Em entrevista ao Estadão, Sergio Moro rebateu
as declarações dadas por Jair Bolsonaro nas redes sociais, de que, depois que o ex-juiz da Lava-Jato deixou o
ministério, “como por um passe de mágica, várias e diversificadas operações
foram executadas”.
O ex-ministro afirmou que, enquanto esteve no cargo, não
teve apoio do Presidente para ajudá-lo a pôr em prática uma agenda anticrime e
anticorrupção: “Tenho que dizer que não houve um grande apoio do
presidente para a maioria dessas iniciativas do ministério, mas penso que há
tempo considerável para que o governo retome algumas dessas bandeiras, como a
aprovação da PEC da segunda instância, o que é muito mais efetivo do que a
multiplicação de operações policiais de buscas e apreensão”.
Moro lembrou também o que chamou de “distância entre o
discurso e a prática” do atual governo: “O que tem sido noticiado
pelos jornais nos últimos meses é um progressivo loteamento político de
diversos cargos administrativos dentro do governo, com indicações provenientes
principalmente do grupo político denominado Centrão. Na campanha eleitoral, o
presidente havia prometido publicamente rejeitar e coibir essa prática.”
Quanto ao “passe de mágica”, o ex-ministro destacou
que isso não existe quando se trata de implantar políticas da segurança pública
— e lembrou que boa parte das operações recentes da PF resulta de
apurações da força-tarefa da Lava-Jato: “Essas operações, em regra,
são trabalhadas durante meses. Em alguns casos, é questão de anos. Muitas das
operações deflagradas recentemente tiveram origem em apurações realizadas
durante a Operação Lava Jato e no acordo celebrado com a Odebrecht. Então, não
há ‘passe de mágica’, mas um trabalho duro que vinha sendo realizado na
minha gestão e que, em boa parte, foi consequência do meu trabalho como
juiz federal.”
Gilmar Mendes disse achar que o Supremo "deve a Lula um julgamento justo". Como presidente da Segunda Turma da Corte, o ministro declarou que pretende colocar em votação ainda neste semestre o pedido de suspeição do ex-juiz feito pela defesa de Lula em casos envolvendo o petista.
Segundo Tais Oyama, da Folha/UOL, a declaração
foi dada pela presidente do PT, Gleisi Hoffman, em entrevista ao UOL
no dia 9 de junho. O objetivo do partido, disse narizinho, é anular os
processos que condenaram o ex-presidente Lula em segunda instância de
modo que ele possa "decidir se concorrerá" à Presidência em
2022. No dia seguinte, também em entrevista ao UOL, o patético bonifrate
Fernando Haddad fez coro à colega de partido: "Se nós
conseguirmos, e espero que consigamos até o final do ano, ter o julgamento do
processo que pede a suspeição do juiz Sergio Moro, o Lula recupera os direitos
políticos. Aí, ele poderá decidir, e espero que decida favoravelmente, ser ou
não candidato em 2022".
Nesta semana, a mesma Segunda Turma aceitou um pedido da defesa do ex-presidente para que a delação do ex-ministro Antonio Palocci seja excluída da ação penal a que Lula responde por ter recebido da Odebrecht, como "doação", um terreno para o Instituto Lula. Ao proferirem seus votos, tanto Gilmar quanto Lewandowski atacaram duramente o ex-juiz da Lava-Jato. O primeiro disse ver "indícios" de quebra da imparcialidade por parte do magistrado na ação, e o segundo, que Moro agiu no processo com "inequívoca quebra da imparcialidade". Mesmo que a tese da defesa prospere e o processo volte à fase de instrução, nada garante que Lula não seja condenado novamente, mas o risco existe e, quando mais não seja, o criminoso ganha tempo. A avaliação de um grupo mais crítico a Moro é a de que o clima estaria mais confortável para uma decisão contra a operação, devido à recente onda de ataques à Lava-Jato e ao movimento de revisão dos métodos dos procuradores, capitaneado pelo próprio PGR, que está saindo se melhor que a encomenda como vassalo de capitão cloroquina.
Sobre a decisão envolvendo a delação de Palocci, assim se pronunciou Sergio Moro:
“Relativamente às afirmações efetuadas pelos Ministros
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski sobre parcialidade no julgamento do
ex-Presidente Lula, cabe respeitosamente informar:
a) O ex-Ministro Antonio Palocci já havia prestado
depoimento público na mesma ação penal sobre fatos atinentes ao ex Presidente,
portanto a inclusão da delação não revelou nada novo;
b) A inclusão da delação no processo visou a garantia
da ampla defesa, dando ciência de elementos que eram relevantes para o caso e
que ainda não haviam sido juntados aos autos, como exposto no despacho;
c) Eu, como juiz, sequer proferi sentença na ação
penal na qual houve a inclusão da delação de Palocci;
d) a sentença condenatória contra o ex Presidente que
proferi é de julho de 2017, ou seja, foi em outra ação penal e muito antes de
qualquer campanha eleitoral, sendo ainda confirmada pelo TRF-4 e STJ.”
O julgamento da suspeição de Moro já contabilizava dois votos contrários ao bandido — o de Carmem Lúcia e o de Edson Fachin — quando foi suspenso por um pedido de vistas de Gilmar Mendes. Faltam votar Lewandowski e o próprio Mendes, cujas críticas exacerbadas ao ex-juiz não deixam dúvidas de que decidirão em desfavor do xerife. Resta saber como o decano Celso de Mello irá se posicionar.