terça-feira, 18 de junho de 2019

SENHAS — UM MAL NECESSÁRIO



O GOVERNO NÃO É PARTE DA SOLUÇÃO. O GOVERNO É O PROBLEMA. 

Houve um tempo em que não havia muro separando o jardim das casas do passeio público, e o maior risco que os moradores corriam era o de topar com obras caninas no gramado ou dar falta de uma flor. Mas isso é coisa do passado. Hoje, a insegurança campeia solta, obrigando-nos a trancar tudo a chave no mundo real e a recorrer às senhas no virtual.  

Senhas são expressões alfanuméricas destinadas a resguardar nossa privacidade e aprimorar nossa segurança no uso de dispositivos computacionais. Do logon no Windows ao acesso ao webmail, das cômodas compras em lojas virtuais às inevitáveis transações financeiras via netbanking, usamos senhas para tudo, sem prejuízo de outras medidas de segurança adicionais, cuja abordagem foge aos propósitos deste post.

Como tudo mundo sabe, deveria saber ou ainda vai descobrir (possivelmente da pior maneira), as senhas devem ser “fortes”, mas fáceis de memorizar. De nada adianta criar uma palavra-chave complexa se for preciso anotá-la num post-it e colá-lo na borda do monitor (e o pior é que ainda tem quem faz isso). Tampouco se deve usar a data de nascimento, a placa do carro, o número do telefone, do RG, o CPF e outras obviedades chapadas. Ou usar a mesma senha para múltiplos propósitos (logon no sistema, no webmail e no serviço de netbanking, por exemplo).  

Isso nos deixa às voltas com dúzias de senhas, que, somadas às do cartão do banco, do cartão de crédito e tantas outras, praticamente impossibilitam a memorização. Claro que sempre podemos recorrer a alguns truques — como os que eu já abordei aqui no Blog em diversas oportunidades; basta digitar termos como “senha” ou “segurança digital” na caixa de pesquisas e clicar na pequena lupa para conferir —, mas eles resolvem somente uma parte do problema, pois, além de ter as senhas na ponta da língua (ou na ponta dos dedos, melhor dizendo), precisamos saber ao que cada uma delas dá acesso. E é aí que a porca torce o rabo.

Foi-se com os jardins sem muros o tempo em que os hackers de fundo de quintal  passavam noites em claro testando as combinações mais prováveis. Hoje, a Web está coalhada de programas de “força bruta”, que testam automaticamente uma sequência interminável de possibilidades — com letras, números e símbolos — até encontrar a correta. 

Obviamente, quanto mais curta e simples for a senha, mais rapidamente ela será descoberta. Para se ter uma ideia, um ataque considerado leve pelos especialistas em segurança — com 10 mil guesses por segundo — demoraria 14 anos para quebrar uma senha composta de 9 das 26 letras do alfabeto, todas minúsculas e sem repetição. Já um ataque moderado — com 1 bilhão de guesses por segundo —, faria esse trabalho em pouco mais de uma hora. Já uma senha com 20 dígitos levaria 63 quatrilhões de anos para ser quebrada por um ataque leve, e respeitáveis 628 bilhões de anos para ser descoberta através de um ataque moderado. E a dificuldade aumenta à medida que combinamos letras maiúsculas e minúsculas com algarismos e caracteres especiais (-, %, &, $, #, @ etc.).

Por essas e outras:

— Evite opções como “123456” (talvez a combinação mais usada em todo o mundo), “password”, “admin”, “qwerty”, “abc123” e outras que tais, pois isso é o mesmo que trancar a porta e deixar a chave na fechadura.

— Para criar uma senha forte, mas fácil de memorizar, use uma frase, um trecho da letra de uma música ou um verso de um poema. Ou aproveite apenas as sílabas iniciais de cada palavra, alternando letras maiúsculas e minúsculas e entremeando algarismos e outros caracteres. Assim, a partir de “batatinha quando nasce se esparrama pelo chão”, teríamos “bAqusNnaSsEeSpEchA, ou ainda bA1quaN2naS3sE&eS#pE@chA” .

De novo, isso resolve parte do problema, pois, como dito, não devemos reaproveitar a mesma senha para diversas finalidades. Então, mesmo que as criemos a partir dos versos de um poema, dificilmente seremos capazes de lembrar qual delas dá acesso ao quê. Seria como andar com dezenas de chaves num chaveiro e experimentá-las, uma a uma, em cada fechadura ou cadeado que desejarmos destrancar. Daí ser recomendável recorrer a um gerenciador de senhas.

Para na encompridar demais este texto, tratarei dessa questão no próximo post.