domingo, 22 de novembro de 2020

A POLARIZAÇÃO EMBURRECE, O FANATISMO CEGA, MAS, MESMO CEGOS, BURROS ZURRAM.


A eleição de Joe Biden completa três semanas na próxima terça-feira, e Donald Trump ainda não se conformou com a derrota. No domingo passado (15), chegou a reconhecer a vitória do adversário, mas com ressalvas. "Ele venceu porque a eleição foi manipulada", escreveu o ainda presidente em sua conta no Twitter. Momentos depois, fez nova publicação, mudando o tom da anterior: "Eleições fraudadas. Venceremos!

Dado o ineditismo da situação, a pergunta é: O que acontece se Trump se recusar a deixar a Casa Branca e o cargo de presidente? A resposta é: nada. Pelo menos até 20 de janeiro de 2021. A partir de então, o insurrecto pode ser defenestrado à força. Até lá, ele vai perseverar em sua estúpida tragicomédia. 

A tradição da aceitação pública da derrota eleitoral foi estabelecida pelo democrata William Jennings Bryan em 1896. Depois de perder para o republicano William McKinley, Bryan enviou um telegrama de felicitações com a seguinte mensagem: “Apresso-me a dar os meus parabéns. Submetemos o assunto ao povo americano, e sua vontade é lei.”

Não seria de esperar de alguém como Donald Trump a observância da tradição ou colaboração para uma transferência pacífica de poder. Mas a transição é obrigatória por lei e já está sendo tocada pelo alto escalão da Casa Branca, segundo reportagem da CNN americana. Mesmo assim, o grande homem dos cabelos alaranjados parece não conceber a ideia de uma derrota. Resta saber até que ponto vai chegar esse festival de imbecilidades. 

O fervor partidário e a profunda divisão que marcou essa eleição parecem exigir palavras que articulem um apelo sincero pela unidade em uma nação dividida. Biden disse de forma consistente que respeitaria a vontade do povo em uma eleição livre e justa, enquanto clamou por calma e unidade entre todos os americanos. A recusa inabalável de Trump em prometer respeitar os resultados de uma eleição em caso de derrota — tanto em 2016 quanto em 2020 — e a emoção que ele provoca em sua base ao tachar a eleição de fraude sugerem que ele dificilmente fará uma saída elegante. 

Como o que mais tem neste mundo é otário disposto a bater palmas pra maluco dançar, Jair Bolsonaro macaqueia seu amado ídolo e não só hesita em reconhecer a vitória de Biden como se recusa a cumprimentá-lo por ter sido eleito presidente da maior potência mundial.

No Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão, auto-convertido em tradutor das excentricidades de Bolsonaro, declarou: "É óbvio que o presidente, na hora certa, vai transmitir os cumprimentos do Brasil a quem for eleito." 

Nessa matéria, quem escolhe o momento exato economiza muito tempo. E Bolsonaro, claramente, mata o tempo, desperdiça sua hora. Se o Brasil tivesse um chanceler, o capitão da caverna sem luz já teria se rendido à lógica: primeiro, o ministro Ernesto Araújo divulgaria os cumprimentos do chefe a Biden; depois, se equiparia para extrair da briga entre Estados Unidos e China todas as vantagens que o Brasil pudesse auferir. 

A questão é que o ministro Ernesto Araújo, como Bolsonaro, é movido pela irracionalidade.