quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

UM FUTURO SOMBRIO OU UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO? (FINAL)


O UNIVERSO NÃO FOI FEITO À MEDIDA DO SER HUMANO, MAS TAMPOUCO LHE É ADVERSO: É-LHE INDIFERENTE.

Supondo que a humanidade sobreviva à enxurrada de calamidades naturais ou criadas pelo próprio ser humano, a evolução tecnológica, que foi mais incisiva nos último cento e poucos anos do que da descoberta do fogo até meados do século XIX, permite-nos vislumbrar um futuro promissor.

Cada edição da CONSUMER ELETRONIC SHOW — feira de tecnologia realizada anualmente na cidade de Las Vegas (EUA) — descortina uma amostra de como será o futuro e neste ano aposta nos dispositivos domésticos guiados por inteligência artificial (IA).

Em sua longínqua estreia, em 1967, a CES atraiu mais de 15000 visitantes para admirar os então novíssimos toca-discos portáteis que substituíram as vitrolas — já então um indício de como passaríamos a ouvir música em aparelhos cada vez menores. Em 1976, foi a vez da fita cassete, e em meados dos anos 1980, a do Commodore 64, o modelo de computador pessoal mais vendido de todos os tempos. Depois, em sucessivos saltos, vieram os videogames modernos, como o Play­Station, as TVs 4K e, finalmente, os hoje populares serviços de streaming, como Netflix e Spotify.

Agora — e logo ali adiante — vive-se a era da casa automatizada capaz de ser controlada remotamente e dos utensílios domésticos para lá de, digamos, peculiares. Há traquitanas para bichos, como o iKuddle — uma caixa de areia para gatos que monitora toda a rotina do pet e custa “módicos” US$ 399 —, a vara de pescar ioTrapster — ideal para pescadores de final de semana que não veem problema em pagar US$ 500 dólares por um gadget que avisa quando um peixe morde a isca —, brinquedos sexuais controlados por um software especializado em agradar às mulheres na hora H, robôs que detectam odores ruins no banheiro e notificam a urgência de uma limpeza, além de reporem o papel higiênico — evitando que o usuário seja pego com as calças arriadas (literalmente).

As novidades remetem ao futuro utópico, romantizado e, muitas vezes, inalcançável do amanhã antecipado pelo desenho animado Os Jetsons — lançado nos anos 1960 pela produtora Hanna-Barbera e exibido até a década de 80. Na prática, porém, a mensagem que brota dos corredores e estandes de Las Vegas remete à Internet das Coisas (ou IoT, na sigla em inglês), na qual objetos conectados on-line podem ser comandados por voz e desempenhar tarefas as mais diversas sem a necessidade de programação prévia, podendo mesmo se comunicarem entre si, como o sensor Velop, que monitora padrões de respiração, sono e movimentos de crianças ou idosos, por exemplo, e enviam alertas para o smartphone dos pais ou responsáveis no caso de qualquer anormalidade. Ou o robô pessoal Ballie, da Samsung, que, mediante comandos de voz, operam apps de smartphones ou tablets, como os de programação de alarmes ou mesmo compras em supermercados, e são capazes agir por conta própria para, por exemplo, desligar televisores e lâmpadas esquecidas acesas depois da saída dos moradores.

A maioria dos produtos apresentados na CES está disponível no mercado ou chegará em breve, mas há ainda uma série de protótipos futuristas, como o projeto da Samsung que transforma as paredes de casa em alto-falantes e microfones estéreos responsáveis pela gerência de trabalhos domésticos.

A IA caseira promete abrir um novo mercado. Espera-se que, apenas no Brasil, a venda de dispositivos de IoT cresça 300% neste ano. Acredita-se que 1 milhão de famílias terão um badulaque moderno até o próximo Natal. Para 2022, estima-se que em todo o mundo circulem 14 bilhões desses produtos chamados de “smart”. A movimentação será próxima de US$ 50 bilhões por ano, atrelada, invariavelmente, a versões computadorizadas de utensílios com os quais já nos acostumamos, como geladeiras, sofás ou mesmo casinhas de cachorro. E não demorará para que, considerando-se a facilidade de uso e a utilidade, eles se espalhem silenciosamente — sem nem mesmo nos darmos conta de sua existência.

E dizer que, de certo modo, tudo começou com o iPhone, lançado por Steve Jobs em 2007.