quinta-feira, 5 de março de 2020

REGINA DUARTE, CORONAVÍRUS VERSUS MERCADO FINANCEIRO E O CINISMO DO PRESIDENTE DO STF


O fato de a tramitação da nomeação de Regina Duarte para a Secretaria Especial da Cultura ter levado apenas um mês e meio justifica sua reclassificação de novela para minissérie. Mas agora é oficial. Depois de um “noivado” (para usar a metáfora que o presidente tanto aprecia) em tempo relâmpago, o casamento aconteceu de papel passado, como se dizia antigamente: Na última quarta-feira, 4, o Diário Oficial da União sacramentou o enlace. Na mesma edição, também foram publicadas ao menos 12 exonerações de servidores em cargos de chefia, a mando da nova comandante da pasta, que é a quarta a ocupar o cargo desde que Bolsonaro assumiu a presidência, e já estava com a equipe praticamente toda formada, noves fora o cargo de secretário adjunto, já que a pessoa escolhida, que aceitou o conivente, voltou atrás no últimos minuto, alegando um problema familiar.

Pelo que se dizia nos bastidores, mudanças mais polêmicas serão feitas em doses homeopáticas, até porque a nova secretária é tida como gentil, educada e cortês no trato — um verdadeiro clone de Bolsonaro trajando blusa de bolinhas (a mesma estampa escolhida pela primeira-dama e pela dublê de pastora e ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos). Não é do seu feitio, portanto, portanto chegar “chutando a porta”, mesmo que o presidente lhe tenha prometido “carta branca” — como ela fez questão de salientar em seu discurso de posse, do qual transcrevo um trecho:

O convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta branca. Não vou esquecer não, presidente. Foi inclusive com esses argumentos que eu me estimulei e trouxe para trabalhar comigo uma equipe apaixonada, experiente, louca para botar a mão na massa”.

Até que ponto irá a autonomia de para tomar decisões que Regina considerar adequadas, porém, é outra história. Bolsonaro assegurou “carta branca” a Sérgio Moro (e prometeu indicá-lo para a próxima vaga que se abrir no STF) como forma de seduzir o ex-juiz a abrir mão de 22 anos de magistratura para assumir o ministério da Justiça e Segurança Pública. No entanto, ao longo dos últimos 14 meses Moro foi desautorizado diversas vezes pelo capitão, que já o enfarinhou e fritou o auxiliar em óleo morno diversas vezes. Mesmo Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro e seu superministro da Fazenda, já amargou alguns revezes, até porque uma das muitas “peculiaridades” do capitão é não admitir ser contrariado (vide figura que ilustra esta postagem).

ObservaçãoHá ocasiões em que o uso de uma frase, mesmo que se trate de um clichê, aplica-se perfeitamente a determinadas situações. A postura intransigente de Bolsonaro me faz lembrar a explicação que meu pai, ex-militar, me deu quando, ainda criança, eu lhe perguntei o que era ditadura: “Na democracia você pode fazer o que quiser; na ditadura também, mas desde que seja aquilo que eu mando”.  

Consta que Sérgio Moro esteve prestes a ser defenestrado em diversas oportunidades. O motivo? O ciúme que o presidente tem de sua popularidade e o medo de tê-lo como adversário em 2022. Por enquanto, o medo da reação popular é ainda maior, mas a popularidade de Moro é uma faca de dois gumes, já que o capitão não é de regar uma plantinha no quintal do vizinho se ela tiver a mínima chance de crescer a ponto de fazer sombra no seu próprio quintal.

Observação: Nisso, Bolsonaro e Lula são como gêmeos siameses, daí a falta de liderança do PT, noves fora o sumo pontífice da seita do inferno, que é decarréu na Justiça Criminal, foi condenado em dois processos (em três instâncias no do tríplex e em duas no do sítio em Atibaia) e está inelegível até 2035, quando, se ainda continuar transitando pelo mundo dos vivos, estará com 89 anos.

Segundo o Datafolha, Moro é conhecido por 93% dos entrevistados e 53% avaliam sua gestão como ótima ou boa, ao passo que Bolsonaro aparece com aprovação de 30%.  Salvo melhor juízo, a melhor saída para o presidente seria indicar seu ministro para a vaga de Celso de Mello, que terá de pegar o boné agora em novembro, já que completa 75 anos de idade (já completou 30 como supremo togado) na véspera do próximo feriado de finados — isso se o decano não se afastar voluntariamente, já que está licenciado desde dezembro devido a problemas de saúde.  

Embora o dólar continue em alta devido à pandemia do coronavírus (já há no Brasil 3 casos confirmados e um quarto aguardando a contraprova), o Ibovespa, que caiu a níveis abissais na quarta-feira de cinzas, dá sinais (tênues, é verdade) de recuperação. A B3, que ontem abriu em alta, embora a anos luz dos 119.527,63 pontos registrados no dia 23 de janeiro, oscilou ao longo do período e fechou em alta de 1.6%, aos 107.224,22 pontos. O que a acontecerá nos próximos dias (ou semanas) depende de diversos fatores, tanto internos quanto externos, haja vista a magnitude do abalo sísmico que o coronavírus provocou no mercado, tanto em escala local quanto mundial.

Ontem, a alta do Ibovespa seguiu a tendência das bolsas americanas, que dispararam com a vitória do candidato Joe Biden na Super Terça das primárias do Partido Democrata, levando nove dos 14 estados em disputa — Mike Bloomberg desistiu de concorrer, e com isso amargou um prejuízo de meio bilhão de dólares (dinheiro do próprio bolso que o candidato investiu em propaganda ao longo da campanha). Além disso, a Coreia do Sul anunciou estímulos econômicos (quase US$ 10 bi) para enfrentar o impacto do coronavírus. Por outro lado, o mercado primeiro comemorou, mas depois viu com preocupação a decisão do Federal Reserve, que cortou em meio ponto percentual os juros básicos nos Estados Unidos. A decisão, tomada em caráter extraordinário (a próxima reunião estava marcada para o próximo dia 19) deixou a impressão de que, se medidas tão drásticas foram tomadas, é porque a crise é maior do que até então se imaginava.

Mudando de pato pra ganso, na última terça-feira, enquanto deputados estaduais paulistas aprovavam em segundo turno a reforma da previdência dos servidores, o pau comia no entorno da ALESP, defronte ao parque do Ibirapuera. Já em Brasília a votação no Congresso sobre o destino de R$ 30 bilhões das emendas parlamentares foi adiada mais uma vez, devido a estranhamentos entre a Câmara, o Senado e o Palhaço do Planalto, digo, o Palácio do Planalto.

Nesse entretempo, numa demonstração de cinismo a toda prova, o presidente do STF, José Antonio Dias Toffoli — que deve passar a coroa e o cetro porá seu par e atual vice-presidente da Corte, ministro Luiz Fux — resolveu propor a prisão imediata de condenados por júri popular, como que se isso levasse o despolitizado, desinformado e desculturado povo brasileiro a esquecer que ele, Toffoli, foi o grande artífice do fim do cumprimento de pena por condenados em segunda instância. Mas isso é também é assunto para uma próxima vez.