quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

COISAS DO PAÍS DO FUTURO QUE NUNCA CHEGA



O Brasil está em plena campanha eleitoral. Não falo das eleições municipais de outubro próximo, cujo cenário ainda é incerto e os candidatos sequer começaram a aquecer os motores, mas da sucessão presidencial, que, se o imprevisto não tiver voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, ocorrerá somente daqui a 30 meses.

Bolsonaro, que durante a campanha prometeu pôr fim à reeleição para os cargos de presidente, governador e prefeito, mal subiu a rampa do Palácio e se declarou candidatíssimo a um segundo mandato. No canto oposto do tablado, o criminoso Lula — condenado em três instâncias no caso do tríplex, em duas no do sítio de Atibaia, réu em mais sete ou oito processos, inelegível à luz da Lei da Ficha-Limpa (que ele próprio sancionou no apagar das luzes de seu segundo mandato) e que só deixou a prisão graças à despudorada “hermenêutica criativa” da facção pró-crime do STF, deve escalar o bonifrate Haddad para representá-lo no pleito, a menos que até surja outra "liderança" petista disposta a se sujeitar ao papel de boneco de ventríloquo. O que é difícil, até porque, desde que fundou o partido em fevereiro de 1980, Lula é o PT e o PT é Lula.

Ao longo de 40 anos, o criador do partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam comandou a quadrilha como um rei absolutista, avesso a delegar poderes por receio de algum acólito se sobressair a ponto de lhe fazer sombra. Agora, o eterno presidente de honra da agremiação criminosa colhe os frutos amargos que ele próprio semeou, como se viu nas eleições de 2016 e 2018.

Poder-se-ia dizer que o PT é o Circo Marambaia, e Lula, o palhaço sem graça, mas a prudência recomenda muita calma nessa hora. O eleitorado tupiniquim não prima pelas melhores escolhas — e nem poderia, já que é composto majoritariamente de apedeutas, analfabetos funcionais e desinformados de quatro costados —, sem mencionar que na política o cenário muda como mudam as nuvens no céu. Por outro lado, em entrevista à revista eletrônica Conjur, Lula disse que “voltar à Presidência da República não é mais uma obsessão, e que, “embora não descarte a possibilidade de se candidatar” (o que só seria possível se a Lei da Ficha-Limpa fosse revogada ou os processos em que ele foi condenado fossem anulados), prefere dar lugar a políticos mais novos. Haddad fez uma campanha maravilhosa, é 1 cara muito preparado. Agora, quero chegar às eleições de 2022 com muita influência política. Disso, não abro mão, asseverou o deus pai da Petelândia.

Se o pleito presidencial fosse hoje e Sérgio Moro concorresse à presidência, é bem provável que ganhasse de lavada. Mas é bom lembrar que, segundo as mesmas pesquisas que atestam o enorme apreço da população pelo ex-juiz da Lava-Jato, a pastora evangélica Damares Alves — que Bolsonaro escolheu para comandar a pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos — também aparece entre os nomes mais populares entre os integrantes da Esplanada dos Ministérios (durma-se com um barulho desses).

Pôr fim à reeleição não foi a única bandeira que o então candidato Jair Bolsonaro agitou aos quatro ventos ao longo da campanha e enfiou com mastro e tudo em local incerto e não sabido ao ser eleito e subir a rampa do Palácio. Aliás, o mesmo Bolsonaro que aliciou Sérgio Moro com a promessa de lhe dar carta-branca no combate à corrupção e indicá-lo para a próxima vaga que se abrir no STF — chegando mesmo a dizer que bom seria se houvesse “onze sérgios moros no Supremo” — agora submete o ex-juiz da Lava-Jato a um humilhante processo de fritura política, talvez por ter receio de “deixar a árvore do quintal do vizinho crescer a ponto de fazer sombra em seu próprio quintal”.

Depois de dizer que pretende indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF (possivelmente o advogado-geral da União, André Mendonça, que, segundo as más-línguas, é um puxa-saco de Dias Toffoli), o capitão resolveu testar a paciência de Moro alardeando a suposta intenção de fatiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública e deixar o ex-juiz responsável pela pasta da Justiça — aliás, nada muito diferente da estratégia que o capitão vem utilizando com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, conforme vimos nesta postagem.

Observação: Os ministros Celso de Mello — que está licenciado por problemas de saúde — e Marco Aurélio Mello atingirão a idade em que a aposentadoria dos membros dos tribunais superiores é compulsória em novembro próximo e julho do ano que vem, respectivamente, dando a Bolsonaro a chance de indicar dois nomes para o Supremo durante a atual gestão. Mas nada nada impede que outro togado antecipe voluntariamente seu desligamento (como fez Joaquim Barbosa em julho de 2014) ou bata a cachuleta (como aconteceu com Teori Zavascki em janeiro de 2017). Enfim, vamos dar tempo ao tempo.

Vale frisar que desde o restabelecimento das eleições presidenciais pelo voto direto, apenas o Vampiro de Jaburu teve a brilhante ideia de fatiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, “esvaziando” a pasta da Justiça, comandada por Torquato Jardim, e empoderando Raul Jungmann, que ficou responsável pela Segurança Pública.

Os atritos entre Bolsonaro e Moro não vêm de hoje, mas se intensificaram depois da reunião do presidente com secretários estaduais de Segurança, que não contou com a presença do ministro. Moro disse a aliados, na ocasião, que deixaria o governo se a manobra realmente fosse adiante, mas a reação de seus apoiadores gerou forte pressão nas redes sociais, levando o capitão a engavetar a ideia. Durante sua viagem à Índia, ao ser inquirido pelos repórteres sobre a cisão da pasta, Bolsonaro respondeu: "A chance no momento é zero, tá bom? Não sei amanhã, na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Em segurança pública, os números demonstram que estamos no caminho certo. E é a minha máxima, né, em time que está ganhando não se mexe".

O recuo amenizou a situação, mas não dissipou as teorias sobre o futuro de Moro no governo e na política. Segundo o InfoMoney, o receio de o ministro se demitir e concorrer à presidência em 2022 levou o Bolsonaro a recolocá-lo no topo da lista dos preferidos para ocupar a vaga do decano Celso de Mello no STF. A ideia de manter Moro no governo até 2022 e convidá-lo para ser vice em sua chapa também cruzou a mente do capitão, mas, como dito linhas atrás, o problema é que a popularidade do ministro supera a do próprio presidente. No entanto, como dizia o saudoso Magalhães Pinto, "política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, você olha de novo e ela já mudou".