Dois casos ilustrativos, um de cada lado, são os de Ivan Valente (PSOL-SP) e Mauro Pereira (PMDB-RS). Na votação do
impeachment de Dilma, Valente,
liderando a atuação de seu partido como linha auxiliar do PT, gritou no plenário: “Pela democracia, contra o golpe: PSOL [vota] não”. No dia em que Moro condenou Lula no caso do tríplex
do Guarujá, Valente publicou um vídeo no qual diz:
“Nós entendemos que neste
caso faltam provas materiais robustas para qualquer condenação, não há
materialidade nas provas, e também porque o juiz Sérgio Moro na verdade se descredenciou ao longo do período com uma
visão muito política, politizada, incidente sobre os fatos políticos”. Nesta
quarta, porém, o mesmo Valente que
defendeu Dilma e Lula sentenciou: "Aqueles que
querem manter Temer são coniventes
com a corrupção”.
Já Mauro Pereira,
na votação do impeachment de Dilma,
gritou: “Pela dignidade, pela esperança do povo brasileiro, eu voto sim! E viva
o Brasil! E viva o Sérgio Moro”. Nesta quarta, porém, alegou que quem votasse
contra Temer estaria votando com Gleisi Hoffmann, PT e CUT: “Vamos colocar
o Lula na cadeia, Sérgio Moro. O Lula tem de estar preso”.
Se Lula é rejeitado
por 55,8% dos brasileiros e 65,5% aprovam sua condenação (Paraná Pesquisas), e Temer é reprovado por 70% e 81% são
favoráveis à abertura de processo contra ele (Ibope), um dos poucos deputados a
vocalizar o aparente sentimento do povo foi Major Olímpio (SD-SP), tirado pelo governo da CCJ porque votaria
contra o presidente. Destaco trechos de seu discurso, no qual ressaltou que
caberia à Câmara apenas dar autorização,
em nome do povo brasileiro, para que o STF possa processar e julgar Temer com base em provas materiais e laudos periciais:
“Ladrão é ladrão e
tem que ser tratado como ladrão. Ladrão não tem partido, ladrão não tem
ideologia, não tem ladrão de direita, de centro ou de esquerda. Comportamento
do ladrão é comportamento do ladrão. E não adianta vir com essa conversa: Olha,
o PT roubou lá. O PT roubou lá junto com o PMDB, com sete ministérios do PMDB [no governo petista]. Eu fui um
dos 18 deputados trocados, porque o Temer
escolheu os seus juízes lá [na CCJ]. E foi fazer a troca porque, senão, já saía
derrotado. Agora vamos ver quem é que tem preço, quem é que está à venda por
causa de emendinha, de cargo e eventualmente das malas [de dinheiro]”.
A denúncia pode até ser menos apodítica do que pregou Olímpio ― embora as orientações dos
mandantes aos cúmplices (como mostrei neste vídeo) sejam geralmente sutis
―, mas, no circo do dia, seu discurso valeu a pipoca.
Com Felipe Moura Brasil
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