sábado, 8 de fevereiro de 2020

TERRAPLANISTAS, CRIACIONISTAS, ZÉ DE ABREU E BOLSONARO



Antes da postagem do dia:

A polarização político-ideológica tornou a imprensa ainda mais tendenciosa — e não estou falando somente da mídia sensacionalista. Prova disso foi chamada divulgada ontem, com grande destaque (ou “em letras garrafais”, como se costumava fazer para chamar a atenção dos leitores no tempo em que as pessoas compravam jornais nas bancas), sobre uma “declaração polêmica” do ministro da Fazenda: 

“PAULO GUEDES CHAMA SERVIDOR PÚBLICO DE PARASITA”.

Como o leitor pode conferir seguindo o link, o que Guedes realmente disse foi: “O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático". 

Em outro trecho, o ministro disse que “a população não quer isso [reajuste automático do funcionalismo público]. 88% da população brasileira é a favor, inclusive, de demissão no funcionalismo público” e que "nos Estados Unidos ficam quatro, cinco anos sem dar reajuste, e quando dá, todo mundo fica 'oh, muito obrigado'; aqui o cara é obrigado a dar [reajuste] porque está carimbado e ainda leva xingamento, ovo, não pode andar de avião".

Em nota, a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda salientou que frase foi retirada de contexto, mas a divulgação feita pela Folha/UOL também relativizou essa informação e enfatizou “o mal estar que a declaração polêmica do ministro causou”. Clique aqui e tire suas próprias conclusões.

Passemos à postagem do dia:

Mais gente do que você provavelmente imagina é adapta do Criacionismo e de outras bobagens que a Ciência já desmistificou há muito tempo. Do Terraplanismo, há no Brasil 11 milhões de seguidores — aliás, embora não tenha se declarado como tal, o ex-astrólogo e guru do clã presidencial, Olavo de Carvalho, já demonstrou certa simpatia pelo movimento.

No que tange ao formato esférico (ou geoide, para usar o termo correto) da Terra e demais corpos celestes (como Lua, Marte e companhia), basta lembrar que ainda no século XVI uma frota de 5 caravelas, capitaneada pelo navegador português Fernão de Magalhães e tripulada por 250 marinheiros, partiu da Península Ibérica com o objetivo de encontrar uma nova rota de navegação até as Ilhas Moluscas (hoje Indonésia). Após três anos singrando mares nunca dantes navegados e enfrentando toda sorte de adversidades, 18 sobreviventes retornaram ao porto de origem. Magalhães foi assassinado nas Filipinas, mas entrou para a história como o responsável pela primeira circum-navegação, que, quando mais não seja, deveria ter jogado uma pá de cal sobre a abilolada teoria de que a Terra é um disco achatado de proporções indefinidas, cujo centro seria o Polo Norte e as bordas geladas, a Antártida.

Observação: A circum-navegação foi (e continua sendo) repetida incontáveis vezes, mas se você ainda tem dúvidas sobre o formato esférico da Terra, não faltam fotos tiradas do espaço por sondas e satélites artificiais lançados desde os anos 1950, sem falar no Projeto Apollo — conjunto de missões espaciais coordenadas pela NASA entre 1961 e 1972 com o objetivo de levar astronautas até a Lua e trazê-los de volta em segurança —, cujo momento mais emblemático foi a alunissagem do módulo lunar Eagle, tripulado por Neil Armstrong e Buzz Aldrin, em 20 de julho de 1969.

Quanto ao Criacionismo, seus adeptos creem que “no princípio era o Caos” e que o Senhor das Esferas, talvez para não ficar com as vastas mãos abanando, criou o Céu e a Terra e escalou Adão e Eva para povoar o Jardim do Éden. Também segundo essa confraria de luminares, o “milagre da criação” teria ocorrido há cerca de 6 mil anos, embora estudos científicos abalizados e confiáveis estimem a idade do Universo em 13,7 bilhões de anos e a do nosso sistema solar, no qual se inclui a Terra, em 4,5 bilhões de anos (a margem de erro é de 0,2 bilhão para mais ou para menos).

Polêmicas criacionista-evolucionistas à parte, o fato incontestável é que Deus existe. Prova disso é que o ator esquerdopata José de Abreu resolveu deixar o Brasil. O petista cuspidor (clique aqui para assistir ao vídeo) postou nas redes sociais que, após viajar pelo mundo e visitar 11 países, ele e a namorada, Carol Junger vão fixar residência na Nova Zelândia. O escarrador abjeto só não informou se tenciona deixar de vituperar grosserias pelo Twitter — seria bom que o fizesse, mas, enfim, nada é perfeito.

Falando no que não presta — e, a julgar pelo que se ouve nos noticiários, bem pouca coisa ainda presta neste país —, Lula vai receber salário como “dirigente” do Partido dos Trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam. O valor não foi revelado, mas estima-se que fique em torno de R$ 20 mil mensais. Pensando bem, isso não muda nada: há décadas que o deus pai da Petelândia é conhecido como “o desempregado que deu certo”, que sempre morou de favor e amealhou um patrimônio respeitável sem precisar trabalhar.

Falando em Petelândia, esquerdopatas et caterva, o “comitê Lula Livre” criou uma marchinha de Carnaval defendendo a liberdade do ex-presidente ladrão e chamando Sérgio Moro de bandido. Enfim, no Reinado de Momo vale tudo, até mesmo publicação de vídeo de “golden shower” pelo presidente da República. E falando no dito-cujo, veja mais uma envolvendo sua excelência, que parece piada, mas não é: Bolsonaro afirmou que portadores do vírus HIV são “uma despesa para todos no Brasil, além de um problema para a própria pessoa”.

A conclusão lapidar do presidente faz sentido, mas é bom lembrar que OS POLÍTICOS TAMBÉM SÃO UMA DESPESA GIGANTE E UM PROBLEMA PARA TODOS NÓS: se uma ínfima parcela dos trilhões que pagamos em impostos anualmente fosse investida em pesquisa, cientistas tupiniquins já teriam descoberto a cura da AIDS, do Câncer e até do Coronavírus. E se outra ínfima parcela dessa dinheirama toda contemplasse a educação, os brasileiros aprenderiam a votar, evitando que seus representantes fossem resolvidas na base da dicotomia, do revanchismo polarizado, como se travassem uma cruzada do bem contra o mal (quem é o bem e quem é o mal varia conforme as convicções político-ideológico-partidárias dos preclaros eleitores).