segunda-feira, 16 de março de 2020

SOBRE A SEGURANÇA DAS URNAS ELETRÔNICAS (CONTINUAÇÃO)



Bolsonaro testou negativo para o COVID-19, o que é uma boa notícia. Mas as respostas dadas até o momento pelo Executivo para os impactos econômicos da pandemia têm sido consideradas insuficientes pelo Legislativo, e a estratégia do ministro Paulo Guedes, de transferir responsabilidades aos parlamentares enviando um ofício com uma lista de matérias que gostaria de ver aprovadas gerou incômodo, gerou desconforto entre os congressistas. Suas excelências, sensíveis, sentiram-se incomodadas, e no meio dessa picuinha toda, o povo que se f...!

A exibição do primeiro capítulo do filme “Marielle – O Documentário fez a audiência da Globo despencar na última quinta-feira, apesar da campanha publicitária milionária visando promover o documentário. Às 23h35, a série registrava 18,6 pontos na medição em tempo real da Kantar Ibope Media e liderava o ranking; à 00h20 cravava 10 pontos, empatada com o humorístico (de gosto discutível) “A Praça é Nossa”, do SBT. 

Faz sentido: quem é fã de series sobre crimes e criminosos tem como opção assistir à TV Câmara e a TV Senado, e os que preferem as comédias (sobretudo de humor negro), as transmissões ao vivo das sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal.

Voltando ao mote desta postagem, que conclui a abordagem iniciada no capítulo anterior, em dezembro de 2019, em entrevista ao programa Poder em Foco, do SBT em parceria editorial com o site Poder360, o presidente Bolsonaro declarou que era necessária a implementação do voto impresso (pelo menos de maneira parcial) para evitar fraudes eleitorais. Também explicou a origem de suas suspeitas e disse que o retorno do voto em cédulas era essencial para sua eventual reeleição em 2022. Citou uma proposta do ministro Luiz Fux para que uma amostragem de 5% dos eleitores tivesse seus votos também registrados de maneira impressa. Já era para ter acontecido isso no ano passado [2018]. O ministro Fux estava tratando desse assunto. Tinha uma lei aprovada nesse sentido. Depois o Supremo resolveu não deixar que houvesse o voto impresso, disse Bolsonaro à época.

Sua teoria a respeito de uma possível fraude baseava-se em números da apuração realizada pelo TSE. Ele citou a 1ª parcial divulgada pelo Tribunal, que diz ter visto “uma fotografia na televisão“. Pela memória de Bolsonaro, “em números bastante redondos“, ele estava com 49% dos votos válidos e os dados regionais indicavam que no Nordeste, que é base do PT, 80% dos votos haviam sido apurados, no Sudeste, apenas 20% e nas demais 3 regiões, cerca de 60%

“O resultado naquele momento era de 49% para mim. Com a tendência, entrando Sudeste, era para a gente ganhar com 55%, 56%. Isso não aconteceu. Foram mantidos os 49%. Então é um grande indício de que poderiam estar mexendo no algoritmo”, afirmou o presidente, Os resultados oficiais da eleição de 2018 indicam que Bolsonaro teve 49.277.010 votos (46,03%) no 1º turno e 57.797.847 (55,13%) no 2.º turno.

Em 2014 eu publiquei duas matérias com uma fieira de razões que iam de encontro (ou seja, se opunham) à suposta “segurança inviolável do sistema” (para acessá-las, clique aqui e aqui). 

Por ser programável de acordo com as necessidades de cada pleito, o software das urnas eleitorais usada no Brasil permite adulterar os resultados facilmente — bastando, por exemplo, introduzir um comando que, a cada cinco votos, desvie um para determinado candidato, mesmo que o eleitor tenha teclado o número de outro. A propósito, sugiro ler o livro FRAUDES E DEFESAS NO VOTO ELETRÔNICO, publicado em 2006 pelo especialista em segurança de dados de computador Amílcar Brunazo Filho em coautoria com a advogada e procuradora de partidos políticos Maria Aparecida Cortiz.

A edição impressa está esgotada, mas é possível fazer a leitura online seguindo este link ou baixar o arquivo .PDF com o texto completo clicando aqui. Nele, você encontrará informações detalhadas sobre voto de cabresto, compra de votos, clonagem e adulteração de programas, engravidamento de urnas e muito mais. Vale a pena, também, visitar o site do autor e assistir a três vídeos que continuam disponíveis no YouTube (clique aqui, aqui e aqui).