quinta-feira, 23 de julho de 2020

ATUALIZAÇÕES DO WINDOWS 10, UMA PITADA DE HISTÓRIA E OUTRA DE CULTURA INÚTIL — CONTINUAÇÃO

ALEGAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS EXIGEM EVIDÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS.
Ainda que já tenhamos conversado em diversas oportunidades sobre a evolução do computador, o surgimento da computação pessoal, do MS-DOS e do Windows, a audiência do Blog é rotativa, o que justifica este bis in idem em atenção aos recém-chegados. Em consideração aos leitores habituais, que me acompanham desde sempre, prometo que tentarei ser breve.
Uma “empresa de garagem” fundada em 1975 por dois jovens amigos não só se tornou a Gigante do Software como guindou seus sócios-fundadores à lista de bilionários da Forbes — que Bill Gates chegou a encabeçar uma porção de vezes e na qual Paul Allen ocupava a 48.ª posição em 2015 (três anos antes de morrer de choque séptico), com uma fortuna estimada em US$ 18,1 bilhões. A dinheirama que Gates e Allen acumularam deveu-se em grande medida ao sucesso do Windows, mas tudo começou 10 anos antes do lançamento da primeira versão do programa que se tornaria o sistema operacional para PC mais bem sucedido da história, quando a IBM, uma das maiores fabricantes de mainframes — computadores criados nos anos 1950, que ocupavam prédios inteiros e tinham menos poder de processamento que uma calculadora de bolso teria dali a três décadas —, cresceu o olho no sucesso de Steve Jobs com seu Apple II e resolveu disputar uma fatia no então incipiente mercado de microcomputadores.
No início da década de 1980, a gigante dos computadores desenvolveu o hardware do que batizou de IBM-PC. Como não dispunha de um sistema para operá-lo, procurou a Microsoft, achando (erroneamente) que ela detivesse os direitos do CP/M — que na verdade pertenciam a Gary Kildall, o desenvolvedor do sistema. Contrariando sua fama de oportunista, Gates desfez o engano, mas Kildall não compareceu à reunião agendada com a IBM, que voltou a procurar a Microsoft, que dessa vez não se fez de rogada. 
Como a Microsoft jamais havia escrito um sistema operacional do zero, Gates comprou por US$ 50 mil os direitos do QDOS, adequou o software ao hardware do IBM-PC, rebatizou o dito-cujo como MS-DOS e  vendeu-o à fabricante do aparelho por algum valor entre US$ 186 mil e US$ 8 milhões, dependendo de quem conta a história. Mas é apenas um detalhe: o pulo do gato foi a Microsoft ter garantido a propriedade do código fonte e os direitos à comercialização do MS-DOS, o que garantiu a Gates e Allen o domínio do mercado de "PCs compatíveis" e, mais adiante, seu ingresso de na lista de bilionários da Forbes.
Como todo episódio que envolve dinheiro e poder, a transação entre a IBM e a Microsoft deu azo a um sem-número de especulações. De concreto, tem-se apenas que Kildall morreu em 1994, aos 52 anos, com a certeza de ter perdido a chance de encabeçar a lista dos bilionários da Forbes. Por outro lado, há quem afirme que Kildall só não fechou o negócio porque, quando a IBM o procurou para uma reunião, ele estava pilotando seu avião particular. Os executivos da IBM foram recebidos pela mulher do empresário, e se irritaram quando ela se recusou a assinar um contrato prévio e quis aumentar o valor dos royalties pelo programa — daí eles terem ido procurar a Microsoft
Já as circunstâncias que favorecem Bill Gates são controversas. O They Made America retrata-o como sendo mais um negociante ardiloso que  um “Geek” (nerd em tecnologia). Comenta-se também que, após tomar conhecimento da transação, Kildall procurou Gates e a IBM e, segundo ficou acordado, os PCs passariam a deixar as fábricas com a opção dos dois programas — mas o CP/M custava US$ 240 por cópia e o MS-DOS, apenas US$ 40, e o mercado se encarregou de fazer a seleção natural do software. 
A partir de então, Gates começou a acumular seus milhões de dólares na escalada em direção ao primeiro bilhão, ao passo que Kildall vendeu sua empresa por US$ 120 milhões em 1991. No ano passado, o valor de mercado da Microsoft ultrapassou a marca do trilhão de dólares.
Continua...