NINGUÉM É
VELHO DEMAIS PARA APRENDER NEM NOVO DEMAIS PARA ENSINAR.
Há exatos 20 anos, o mundo roía as unhas na expectativa da "virada
do milênio", que supostamente enlouqueceria todos os computadores quando
os relógios saltassem as 23h59 para 00h00 e os calendários,
de 31/12/99 para 01/01/00, data que as máquinas interpretariam como
1º de janeiro de 1900.
Todo computador dispõe de um relógio interno e depende dele
executar corretamente um sem-número de tarefas — como verificar se sua conta de
telefone venceu, por exemplo, ou se está na hora de ligar a iluminação pública.
Devido ao assim chamado "bug do
milênio", os servidores das empresas de telefonia poderiam entender
que os clientes estariam devendo 100 anos de serviço, o que provavelmente
resultaria na suspensão da linha e na cobrança de multas e juros que eles não
conseguiriam pagar nem que vivessem outros 100 anos. No caso das luzes, a
cidade poderia ficar às escuras se o programa interpretasse que o dia seguinte
ainda não havia chegado — e jamais chegaria, a menos que alguém lhe explicasse
que 00 é maior que 99.
Lá pelos idos de 1950, quando os primeiros computadores
foram criados, a quantidade de dados que os monstruosos mainframes eram capazes
de adicionar caberia num prosaico disquete de 1,44 MB (tipo de mídia que só seria criada décadas depois), e escrever
o ano com dois dígitos em vez de quatro representava uma economia colossal. Além
disso, achava-se que até o ano 2000 os programas de então teriam sido aposentados,
o que, de fato, aconteceu, mas pouca gente se deu conta de que os novos continuaram
a registrar o ano com dois dígitos para manter compatibilidade com os antigos.
Noves fora algumas intercorrências pontuais, o bug do milênio foi muito peido e pouca
bosta. Houve falhas em terminais de ônibus na Austrália, em equipamentos de
medição de radiação no Japão e em alguns testes médicos na Inglaterra. Alguns
sites da Web mostraram a data 1/1/19100. Mas isso não evitou que o pânico se
espalhasse mundo afora nem que fossem gastos cerca de US$ 300 bilhões em medidas preventivas.
Em Brasília, montou-se uma “sala de situação” do setor
elétrico para eventuais distúrbios no fornecimento de energia; o governo
paulista criou um site para acompanhar os efeitos da “catástrofe” (havia
preocupação em áreas-chave, como saúde, segurança pública, transportes,
recursos hídricos e administração penitenciária) e a prefeitura da capital
colocou 2700 funcionários da CET em standby no Réveillon, diante da possibilidade de panes em semáforos ou congestionamentos anormais. Quando os relógios deram meia-noite e nada de incomum aconteceu, os servidores foram desmobilizados e puderam curtir a virada do século, ainda que com algum atraso.
Como não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine,
em 2038 os processadores de 32-bit perderão
a capacidade de contar o tempo. O busílis da questão (como eu havia adiantado nesta
postagem de 2017) é a limitação da arquitetura de 32-bit, que atingirá seu ápice às 3 horas, 14 minutos e 5 segundos de 19 de março de 2038. Mais ou
menos da mesma forma que se previa que acontecesse na virada do século, as
máquinas não conseguirão diferenciar 2038 e 1970, o primeiro ano no qual todos
os sistemas atuais passaram a medir o tempo.
Continua na postagem de amanhã.