sábado, 29 de abril de 2017

O MITO DESNUDADO ― PARTE II

A novela do triplex de Lula começou em 2009, com a quebra da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, que deixou na mão centenas de famílias ― mas não a Famiglia Lula da Silva, que tinha comprado a unidade 141. Para não prejudicar o capo di tutti i capi, o então presidente da cooperativa, João Vaccari, transferiu para a OAS a incumbência de concluir as obras do Edifício Solaris, e Leo Pinheiro destinou a Lula a cobertura 164-A, assumindo a diferença de R$ 1,15 milhão e bancando os quase R$ 900 mil cobrados pela Tallento Construtora para fazer alterações no projeto original ― que incluíram até mesmo um elevador privativo ― e decorar luxuosamente o tríplex.

Em seu depoimento, Pinheiro declarou também que Lula o mandou destruir qualquer documento que evidenciasse o pagamento do imóvel por Vaccari com dinheiro de propinas (segundo a ISTOÉ, o “presente” fez parte dos R$ 87,6 milhões que a OAS pagou ao PT em troca dos R$ 6,7 bilhões em obras realizadas entre 2003 e 2015).

Ao perguntar ao depoente se o réu havia deixado algum objeto pessoal no apartamento ― buscando provocar uma resposta negativa que, na sua concepção, comprovaria a tese da defesa (embora o bom senso sugira que ninguém deixa objetos pessoais num imóvel inacabado, ainda em fase de construção) ―, Cristiano Zanin, advogado de Lula, acabou involuntária e indiretamente robustecendo a prova de que o sítio de Atibaia era mesmo do ex-presidente, dada a profusão de objetos pessoais de Lula encontrados na propriedade, da adega de vinhos trazida de Brasília a canecas com o logo do Corinthians, time do coração do molusco mentiroso. Em outras palavras, o causídico foi buscar lã saiu tosquiado.

Em determinado momento, como Pinheiro insistisse que Lula era o proprietário do imóvel, Zanin perguntou: O senhor entende que deu a propriedade do apartamento para o presidente? A resposta: Eu não dei nada. O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do presidente Lula e sua família, e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade do presidente. Perguntado se Lula havia conversado com ele sobre o pagamento das obras, Pinheiro foi didático: nunca conversou com Lula sobre o assunto, mas sim com Vaccari, que era o tesoureiro do PT. E Vaccari, depois de conversar com Lula, disse que o custo poderia ser descontado da conta do PT: Usei valores de pagamento de propinas para poder fazer encontro de contas. Em vez de pagar X, paguei X menos despesas que entraram no encontro de contas. Só isso. Houve apenas o não pagamento do que era devido de propina.

Outras colaborações que desconstruíram a fábula petista foram a de Marcelo Odebrecht ― sobre a qual eu já tratei aqui ― e a dos marqueteiros João Santana e Monica Moura, que detalharam como Lula, a Odebrecht e a OAS se juntaram numa agremiação criminosa que saqueou os cofres públicos e comprou o poder tanto no Brasil quanto em Angola, El Salvador, Panamá e Venezuela. Aliás, o casal de publicitários confirmou também que a reeleição de Lula em 2006, a eleição Dilma em 2010 e sua reeleição em 2014 foram bancadas com dinheiro sujo, e que ambos os petistas tinham pleno conhecimento desse fato ― tanto Lula quanto Dilma negam os malfeitos, naturalmente, como todos os integrantes da extensa lista de Fachin, que repudiam as acusações e acusam os colaboradores de mentir (só não deixam claro qual seria o propósito dessa mentira, pois é público e notório que os delatores perdem o direito aos benefícios caso não a veracidade dos fatos delatados não seja comprovada).

Para quem tem olhos para e um par de neurônios funcionais, Lula jamais passou de um oportunista disposto a se dar bem, e isso desde os tempos do sindicalismo e dos protestos contra o regime militar. Segundo o jornalista Rodrigo Constantino, os fatos trazidos à tona pela videoteca da Lava-Jato mostram como as pessoas foram ingênuas, como preferiram acreditar nas aparências em detrimento da caudalosa enxurrada de evidências contrárias.

Para a imensa maioria, porém, ficou claro quem é Lula e quem ele sempre foi. Muitos dos que nele acreditaram se sentem traídos e, como os que desde sempre enxergaram o lobo que se escondia sob a pele do cordeiro, querem vê-lo exemplarmente punido por todo o mal que causou ao país.

O fato de Lula estar desmoralizado não significa que outro Lula não possa surgir das cinzas: enquanto houver gente disposta a sacrificar os fatos em prol de suas ilusões, sempre haverá um oportunista de plantão, pronto para explorar demagogicamente essa característica tão intrínseca ao pouco esclarecido eleitorado tupiniquim.

Para concluir, seguem atualizações sobre a audiência em que Lula e o juiz Sergio Moro ficarão face-to-face pela primeira vez:

― A PF e a SSP do Paraná pediram o adiamento do interrogatório, “tendo em vista notícias de possível deslocamento de movimentos populares para a capital paranaense em virtude da semana de comemoração do Dia do Trabalhador, o que pode gerar problemas de segurança pública, institucional e pessoal”
 (mais detalhes neste vídeo). Não há até o momento [em que eu estou redigindo este texto] qualquer informação sobre a nova data.

Em despacho publicado na última segunda-feira, Moro afirmou que irá rever a decisão de exigir a presença de Lula nas audiências de oitiva das 87 testemunhas arroladas por sua defesa, mas desde que seja igualmente revisto o rol de testemunhas arroladas e discriminadas circunstanciadamente as razões pelas quais sua oitiva é mesmo necessária, pois poderiam ser aproveitados os depoimentos por elas já prestados. O magistrado ressaltou que é dever do acusado comparecer a todas as audiências, apesar do pedido da defesa do ex-presidente afirmar que isso não é necessário.

Na verdade, Lula montou duas estratégias: uma política, que é enviar milhares de petistas e outros baderneiros (recrutados nas fileiras da CUT, do MST, do MTST e por aí afora) para cercar o local do depoimento; outra, jurídica, de convocar um número astronômico de testemunhas, visando, obviamente, atrasar o julgamento (e se o juiz Moro se recusar a ouvir essa renca, os advogados do petralha certamente alegarão cerceamento de defesa). Cá entre nós, como é quase impossível defender o indefensável, os advogados de sua insolência lutam com as armas que têm. Afinal, cobram caro e precisam mostrar serviço.

O resto fica para a próxima. Até lá.

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