sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

IRÃ, LULA E BOLSONARO



Sobre a desinteligência entre os EUA e o Irã, Lula, o fala-merda de plantão — de quem só nos livraremos quando ele morrer com a boca cheia de formigas —, acusou Jair Bolsonaro de ser um "lambe-botas" de Donald Trump. O escólio até faz sentido, mas, considerando quem é seu autor, eu prefiro não comentar, como diria Copélia — personagem de Arlete Salles no humorístico global "Toma Lá Dá Cá". Portanto, passo a palavra a Josias de Souza, que o faz com incomparável maestria. Confira:

Num instante em que Estados Unidos e Irã operam para evitar que a crise no Oriente Médio evolua para uma guerra aberta, Bolsonaro e Lula travam no Brasil um conflito prosaico. A dupla guerreia em torno do ridículo. Em publicação nas redes sociais, Lula disparou contra o alinhamento do governo do capitão à política belicista do atual presidente americano: "...O Bolsonaro não faz a menor questão de não ser um lambe-botas do Trump".

Em transmissão ao vivo, Bolsonaro contra-atacou no Facebook. Lembrou a proximidade do criminoso petista com o então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e insinuou que o rival apoiou o projeto do Irã de obter a bomba atômica: "O senhor Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto presidente da República, esteve no Irã. E lá defendeu que aquele regime pudesse enriquecer urânio acima de 20%, que seria para fim pacífico".

Bolsonaro deixou-se filmar defronte de um aparelho de TV. Assistia ao pronunciamento em que Trump celebrava como vitória a ausência de cadáveres no ataque do Irã a duas bases militares americanas no Iraque. Na sequência, esgrimindo exemplar da Constituição, nosso indômito capitão repetiu a menção a Lula antes de ler um trecho do artigo quarto: "A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: a defesa da paz e no repúdio ao terrorismo".

Deu-se em 2010 o episódio evocado por Bolsonaro. Nele, Lula se autoconverteu em piada ao posar de negociador de um acordo entre Irã e Estados Unidos. Diferentemente do que disse Bolsonaro, serviria para evitar a produção da bomba. Previa o seguinte: o Irã enviaria para a Turquia 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%. E receberia de volta 120 quilos de combustível enriquecido a 20% — o suficiente apenas para produzir energia nuclear para fins pacíficos. O diabo é que Lula foi ignorado por Barack Obama.

Inquilino da Casa Branca na época, Obama deu uma banana para o colega brasileiro e impôs sanções econômicas ao Irã. Ele "traiu o bom senso", lamuriou-se Lula nesta quarta-feira. Ironicamente, Obama lideraria em 2015 um acordo nuclear com o Irã que seria rompido por Trump em 2018. O mesmo Trump que, neste alvorecer de 2020, ordenou o ataque aéreo com drone que carbonizou o general iraniano Qassem Soleimani.
O governo Bolsonaro aplaudiu a execução do general do Irã. Fez isso por meio de uma nota que tratou o assassinato como parte do esforço contra o "flagelo do terrorismo". O capitão antipatizou-se de graça com o regime persa dos aiatolás. Deu as costas para a tradição de neutralidade da diplomacia brasileira. De quebra, ignorou o interesse nacional, pois o Irã compra anualmente mais de US$ 2 bilhões em produtos agrícolas do Brasil.

Trump atribuiu ao apoio de Bolsonaro a mesma relevância que Obama atribuíra ao ímpeto negociador de Lula: Nenhuma. No contexto conflagrado do Oriente Médio, o capitão e a divindade petista têm a aparência de um par de asteriscos. Ao transformar sua desimportância em munição, a dupla escancara a tragédia de um país em que os dois polos que dominam a política perderam a dimensão do ridículo.