NUNCA DESISTA
DO SEU SONHO. SE ACABOU NUMA PADARIA, PROCURE EM OUTRA!
Em sua
edição “original”, o Bug do Milênio
decorreu do formato da data (DD/MM/AA)
que os programadores vinham usando desde sempre, embora o latido tenha sido bem
pior do que a mordida (detalhes nesta postagem). Já na edição
revista e atualizada, prevista para janeiro de 2038, o problema é outro (aliás,
a questão da data poderá trazer novos aborrecimentos na virada do ano de 9999
para 10000, mas não faz sentido nos preocuparmos com isso, pois nenhum de nós
estará por aqui na data aprazada.
Voltando a
2038 ― se é que “voltar” se aplica ao caso em tela ―, o tal “bug” se deve à maneira como os
processadores dos computadores contam o tempo. Para entender isso melhor, primeiro
é recomendável relembrar alguns conceitos sobre a base binária ― que você pode conferir nesta
postagem ―, até porque, sabendo o que são bits, bytes e seus múltiplos,
fica mais fácil compreender o que será visto a seguir.
No alvorecer
da computação pessoal, os processadores eram de 16-bit ― grandeza que remete ao tamanho de seus registradores.
Colocando a coisa de forma bem simples, o “registro” do chip é o “local onde
ele armazena os ‘endereços’ dos dados que precisa acessar para processar os
dados”. Na arquitetura de 16-bit, a
capacidade dos chips é limitada a 65.539
“endereços diferentes”, ao passo que na de 32-bit,
que se tornou padrão no final do século passado, essa capacidade aumentou para
respeitáveis 232, que
corresponde a 4.294.967.295 “endereços”.
Uma evolução e tanto, mas insuficiente: metade desses “endereços” é usada pelo
chip na contagem do tempo ― que teve início em 1º de janeiro de 1970 ―, e 2.147.483.647 segundos nos levam até 1º de janeiro de 2038 (mais exatamente
às 03h14min08s desse dia).
Não se sabe
exatamente como os sistemas computacionais irão se comportar quando atingirem
esse limite; é possível que alguns continuar a funcionar com a data incorreta
(se a contagem for zerada e reiniciada), mas os que dependem da data precisa
para executar suas tarefas certamente entrarão em colapso. Aliás, essa limitação
da arquitetura de 32-bit é responsável
também pelo fato de esses processadores não “enxergarem” mais de 4 GB de RAM, inobstante a capacidade dos pentes instalados ― atualmente,
computadores de configuração mediana integram 8 GB ou mais de memória física, mas essa “fartura” só faz diferença caso eles disponham de chips de 64-bit, capazes de gerenciar nada menos que 264 endereços, que correspondem, na base decimal, a mais
de 18 quintilhões (ou 18.446.744.073.709.551.616, para ser
exato). Em tese, essa arquitetura permite gerenciar mais de 17 bilhões de gigabytes de RAM, embora
a maioria dos PCs de grife que a gente encontra no mercado raramente suportam
mais que 64 GB.
Há tempos
que os processadores, sistemas operacionais e uma quantidade significativa de
aplicativos são “de 64-bit”. O Windows é disponibilizado em versões de
64-bit desde 2005, e o Mac OS X, desde 2011, mas diversos
sistemas usados na operação de servidores (como o Unix) ainda são baseados na anacrônica arquitetura de 32-bit ― espera-se que eles sejam
modernizados nos próximos 21 anos, até porque é bem provável que, nesse
entretempo, chips de 32-bit se
tornem peças de museu.
MONTESQUIEU NÃO CHEGOU AO BRASIL ― Por Marco Antonio
Villa.
Nunca na história recente da democracia brasileira o
desequilíbrio os Poderes esteve tão evidente. Juízes, desembargadores e ministros ocupam o
primeiro plano da cena política. São os atores principais. Abandonaram os autos
dos processos. Ocupam os microfones com naturalidade. Discursam como políticos.
Invadem competências de outros poderes, especialmente do Legislativo. No caso
do Supremo Tribunal Federal, a situação é ainda mais grave. Aproveitando-se da
inércia do Congresso Nacional, o STF legisla como se tivesse poder legal para
tal, interpreta a Carta Magna de forma ampliada, chegando até a preencher
supostas lacunas constitucionais. Assumiu informalmente poderes constituintes e
sem precisar de nenhum voto popular. Simplesmente ocupou o espaço vazio.
