quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O MASSACRE EM LAS VEGAS E O DIREITO DE PORTAR ARMAS

Não fosse a desgraceira ocorrida em Janaúba, onde o vigia da creche Gente Inocente matou mais de dez pessoas, a maioria delas crianças pequenas, o massacre promovido em Las Vegas por Stephen Paddock ainda seria manchete na mídia e tema obrigatório nas redes sociais.

Não se sabe o que levou o contador aposentado de 64 anos, boa situação financeira e sem antecedentes criminais a matar a tiros 59 pessoas e ferir outras 527 no início deste mês, durante um festival de música, nem como ele conseguiu se hospedar no hotel portando um arsenal bélico composto de 34 armas de vários tipos. Mas, como não poderia deixar de ser, o episódio trouxe à baila ― mais uma vez ― a discussão sobre o porte de armas de fogo, que nos EUA é um direito constitucional dos cidadãos e, a julgar pelo que pensa da população americana, deve continuar assim por mais um bom tempo. 

Não vou entrar no mérito da questão, apenas salientar o fato de que armas não matam pessoas; pessoas é que matam pessoas. As armas são apenas o instrumento. Para transformar um simples faca de cozinha em arma letal, por exemplo, basta colocá-la nas mãos de alguém mal intencionado. Imagine o estrago que faria um garçom de churrascaria que, do nada, resolvesse usar a faca de fatiar carne para degolar os comensais. E aí? Vamos proibir garçons de portar facas?

Se você acha esse exemplo absurdo, vamos a outro, pinçado da vida real: no ano passado, no sul da França, mais de 80 pessoas foram mortas sem que um único tiro fosse disparado: bastou que um extremista islâmico, dirigindo um caminhão, avançasse de forma deliberada sobre a multidão que assistia à queima de fogos no orla de Nice. E aí? Vamos proibir a venda de caminhões?

Mais um exemplo, aproveitando o lamentável episódio que eu mencionei na abertura desta postagem: o tal vigia botou fogo na creche, nas crianças e nele mesmo usando gasolina. E aí? Vamos proibir a venda de combustíveis?

Observação: Em 2014, a Prefeitura Municipal de São Paulo estimulou a população a entregar armas em troca de determinada quantia em dinheiro e da garantia de que não seriam feitas perguntas sobre a origem das ditas-cujas. Como faltou combinar com a bandidagem, saíram de circulação apenas as armas que estavam em poder dos assim chamados cidadãos de bem. Mas isso é outra conversa.

A independência dos EUA foi conquistada à bala. Talvez não só por isso, mas também por isso as armas sempre foram objeto de desejo dos americanos. E se depender de Donald Trump ― que, em pronunciamento à nação logo após o atentado em Vegas, pediu união à população, mas não fez qualquer menção ao controle de vendas de armas no país ―, a coisa vai ficar como está. Aliás, um dos motivos que levou Trump à presidência foi justamente sua postura em relação a essa questão.   

Como diz um velho ditado lusitano, “em casa onde falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”.

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