quarta-feira, 11 de março de 2020

CADA DIA COM SUA AGONIA


ATUALIZAÇÃO

Para não estragar seu dia, registro aqui que na tarde de ontem o Ibovespa fechou em alta de 7,14%, a maior alta em onze anos, aos 92.214 pontos, refletindo as propostas de estímulos econômicos nos Estados Unidos e expectativas de incentivos na Europa para conter os impactos econômicos do coronavírus. O dólar comercial caiu 1,69% a R$ 4,6444 na compra e a R$ 4,6457 na venda  sua maior desvalorização desde setembro do ano passado. O dólar futuro para abril tem queda de 1,57%, para R$ 4,659.

Nesta quarta-feira, a volatilidade voltou às bolsas da Ásia, que fecharam em queda. Os futuros de Nova York também operaram no vermelho, aguardando medidas de estímulo do governo americano. Paralelamente, o banco da Inglaterra cortou a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, o que deu fôlego às bolsas de da Europa, que operam em alta. 

No Brasil, a FGV publica hoje a prévia de março do IGP-M e o IBGE, o IPCA de fevereiro. Já o BC oferta até 20.000 contratos swap em leilão nesta manhã, mas não oferecerá dólar à vista, ao contrário do que fez nos dois últimos dias (ontem, a venda de US$ 2 bilhões ajudou a derrubar a cotação em 1,7%, devolvendo a maior parte da forte alta de 2,1% de segunda-feira). 

Paulo Guedes enviou ofício aos presidentes da Câmara e do Senado pedindo prioridade na votação de projetos da agenda econômica, ressaltando que as matérias já em tramitação “são extremamente relevantes para resguardar a economia do país, aumentar a segurança jurídica para os negócios e atrair investimentos”. A equipe econômica prepara a reforma tributária e diz que a administrativa será encaminhada em breve. Por outro lado, um impasse entre partidos do Centrão ameaça deixar para depois de 15 de março a votação sobre o chamado “orçamento impositivo” no Congresso. A sessão mista da Comissão do Orçamento, encerrada ontem sem acordo, deve ser retomada hoje. Vamos acompanhar para ver que bicho dá. 

ATUALIZAÇÃO DA ATUALIZAÇÃO (às 16h00):

Como se vê, não dá para fazer previsões. Após a OMS declarar que coronavírus é uma pandemia (até aí, nenhuma novidade), o Ibovespa caiu mais de 12% após o segundo circuit breaker da semana, ao passo que o dólar tornou a disparar, subindo mais de 2%. Haja coração.
 
Passemos agora ao texto que eu havia escrito previamente:

Você acorda, abre a janela, inspira profundamente ar ainda puro da manhã enquanto admira o sol, que brilha sobranceiro sobre o fundo azul de um céu de brigadeiro. Um dia que começa assim, pensa você, não pode ser de todo ruim. Aí você ouve o noticiário e, numa fração de segundo, seu otimismo despenca com a mesma velocidade que a Bolsa despencou na última segunda-feira. 

O speaker (como era chamado antigamente o locutor dos jornais falados, e que agora atende por âncora) requenta notícias do dia anterior sobre o pânico que dominou os mercados. A Bovespa, relembra ele, registrou a maior queda do século, encerrando o pregão na casa dos 86 mil pontos — o menor patamar desde dezembro de 2018 e a maior queda em um dia, em porcentagem, desde a crise russa em setembro de 1998. Já o dólar, assinala o arauto da desgraça, trilhou o caminho inverso, fechando em alta de 2%, quase a R$ 5,00, apesar de duas intervenções do BC — e isso no câmbio oficial, sem IOF e outros acréscimos. O risco-país subiu 30,3% devido à crise provocada pelo coronavírus e a brutal desvalorização do petróleo em meio à disputa entre a Arábia Maldita e a Rússia do filho da Putin. Mesmo assim, o ministro Paulo Guedes declarou que "a democracia brasileira vai reagir transformando essa crise em avanço das reformas".

