O adiamento do depoimento de Lula ao juiz Moro tem a
ver com as manifestações que a petralhada tenciona realizar em Curitiba ou
sinaliza que o molusco pode ser preso a qualquer momento? Eis aí uma boa pergunta.
Oficialmente, a audiência foi remarcada para o próximo dia 10 porque o final de
semana prolongado pelo feriado do dia do trabalhador contribuiria para que mais
arruaceiros atendessem à convocação dos líderes vermelhos, o que dificultaria o
trabalho dos agentes da PF e da SSP encarregados de garantir a segurança do
evento. Por outro lado, há quem veja nisso uma maneira de ganhar tempo para
coletar mais provas contra o réu.
Considerando que a audiência foi marcada em meados de março,
não há que se falar em falta de tempo para a adoção das medidas preventivas por
parte das autoridades policiais. E a despeito de a tigrada de sinapse estreita
afirmar que Moro amarelou e até comemorar a desmoralização da Lava-Jato, qualquer
um que tenha olhos, ouvidos e um par de neurônios funcionais percebe que a
situação do molusco abjeto se agrava a cada dia que passa ― basta rever os
depoimentos dos marqueteiros João Santana e Monica Moura e do empreiteiro Leo
Pinheiro, que foram ouvidos pelo juiz Sergio
Moro na semana passada.
Assim como os demais delatados pelos 77 da Odebrecht, o ex-presidente protesta inocência e nega as
acusações com um fervor que beira ao fanatismo. Diz que o testemunho de Leo Pinheiro não merece crédito, pois o
empreiteiro está negociando um acordo de colaboração com a Justiça. Por alguma
razão não muito clara, o molusco desconsidera o fato de que o colaborador perde
os benefícios avençados no acordo de delação se restar comprovado que mentiu em
seu depoimento. Aliás, segundo o procurador Deltan Dallagnol, pode até ter havido omissões nas da Lava-Jato,
mas jamais se registrou um único caso em que o colaborador tenha mentido.
O fato de Leo
Pinheiro ter sido instruído por Lula
a eliminar as provas que o ligassem ao pagamento de propinas envolvendo o tríplex do Guarujá foi narrado pelo
depoente com todas as letras, mas não constitui prova suficiente para
justificar a prisão do molusco abjeto no próximo dia 10. A menos que Lula perca o controle e afronte o
magistrado ― ou que surjam provas robustas, Lula deve ser preso somente depois que a sentença de Moro for
confirmada pelo TRF da 4ª Região, o
que, pelo andar da carruagem, deve ocorrer entre o final deste ano e o início
do próximo.
Moro tem mantido
a fleuma, mesmo quando a defesa do molusco tenta tirá-lo do sério. Aliás,
arrolar nada menos que 87 testemunhas é um acinte, mais uma chicana com fins
eminentemente protelatórios. Em contrapartida, exigir que Lula compareça a cada um dos interrogatórios foi uma resposta à
altura ― só não sei até que ponto isso têm amparo legal; se o magistrado
insistir nessa condição, será acusado de perseguir o ex-presidente, como seus
defensores vêm dizendo sempre que a oportunidade se lhes apresenta.
Para o sapo barbudo, ser condenado em segunda instância no
ano que vem, a tempo de ser impedido de concorrer à presidência, seria sopa no
mel para posar de vítima e evitar correr o risco de ser derrotado. Segundo Merval Pereira, ninguém sério leva a
sério as pesquisas pra lá de tendenciosas da CUT/Vox Populi, que apontam o petralha como vencedor em primeiro
turno. Isso não passa de pressão política contra sua prisão, e ainda que assim
não fosse, é preciso ser muito ingênuo para acreditar que Lula, com todas essas acusações, especialmente depois das delações
dos executivos da Odebrecht,
conseguirá manter essa pretensa popularidade numa campanha presidencial acirrada
como a que se aproxima. O que é grave é o ambiente de confronto que está sendo
armado para o dia do interrogatório. Afinal, Lula é intocável? Está acima das leis?
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