segunda-feira, 9 de julho de 2018

SÃO PAULO COMEMORA HOJE O 86º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1932



Comemora-se se hoje o 86º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, e como acontece desde 1997, é feriado no estado de São Paulo (por conta disso, os paulistas têm mais um final de semana prolongado — que seria ainda maior se a seleção brasileira não tivesse sido derrotada pela belga, na última sexta-feira, mas isso já é outra conversa).

Para os que faltaram às aulas de história, a Revolução de 32 não foi exatamente um movimento separatista, mas constitucionalista, já que exigia uma nova Carta Magna. Seja como for, trata-se do maior confronto armado do século XX no Brasil, que mobilizou 100 mil homens e mulheres (entre tropas paulistas e federais) e resultou em quase 800 mortes (número superior ao das baixas contabilizadas durante a participação do Brasil na Segunda Grande Guerra).

Tudo começou quando Getúlio Dornelles Vargas, inconformado com sua derrota na eleição presidencial de 1930 e apoiado pelos mineiros, gaúchos e paraibanos, usurpou para si a presidência desta Banânia — isso, sim, foi um golpe de estado como manda o figurino, ao contrário do impeachment de certa ex-presidanta incompetenta, que foi constitucionalmente expelida do Planalto devido ao nefasto conjunto de sua obra, embora o “motivo oficial” tenha sido o crime de responsabilidade representado pelas famosas “pedaladas fiscais”.

Até o início da “Segunda República” — ou “Era Vargas” —, o Brasil era regido pela “política do café com leite”, assim chamada devido ao fato de oligarquias de São Paulo e Minas Gerais se revezarem na presidência do País. Ao tomar o poder, o tiranete de São Borja dissolveu os congressos estaduais e municipais e nomeou interventores nos estados, o que desagradou a elite paulista. 

Vale frisar que São Paulo concentrava a cultura do café, responsável pela maior parte do orçamento do País, e os grandes fazendeiros não viram com bons olhos a legislação trabalhista articulada pelo ditador, a quem atribuíram — a ele e aos que o apoiavam — a pecha de “comunista”.

Com a “Nova República, as relações entre São Paulo e o governo federal se tornaram cada vez mais tensas e marcadas pela insatisfação dos paulistas, que não só se viram obrigados a “engolir” os interventores, mas também perderam o controle sobre as decisões referentes à política econômica — o que afrontou os cafeicultores. Mas o acirramento atingiu seu ápice com a nomeação de um interventor, que deveria ser civil e paulista, segundo as exigências das forças políticas agregadas na Frente Única. 

No dia 23 de maio (que hoje dá nome a uma das principais avenidas de Sampa), quando seria anunciado o secretariado de Pedro de Toledo (que empresta o nome a uma rua e um viaduto aqui na capital), formou-se um monumental comício na Praça do Patriarca. Parte dessa multidão, inflamada, dirigiu-se ao Palácio dos Campos Elísios, onde seria feito o anúncio. Na confusão, jornais getulistas foram atacados e o tumulto resultou na morte de 13 pessoas, além de muitos feridos. Entre os mortos estavam os estudantes Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, alçados à condição de símbolos do movimento por meio da sigla “MMDC” (que os menos informados tomam pela representação do número 2.600 em algarismos romanos). 

Observação: O Obelisco do Ibirapuera — um dos monumentos mais emblemáticos de São Paulo, inaugurado em 1955 e batizado oficialmente de Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32 — faz referência à revolução. Lá estão sepultados os corpos dos quatro “mártires da revolução” e de outras 713 pessoas que sucumbiram na luta contra a ditadura de Vargas.

A revolução eclodiu na noite de 9 de julho terminou a 1º de outubro, com a rendição dos paulistas. Nesse interregno, centenas de combatentes se alistaram, indústrias se mobilizaram para oferecer armamentos e a população se uniu na chamada campanha do Ouro para o Bem de São Paulo. Vargas, numa tentativa de aproximação com a elite local, nomeou para a chefia do governo do estado o paulista civil Armando de Sales Oliveira, engenheiro, empresário e cunhado de Júlio de Mesquita Filho, herdeiro do fundar do jornal O Estado de S. Paulo — publicação que existe até hoje e que também se envolveu ativamente na revolução de 1932.

O tão falado viés separatista foi secundário, mas nem por isso deixou de existir. De acordo com a historiadora Ilka Stern Cohen, figuras proeminentes na década de 1930, como o escritor Monteiro Lobato, o historiador Alfredo Ellis Junior e o advogado e poeta Tácito de Almeida, eram separatistas. Mas a verdade é que, para combater a revolução, Vargas, numa jogada política que visava obter o apoio de outros estados, classificou o movimento de separatista.

Desde 1822, quando o Brasil se libertou do jugo português, vez por outra surgem movimentos separatistas aqui e acolá. Segundo o site do Movimento São Paulo Livre — que luta por tornar o estado uma unidade independente —, existem documentos que comprovam que o rei de Portugal era alertado para vigiar de perto os paulistas, devido a seu “excessivo amor à liberdade”. 

De um tempo a esta parte, cada vez mais iniciativas que tais despontam no horizonte, não havendo estado ou região que não esteja nos planos de independência de algum grupo: Sul, Nordeste, Norte, São Paulo, Rio, Minas, Ceará, Roraima... e até mesmo o Distrito Federal.

Curiosamente, embora todos esses grupos pugnem por separar seus estados ou regiões dos demais, alguns pontos em comum os levam a se unir pela mesma causa, qual seja lutar pela independência regional ou estadual, hoje proibida por cláusula pétrea Constituição Federal (ou seja, que não pode ser modificada). 

Em 2016, movimentos separatistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Roraima, Paraná e Rio Grande do Sul formaram a Aliança Nacional, cujo objetivo é criar um partido para mudar a Constituição e permitir a independência. Em junho do ano passado, nove grupos publicaram o Manifesto dos Movimentos Independentistas do Brasil, assinado por representantes de entidades que defendem a separação das regiões Sul, Nordeste e Norte e os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

Para os separatistas paulistas, São Paulo é a “locomotiva do Brasil”; as Bandeiras que desbravaram o sertão saíram daqui; o grito de independência, atribuído a D. Pedro I, foi dado às margens do Riacho do Ypiranga (onde hoje fica o Parque da Independência, na zona sul de Sampa), e por aí afora. Durante a primeira república, São Paulo era indubitavelmente a unidade mais próspera, desenvolvida e importante da Federação, e a mim me parece que pouco ou nada mudou desde então. Mas isso já é outra conversa e fica para uma próxima vez.

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