Sobre esse pronunciamento do Posto Ipiranga — mais uma pérola que rivaliza com as patacoadas do seu chefe boquirroto, useiro e vezeiro em dizer o que pensa antes de pensar no que vai dizer — Josias de Souza nos brinda com mais uma de suas brilhantes lições:

"Num dia de derretimento dos mercados, o ministro Paulo Guedes disse estar tranquilo. Enquanto a Bolsa de Valores do Brasil sangrava numa hemorragia que resultou num tombo histórico de 12%, Jair Bolsonaro informava num discurso para americano ver que conversara com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e ouvira dele a garantia de que, a despeito das divergências políticas, que são naturais, as reformas tributária e administrativa serão aprovadas no Legislativo.

Uma das funções de um ministro da Economia é a de tranquilizar o país em momentos de grande instabilidade. Uma das atribuições do presidente da República é a de dialogar com o Congresso. O problema é que as palavras de Paulo Guedes e de Jair Bolsonaro não ornam com os fatos. A tranquilidade do ministro não faz nexo, e o pretenso diálogo de Bolsonaro com o Legislativo não combina com um presidente que, no final de semana, voltou a convocar o asfalto para roncar contra os parlamentares.

Paulo Guedes disse estar sereno porque o mundo desacelera, mas a economia brasileira, que tem uma dinâmica própria, está em plena reaceleração, mas o pibinho de 1,1% registrado em 2019 desautoriza o raciocínio.

Basta perseverar nas reformas para assegurar o sucesso, disse o ministro. Bolsonaro assegurou nos Estados Unidos que serão aprovadas reformas que ele ainda não foi capaz de enviar ao Legislativo. Decorridos 14 meses de governo, Paulo Guedes e sua equipe ainda não levaram à vitrine uma reforma tributária. Produziram a reforma administrativa, mas Bolsonaro mantém a proposta na gaveta desde novembro do ano passado.

Não é que os resultados do governo sejam precários. A questão é que nem a retórica do governo brasileiro está à altura da crise. A mistura tóxica do coronavírus com petróleo produz um envelhecimento precoce da agenda de reformas. É como se as reformas ficassem velhas antes de ficar prontas. O primeiro semestre de 2020 já está comprometido. Não são negligenciáveis as chances de o Brasil viver um novo ano de crescimento econômico medíocre."

Para encerrar: Regina Duarte, recém-empossada secretária da Cultura, fez questão de lembrar em seu discurso de posse a promessa de carta branca que Bolsonaro lhe assegurou quando a convidou para ocupar o cargo. Em resposta, o presidente afirmou que exerceria seu poder de veto, como já fez em todos os ministérios).

Pelo visto, da carta branca ao cartão vermelho é um passo neste governo: na tarde da última segunda-feira, uma edição extra do D.O.U. anulou a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho, feita por Regina na sexta-feira anterior, antes mesmo que a auxiliar tomasse posse do cargo de secretária da Diversidade Cultural.

No domingo, em entrevista ao "Fantástico", a ex-atriz global disse que existe uma "facção" no governo que deseja retirá-la do cargo. Oficialmente, a assessoria da pasta sob seu comando se limitou a dizer que o cancelamento da nomeação de Maria do Carmo deveu-se a "entraves burocráticos". Questionada se a auxiliar poderá voltar a ser designada para o posto, Regina não respondeu. 

Após a entrevista, a eterna namoradinha do Brasil recebeu críticas públicas do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, do personal influencer do clã presidencial e do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que é subordinado a ela.

Apontado como um dos fiadores da entrada da atriz no governo, Ramos disse ao Estado que "não foi boa" a declaração de Regina, além de defender Camargo, chamado pela atriz de "ativista" e de "problema", em entrevista à TV Globo.

Desde que foi anunciada como substituta de Roberto Alvim, demitido por parafrasear o nazista Joseph Goebbels, Regina tem recebido uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Os ataques partem de apoiadores de Bolsonaro, que não gostaram das demissões de integrantes do movimento conservador. Segundo a revista Veja, o polemista Olavo de Carvalho, insatisfeito com o afastamento de seus discípulos da secretaria (por enquanto) chefiada por Regina, disse: “Aplaudir a indicação [da atriz] parece ter sido mais uma cagada minha, mais uma entre tantas. Não sei onde vou arranjar tanto papel higiênico.”