sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

O GOVERNO EM CURTO-CIRCUITO



Em que pesem o pedantismo, o ego inflado e a postura de dono da verdade de Roberto Justus, na entrevista publicada na edição de 29 de janeiro da Revista Veja, ao ser perguntado se, um ano depois da posse de Bolsonaro, ele continua entre os empresários que ainda acreditam no presidente, o dublê de publicitário milionário e apresentador de gincana corporativa respondeu:

O empresário que olhar para este país no último ano e não perceber a diferença está cego. Eu não estou feliz com tudo, decepcionei-me bastante com atitudes e posturas do nosso presidente. Ele mostrou despreparo para o cargo em várias situações. O presidente da República tem de ter equilíbrio e energia. Adoro que ele seja enérgico, não tem problema nenhum. Se eu fosse presidente, também seria enérgico. Mas ele deve dar o exemplo, não perder tempo falando bobagens desnecessárias. Se o presidente tivesse falado menos, estaríamos em melhor situação. Mas ele está aprendendo.”

Dito isso, reproduzo um texto de Josias de Souza sobre o tema:

“Em junho de 2019, ao esvaziar o Gabinete Civil de Onyx Lorenzoni, transferindo a coordenação política para o general Luiz Eduardo Ramos, alojado na Secretaria de Governo da Presidência, Jair Bolsonaro comparou os ministros a fusíveis. Disse que, "para evitar queimar o presidente, eles (os ministros) se queimam."

Hoje, acumulam-se ao redor do presidente fusíveis queimados. Quando se abstém de substitui-los, Bolsonaro entra num processo de autocombustão. De todos os fusíveis pifados do governo, o mais queimado no momento é Abram Weintraub, da Educação. A crise do Enem piorou um quadro que já era muito ruim. Ao manter o ministro no cargo, Bolsonaro subverte até o brocardo. Mostra que é errando que se aprende... a errar (o grifo é meu). Quem observa a conjuntura de longe se convence de que o maior erro que poderia ser cometido no momento é o de atribuir as panes gerenciais que proliferam na Esplanada aos ministros.

Na Educação, o nome do problema não é Weintraub, mas Bolsonaro. A decisão de manter o ministro revela um descaso que desgasta mais o chefe do que o auxiliar. Questionado sobre o Enem, o presidente disse que não quis ouvir um relato sobre os problemas ocorridos no exame. Alegou que estava saturado, com a cabeça cheia.

Quando Bolsonaro admite que decidiu manter um fusível queimado na estratégica pasta da Educação sem nem ao menos se informar sobre aquilo que transformou o que seria o maior Enem da história num transtorno para milhares de estudantes, aí o descaso vira desrespeito com a clientela do Estado. Os parlamentares arrastarão Weintraub para prestar esclarecimentos no Congresso. Mantido o comportamento habitual, o ministro dará novo vexame diante das câmeras. Mas é o dono do fusível quem sairá queimado.”

Tirem os leitores suas próprias conclusões.