quinta-feira, 3 de setembro de 2020

JÁ VIMOS ESSE FILME (FINAL)

 


Não sei quando nem se Paulo Guedes vai deixar o governo. Mas sei que, se ele realmente jogar a toalha, Bolsonaro completará a metamorfose que o transformará no populista da vez, e a seu governo numa reedição patética da gestão da nefelibata da mandioca. Por óbvias, as consequências dessa tragédia dispensam considerações adicionais. Limito-me, pois, a reproduzir mais um texto lapidar de Josias de Souza:

No dia em que o país foi informado de que o coronavírus aplicou na economia brasileira um tombo de 9,7% no segundo trimestre deste ano pandêmico de 2020, Paulo Guedes exercitou o seu papel preferido — o papel de animador de auditório. É natural que ministros da Economia queiram passar mensagens otimistas. Mas Guedes exagera.

Guedes disse coisas assim: "Como a velocidade da luz é diferente da velocidade do som, você vê um raio muito cedo e o som chega muito depois. É a mesma coisa com a economia."

Para o ministro, o PIB desastroso é como "o barulho do raio" que caiu "lá atrás." Agora, disse ele, "nós estamos decolando em V". Decolar em V significa que a economia bate no fundo do poço e volta rapidamente para uma trajetória de crescimento.

O ministro dizia a mesma coisa no final de 2019, quando ainda não havia vírus e ele entregou um pibinho anual de 1,1%. Previa que a economia entraria em 2020 em franca recuperação. Era lorota. Segundo o IBGE, o PIB caiu 2,5% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o último trimestre do ano passado.

Esperava-se que Bolsonaro desse mão forte a seu Posto Ipiranga, e que o governo tivesse rumo na economia. O que se verifica é outra coisa. O ministro da Economia demora a perceber que o presidente lhe aplicou uma espécie de mata-leão político.

Guedes tenta livrar sua agenda de reformas da imobilização imposta por Bolsonaro. Obteve anteontem, com um ano de atraso, o compromisso do presidente de desengavetar a reforma administrativa.

Durante a pandemia, o general da banda mastigou o pão de ló que a oposição amassou no Congresso ao aprovar um vale corona de R$ 600. Renovou o auxílio até dezembro, com o valor de R$ 300. E prepara o lançamento de um Super Bolsa Família. Apresenta a conta para o ex-superministro, que não sabe de onde vai tirar o dinheiro para cobrir as despesas que o populismo do chefe encosta no deficit público.