Hoje, 2 de fevereiro, adeptos da Umbanda e do Candomblé saúdam Yemanjá, a rainha do mar, e Oxum, a deusa das águas doces. Fica aqui minha homenagem a ambas as Orixás. Dito isso, passo à postagem do dia:
Bolsonaro emitiu todos os sinais de que gostaria que Onyx
Lorenzoni pedisse para sair, mas a ficha não caiu, e então o presidente
passou a cogitar a transferência do aliado — uma solução simples, mas errada, pois
o correto seria sanar a ineficiência, não mudá-la de lugar.
O governo faz água em diversos ministérios, e a Casa
Civil é apenas um deles. Mas não se deve atribuir toda a
responsabilidade aos ministros que se encontram na berlinda. Inobstante o nome
do problema — Lorenzoni, Weintraub, Salles ou Zé das
Couves —, num regime presidencialista, o presidente preside e os ministros
seguem suas decisões. Iniciada a partida, o ministro cuja movimentação em campo
não coincide com a tática do presidente é defenestrado, e se o presidente
determina a execução de movimentos contrários ao que estava combinado, é o
ministro quem pede para sair. Nesse tipo de jogo, trocar o plugue de tomada não evita o curto-circuito, apenas altera o local do choque.
Humilhado pelo
presidente, Lorenzoni, antecipou seu retorno das férias no mundo
encantado da Disney. Ao desembarcar em Brasília, contrariando conselhos
de amigos e correligionários, avisou que não pensa em deixar o governo. Ou seja:
não podendo elevar a própria estatura, decidiu rebaixar o pé-direito do seu
gabinete. Diz não acreditar que Bolsonaro tencione demiti-lo. Se estiver certo, seu
maior desafio será encontrar algo com o que se ocupar: depois de transferir a
coordenação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo e
o serviço de controle sobre a legalidade dos atos assinados pelo presidente para a Secretaria-Geral, o capitão informou pelo Twitter
que transferirá para o Ministério da Economia a gestão do Programa de
Parcerias de Investimentos, a única atribuição relevante que restou à pasta
de Onyx.
A mutilação dos
poderes da Casa Civil foi iniciada meados de 2019 e concluída na última quinta-feira,
nas pegadas do caso que envolveu o uso de avião da FAB por Vicente
Santini, o ex-número 2 do ministério, que em apenas 48
horas foi demitido e recontratado para um cargo cujo contracheque (R$ 16.944) era quase do mesmo tamanho do anterior (R$ 17.327). Esperava-se que a reacomodação fosse feita discretamente, sem os tambores de uma nota oficial, mas, fustigado nas redes sociais, Bolsonaro correu para o Twitter e, num único post, demitiu Santini pela segunda vez e Fernando Moura, um adjunto de Lorenzoni que havia assumido interinamente o comando da Casa Civil.
Nem o próprio Bolsonaro
acredita na lorota de que seu ministério, por "eficiente", dispensa
reforma. A questão é que, quando uma peça dá defeito, ele prefere “acochambrar”, instalando uma gambiarra, talvez porque uma
solução definitiva exigisse o manuseio de um instrumento indisponível na sua
caixa de ferramentas: a autocrítica. Na área do meio
ambiente, por exemplo, o capitão só agiu quando o ambiente inteiro já
estava conspurcado pelo escárnio governamental. Os maiores fundos de
investimento do planeta avisaram: mantido o descaso com a proteção da floresta
amazônica, não haveria como investir no Brasil. Em resposta, em vez de demitir Ricardo
Salles do ministério do Meio Ambiente, Bolsonaro desligou-o
temporariamente da tomada e anunciou a criação do Conselho da Amazônia e
da Força Nacional Ambiental, que serão coordenados pelo vice Hamilton
Mourão (ainda não há clareza quanto à forma, o conteúdo e os custos, ou
seja, o plano de voo virá somente após a decolagem), cuja primeira iniciativa
será tentar desobstruir o duto por onde escorriam as verbas milionárias que Noruega
e Alemanha aportavam no Fundo Amazônia antes do transe
antiambiental que se instalou em Brasília.
Na pasta de Lorenzoni a tática da gambiarra foi levada às fronteiras do paroxismo: Como dito linhas atrás, o presidente, insatisfeito com o
desempenho do auxiliar, retirou da Casa Civil o
pilar da coordenação política, que transferiu para a Secretaria de Governo,
e a viga do controle jurídico dos atos presidenciais, que repassou à Secretaria-Geral
da Presidência. Agora, atendendo a uma solicitação de Paulo Guedes, transferiu
para o ministério da Economia o Programa de Parcerias de Investimentos,
tornando a pasta uma superestrutura pendurada no ar.
Nada mudou, disse Lorenzoni
a correligionários, sem se dar conta de que, no seu caso, nada é uma palavra
que ultrapassa tudo. No momento, seu ministério é uma espécie de elefante
que Bolsonaro eletrocutou sem calcular a dificuldade que teria para remover
o cadáver. Propagou-se no Planalto a informação de que, em nova gambiarra
canhestra, o capitão acomodaria a inépcia de Onyx na pasta da Educação,
hoje preenchida pela incompetência de Abraham Weintraub. Na sexta-feira,
depois de interromper uma entrevista para não ter que falar sobre o futuro de Lorenzoni, Bolsonaro postou em suas redes sociais uma foto na qual aparece ao lado de Weintraub,
seu auxiliar mais "imprecionante". Na legenda, apenas um
enigmático "boa noite a todos".
Com Josias de
Souza.