Ainda que já tenhamos conversado em diversas oportunidades sobre a evolução do computador, o surgimento
da computação pessoal, do MS-DOS e
do Windows, a audiência
do Blog é rotativa, o que justifica este bis in idem em
atenção aos recém-chegados. Em consideração aos leitores habituais, que me acompanham desde sempre, prometo que tentarei ser breve.
Uma “empresa de garagem” fundada em 1975 por dois jovens
amigos não só se tornou a Gigante
do Software como guindou seus sócios-fundadores à lista de bilionários
da Forbes — que Bill
Gates chegou a encabeçar uma porção de vezes e na qual Paul Allen ocupava a 48.ª posição em 2015 (três anos antes de morrer de choque séptico), com uma fortuna estimada
em US$ 18,1 bilhões. A dinheirama que Gates e Allen acumularam deveu-se em
grande medida ao sucesso do Windows, mas tudo
começou 10 anos antes do lançamento da primeira versão do programa que se tornaria o sistema operacional para PC mais bem sucedido da história, quando a IBM, uma das maiores fabricantes de mainframes — computadores criados nos anos 1950, que ocupavam
prédios inteiros e tinham menos poder de processamento que uma calculadora de
bolso teria dali a três décadas —, cresceu o olho no sucesso de Steve Jobs com
seu Apple
II e resolveu disputar uma fatia no então incipiente mercado de microcomputadores.
No início da década de 1980, a gigante dos computadores desenvolveu o
hardware do que batizou de IBM-PC. Como não dispunha de um sistema para operá-lo, procurou a Microsoft, achando (erroneamente) que ela detivesse os direitos do CP/M —
que na verdade pertenciam a Gary
Kildall, o desenvolvedor do sistema. Contrariando sua fama de
oportunista, Gates desfez o engano,
mas Kildall não compareceu à reunião
agendada com a IBM, que voltou a
procurar a Microsoft, que dessa vez
não se fez de rogada.
Como a Microsoft jamais havia escrito um sistema
operacional do zero, Gates comprou por US$ 50 mil os direitos
do QDOS, adequou o software ao
hardware do IBM-PC, rebatizou o dito-cujo como MS-DOS e vendeu-o à fabricante do aparelho por algum valor entre US$ 186 mil e US$
8 milhões, dependendo de quem conta a história. Mas é apenas um detalhe: o pulo do gato foi a Microsoft ter garantido a propriedade do código fonte
e os direitos à comercialização do MS-DOS, o que garantiu a Gates e Allen o domínio do
mercado de "PCs compatíveis"
e, mais adiante, seu ingresso de na lista de bilionários da Forbes.
Como todo episódio que envolve dinheiro e poder, a
transação entre a IBM e a Microsoft deu azo a um sem-número de
especulações. De concreto, tem-se apenas que Kildall morreu em 1994, aos 52 anos, com a certeza de ter perdido a
chance de encabeçar a lista dos bilionários da Forbes. Por outro lado, há quem afirme que Kildall só não fechou o negócio porque, quando a IBM o procurou para uma reunião, ele estava pilotando seu avião particular. Os executivos da IBM foram recebidos pela mulher do empresário, e se irritaram quando ela se recusou a assinar um contrato prévio e quis aumentar o valor dos royalties pelo programa — daí eles terem ido procurar a Microsoft.
Já as circunstâncias que favorecem Bill Gates são controversas. O They Made
America retrata-o como sendo mais um negociante ardiloso que um “Geek” (nerd em tecnologia). Comenta-se também que, após tomar conhecimento da
transação, Kildall procurou Gates e a IBM e, segundo ficou acordado, os PCs passariam a deixar as fábricas com a
opção dos dois programas — mas o CP/M custava US$ 240 por
cópia e o MS-DOS, apenas US$ 40, e o mercado se encarregou de
fazer a seleção natural do software.
A partir de então, Gates começou a acumular seus milhões de dólares na escalada em direção ao primeiro bilhão, ao passo que Kildall
vendeu sua empresa por US$ 120 milhões em 1991. No ano passado, o valor de mercado da Microsoft ultrapassou a marca do trilhão
de dólares.
Continua...