca dos R$ 6,7
bilhões em obras realizadas entre 2003 e 2015).
Ao perguntar ao depoente se o réu havia deixado algum objeto
pessoal no apartamento ― buscando provocar uma resposta negativa que, na sua
concepção, comprovaria a tese da defesa (embora o bom senso sugira que ninguém
deixa objetos pessoais num imóvel inacabado, ainda em fase de construção) ―, Cristiano Zanin, advogado de Lula, acabou involuntária e
indiretamente robustecendo a prova de que o sítio de Atibaia era mesmo do ex-presidente, dada a profusão de
objetos pessoais de Lula encontrados na propriedade, da adega de vinhos trazida
de Brasília a canecas com o logo do Corinthians,
time do coração do molusco mentiroso. Em outras palavras, o causídico foi
buscar lã saiu tosquiado.
Em determinado momento, como Pinheiro insistisse que Lula
era o proprietário do imóvel, Zanin
perguntou: O senhor entende que deu a
propriedade do apartamento para o presidente? A resposta: Eu não dei nada. O apartamento era do
presidente Lula. Desde o dia que me
passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do presidente Lula e sua família, e que eu não comercializasse e tratasse aquilo
como propriedade do presidente. Perguntado se Lula havia conversado com ele sobre o pagamento das obras, Pinheiro foi didático: nunca conversou
com Lula sobre o assunto, mas sim
com Vaccari, que era o tesoureiro do
PT. E Vaccari, depois de conversar com Lula, disse que o custo poderia ser descontado da conta do PT: Usei
valores de pagamento de propinas para poder fazer encontro de contas. Em vez de
pagar X, paguei X menos despesas que entraram no encontro de contas. Só isso.
Houve apenas o não pagamento do que era devido de propina.
Outras colaborações que desconstruíram a fábula petista
foram a de Marcelo Odebrecht ― sobre
a qual eu já tratei aqui ― e a dos marqueteiros João Santana e Monica Moura,
que detalharam como Lula, a Odebrecht e a OAS se juntaram numa agremiação criminosa que saqueou os cofres
públicos e comprou o poder tanto no Brasil quanto em Angola, El Salvador, Panamá e Venezuela. Aliás, o casal de publicitários confirmou também que a
reeleição de Lula em 2006, a eleição
Dilma em 2010 e sua reeleição em
2014 foram bancadas com dinheiro sujo, e que ambos os petistas tinham pleno
conhecimento desse fato ― tanto Lula
quanto Dilma negam os malfeitos,
naturalmente, como todos os integrantes da extensa lista de Fachin, que
repudiam as acusações e acusam os colaboradores de mentir (só não deixam claro
qual seria o propósito dessa mentira, pois é público e notório que os delatores
perdem o direito aos benefícios caso não a veracidade dos fatos delatados não
seja comprovada).
Para quem tem olhos para e um par de neurônios funcionais, Lula jamais passou de um oportunista disposto
a se dar bem, e isso desde os tempos do sindicalismo e dos protestos contra o
regime militar. Segundo o jornalista Rodrigo
Constantino, os fatos trazidos à tona pela videoteca da Lava-Jato mostram
como as pessoas foram ingênuas, como preferiram acreditar nas aparências em
detrimento da caudalosa enxurrada de evidências contrárias.
Para a imensa maioria, porém, ficou claro quem é Lula e quem ele sempre foi. Muitos dos
que nele acreditaram se sentem traídos e, como os que desde sempre enxergaram o lobo que se escondia sob a pele do
cordeiro, querem vê-lo exemplarmente punido por todo o mal que causou ao
país.
O fato de Lula
estar desmoralizado não significa que outro Lula não possa surgir das cinzas: enquanto houver gente disposta a
sacrificar os fatos em prol de suas ilusões, sempre haverá um oportunista de
plantão, pronto para explorar demagogicamente essa característica tão
intrínseca ao pouco esclarecido eleitorado tupiniquim.
Para concluir, seguem atualizações sobre a audiência em que Lula e o juiz Sergio Moro ficarão face-to-face pela primeira vez:
― A PF e a SSP do Paraná pediram o adiamento do
interrogatório, “tendo em vista notícias de possível deslocamento de movimentos
populares para a capital paranaense em virtude da semana de comemoração do Dia do Trabalhador, o que pode gerar
problemas de segurança pública, institucional e pessoal”
(mais detalhes neste
vídeo). Não há até o momento [em que eu estou redigindo este texto]
qualquer informação sobre a nova data.
― Em despacho
publicado na última segunda-feira, Moro
afirmou que irá rever a
decisão de exigir a presença de Lula nas audiências de oitiva das 87 testemunhas
arroladas por sua defesa, mas desde que seja igualmente revisto o
rol de testemunhas arroladas e discriminadas circunstanciadamente as
razões pelas quais sua oitiva é mesmo necessária, pois
poderiam ser aproveitados os depoimentos por elas já prestados. O
magistrado ressaltou que é dever do acusado
comparecer a todas as audiências, apesar do pedido da defesa do ex-presidente
afirmar que isso não é necessário.
Na verdade, Lula
montou duas estratégias: uma política, que é enviar milhares de petistas e
outros baderneiros (recrutados nas fileiras da CUT, do MST, do MTST e por aí afora) para cercar o
local do depoimento; outra, jurídica, de convocar um número astronômico de
testemunhas, visando, obviamente, atrasar o julgamento (e se o juiz Moro se recusar a ouvir essa renca, os
advogados do petralha certamente alegarão cerceamento de defesa). Cá
entre nós, como é quase impossível defender o indefensável, os advogados de sua
insolência lutam com as armas que têm. Afinal, cobram caro e precisam mostrar
serviço.
O resto fica para a próxima. Até lá.