O projeto criminoso de poder petista ao longo de 13 anos
destruiu a institucionalidade produzida pela Constituição de 1988. Cabe
registrar que até então não tínhamos um pleno funcionamento das instituições.
Contudo, havia um relativo equilíbrio entre os poderes e um respeito aos
limites de cada um. Mas este processo acabou sendo interrompido pelo PT.
O petrolão foi apenas uma das faces deste projeto que
apresou a estrutura de Estado. E que lá permanece. Depois de quase um ano da
autorização para a abertura do processo do impeachment, pouco ou nada foi feito
para despetizar a máquina governamental. Pedro
Parente, quando assumiu a presidência da Petrobras, afirmou que havia uma
quadrilha na empresa. Porém, o tempo passou e nada foi apresentado. O que
sabemos sobre a ação do PT e de partidos asseclas na empresa deveu-se à ação da
Justiça. Foram efetuadas investigações internas? Funcionários foram punidos? Os
esquemas de corrupção foram eliminados? A empresa buscou ressarcimento do
assalto que sofreu? Como explicar que bilhões foram desviados da Petrobras e
seus gestores não foram sequer processados?
Se a nova direção da Petrobras foi omissa, o mesmo se aplica
a um dos pilares do projeto criminoso de poder petista, o BNDES. Foi um
assalto. Empréstimos danosos ao interesse público foram concedidos sem qualquer
critério técnico. Bilhões foram saqueados e entregues a grupos empresariais
sócios do PT. Porém, até o momento, Maria
Silvia Bastos Marques não veio a público expor, ainda que sucintamente, a
situação que encontrou ao assumir a presidência do banco. E os empréstimos a
Cuba? E às republicas bolivarianas? E para as ditaduras da África negra?
Não é possível entender o silêncio das presidências da
Petrobras e do BNDES. Por que não divulgam a herança maldita que receberam?
Desinteresse? Medo? Não é politicamente conveniente? Por que os brasileiros só
tomaram — e continuam tomando — conhecimento das mazelas da Petrobras e do
BNDES através dos inquéritos e processos judiciais? Por que os presidentes,
ex-diretores e demais responsáveis não foram processados pelos novos gestores?
Se o Executivo continua refém da velha ordem, o mesmo se
aplica ao Legislativo. O Congresso Nacional se acostumou ao método petista de
governar. Boa parte dos parlamentares foram sócios da corrupção. Receberam
milhões de reais indiretamente do Estado. Venderam emendas constitucionais,
medidas provisórias, leis e até relatórios conclusivos de comissões
parlamentares de inquéritos. Tudo foi mercantilizado. E os congressistas
participantes do bacanal da propina lá continuam. Desta forma, diversamente de
outros momentos da nossa história (1961, 1964 e 1984-85), o Congresso não tem
voz própria na maior crise que vivemos. Quais deputados e senadores poderão se
transformar em atores à procura de uma solução política? Quem tem
respeitabilidade? Quem fala em nome da nação?
Tanto no Executivo como no Legislativo a velha ordem se
mantém com apenas pequenas alterações. Colaboradores ativos do petismo, sócios
entusiasmados do maior saque estatal da nossa história, ocupam importantes
postos nos dois poderes. Há casos, como o de Leonardo Picciani, que seriam incompreensíveis a algum analista
estrangeiro que não conhecesse a hipocrisia da política brasileira. O deputado
votou contra a abertura do processo do impeachment e, mesmo assim, foi premiado
com o cargo de ministro do novo governo. Boa parte da base parlamentar que
sustentou os governos criminosos do PT agora apoia Michel Temer, sem, em momento algum, ter efetuado alguma
autocrítica.
É justamente devido às contradições dos outros dois poderes
que o Judiciário acabou invadindo o espaço que constitucionalmente não é o seu.
Isto não significa que opere sem divergências. Pelo contrário. Basta recordar
os constantes atritos entre os responsáveis pela Lava-Jato e alguns ministros
do STF, o que também não é recomendável.
O que é inquestionável é o desequilíbrio entre os poderes.
Mais ainda, a supremacia do Judiciário. É um desserviço ao Estado democrático
de Direito o enorme poder dos juízes, também porque, mas não apenas por isso,
sequer receberam um voto popular. E continuam incólumes ao controle
democrático. O que diria o Barão de
Montesquieu de tudo isso?
Marco Antonio Villa é historiador
Bom feriadão a todos.
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