Não sei quando nem se Paulo Guedes vai
deixar o governo. Mas sei que, se ele realmente jogar a toalha, Bolsonaro
completará a metamorfose que o transformará no populista da vez, e a seu governo
numa reedição patética da gestão da nefelibata da mandioca.
No dia em que o país foi informado de que o coronavírus
aplicou na economia brasileira um tombo de 9,7% no segundo trimestre deste ano
pandêmico de 2020, Paulo Guedes exercitou o seu papel preferido — o
papel de animador de auditório. É natural que ministros da Economia queiram
passar mensagens otimistas. Mas Guedes exagera.
Guedes disse coisas assim: "Como a velocidade
da luz é diferente da velocidade do som, você vê um raio muito cedo e o som
chega muito depois. É a mesma coisa com a economia."
Para o ministro, o PIB desastroso é como "o
barulho do raio" que caiu "lá atrás." Agora, disse
ele, "nós estamos decolando em V". Decolar em V significa que
a economia bate no fundo do poço e volta rapidamente para uma trajetória de
crescimento.
O ministro dizia a mesma coisa no final de 2019, quando
ainda não havia vírus e ele entregou um pibinho anual de 1,1%. Previa que a
economia entraria em 2020 em franca recuperação. Era lorota. Segundo o IBGE,
o PIB caiu 2,5% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o
último trimestre do ano passado.
Esperava-se que Bolsonaro desse mão forte a seu Posto
Ipiranga, e que o governo tivesse rumo na economia. O que se verifica é
outra coisa. O ministro da Economia demora a perceber que o presidente lhe
aplicou uma espécie de mata-leão político.
Guedes tenta livrar sua agenda de reformas da
imobilização imposta por Bolsonaro. Obteve anteontem, com um ano de atraso,
o compromisso do presidente de desengavetar a reforma administrativa.