segunda-feira, 8 de junho de 2020

QUANDO A SAÚDE VIRA INSANIDADE (O TRISTE CASO DO MINISTÉRIO QUE VIROU CABIDE DE FARDAS)


A situação não está para brincadeira, mas levar tudo a ferro e fogo é carimbar o passaporte para ver o fim dessa merdeira da janela de um manicômio. Então, comecemos com um “momento de descontração”.

Depois de ser eleito funcionário do mês, Augusto Aras foi promovido a Passador de Pano geral da República. O presidente não só comemorou o novo cargo do comparsa como lhe deu de presente um lindo um gaveteiro.

O ministro (risos) da Educação (RISOS) — que já escreveu “haviam emendas”, “insitar violência”, “paralização” e “imprecionante”, e (pasmem!) foi condecorado por Bolsonaro com a Ordem do Mérito Naval — tentou adiar seu depoimento no escopo do inquérito que o investiga por crime de racismo (a famosa postagem usando o Cebolinha, que troca o “r” pelo “l", para troçar da maneira como os chineses falam português).

Como o adiamento foi negado — na condição de investigado, o depoente carece da prerrogativa de marcar dia e hora para falar — Weintraub compareceu à sede da PF no DF, entregou seu depoimento por escrito e invocou o direito constitucional de permanecer calado. Os delegados recomendaram que ele fizesse isso pelo resto do mandato e foram ler o depoimento. A grafia das palavras não deixou dúvidas sobre a autoria, mas o problema é que ninguém entendeu patavina.

O ex-ministro em atividade Henrique Mandetta disse que o remédio misterioso anunciado pelo vendedor de travesseiros que ora chefia o ministério da Ciência é o “Annita”, um vermífugo indicado para matar lombrigas e solitárias. E já que falamos em lombriga solitária, o remédio para acabar com o verme que dá expediente no Palácio do Planalto e corrói a democracia brasileira é o afastamentol, vendido no Brasil desde 1992 com o nome fantasia de “Impeachment”.

Fim da palhaçada. Segue o Circo Marambaia — afinal, o show tem de continuar:

De tanto Bolsonaro e seus seguidores defenderem a intervenção militar, já se tem uma pequena mostra de como ficaria o país se algo assim ocorresse. Depois que Henrique Mandetta se demitiu do ministério da Saúde, o general da banda nomeou o general de divisão Eduardo Pazuello como segundo na hierarquia da pasta, e este nomeou mais uma dezena de militares para cargos do segundo escalão.

Observação: Para saber a patente de um militar, basta observar a insígnia costurada em sua farda: quanto mais estrelas ou faixas, maior o status do cargo. No caso específico do Exército, 2 estrelas identificam um general de brigada; 3, um general de divisão; 4, um general de exército; 5, no formato do Cruzeiro do Sul, um marechal. Os postos de almirante, marechal e marechal-do-ar são os mais altos na hierarquia da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, respectivamente, mas só existem em caso de guerra.

O oncologista Nelson Teich, nomeado pelo capitão das trevas para substituir Mandetta, logo percebeu que “comandava” uma pasta sob intervenção militar, e pediu o boné antes mesmo de completar um mês no cargo. Ao longo das três semanas seguintes o ministério mais importante em tempos de pandemia sanitária permanecia acéfalo — pelo menos em tese, porque na prática o capetão atuava como eminência parda e Pazuello lhe fazia as vontades. Nesse entretempo, o número de militares nos cargos do segundo escalão cresceu — já são mais de 20 — e o de médicos, técnicos e outros profissionais da saúde encolheu.

Na última quarta-feira — quelle surprise! — o general tri-estrelado foi efetivado ministro interino de uma pasta que, tecnicamente, está sob intervenção militar. O resultado? 34 mil mortos pela Covid-19 (com possibilidades reais de chegar a 120 mil), média de 1.500 óbitos por dia e taxa de transmissão entre as mais altas do mundo (para números atualizados em tempo real, clique aqui).

E o que dizem as duas dezenas de fardados e estrelados aboletados no ministério? NADA! Aboliram até as entrevistas diárias que eram realizadas no tempo de Mandetta, e não vêm conseguindo sequer contabilizar o número mortes causadas pela doença.

A especialidade Pazuello — Logística — pode servir para organizar a fila de milhares de sepultamentos ou para agilizar a distribuição de cloroquina. Talvez sirva até para encontrar áreas onde criar novos cemitérios e crematórios, mas o que nos falta no Ministério da Saúde são médicos, biólogos e gente com capacidade para enxergar o quadro em perspectiva, propor alternativas e estabelecer políticas em conjunto com Estados e Municípios.

Da execrável atuação do general da banda no comando do batalhão de atabalhoados que tomaram de assalto a pasta da Saúde sob a interinidade do ministro-general Pazuello, infere-se claramente que a intervenção militar foi um completo desastre — se serviu para alguma coisa, foi para criar o “ministério da boquinha”, um cabidão onde amigos e correligionários do presidente penduram a farda.

Bolsonaro está brincando com a vida dos brasileiros. Urge devolver a Saúde aos especialistas. Na impossibilidade, parafraseando o próprio Bolsonaro na folclórica reunião ministerial de 22 de abril, há que trocar o chefe do chefe da pasta. Para bom entendedor...


Com O Sensacionalista e Alberto Carlos Almeida