Quem tem padrinho não morre pagão, diz o
ditado. A questão é que há Padrinhos e padrinhos; apadrinhamentos “de
peso” e apadrinhamentos “que são um peso”.
Em 2018, as urnas pariram três colossos: o presidente eleito (ora sem partido) e os candidatos do PSL e do Novo. Passados dois anos, os resultados das eleições municipais podem comprovar o que os institutos de pesquisa vêm prenunciando: uma parte significativa da récua de muares providas de título eleitoral tropeçou na conclusão de que extremados farsantes e pseudo apolíticos não é a solução.
O site Brasil de Fato analisou a última pesquisa de intenção de votos para as prefeituras das 26 capitais do país. O PSL, partido alavancado por Bolsonaro e que ainda mantém em seus quadros importantes figuras da extrema-direita, lançou 14 candidatos para disputar as prefeituras das capitais. O capitão Wagner, candidato em Fortaleza, é o único que tem chances de passar para o segundo turno, muito provavelmente porque esconde o presidente em suas propagandas e redes sociais. Fernando Francischini, com 6% das intenções de voto em Curitiba (PR), terá que operar um milagre para impedir a vitória em primeiro turno de Rafael Greca, candidato à reeleição pelo DEM.
Nosso amado líder havia dito que se manteria afastado
das eleições municipais. Depois, com a falta de coerência que lhe é peculiar, resolveu
apoiar seis candidatos a prefeito, entre os quais Celso Russomano em São
Paulo e Marcelo Crivella no Rio. Ambos são filiados ao Republicanos — partido
que abriga o senador-rachadinha e o vereador federal, filhos do presidente. A julgar pelos resultados das últimas pesquisas, nenhum
dos dois tem chances reais de chegar ao segundo turno. Pior: ambos despencaram
nas pesquisas depois que o capitão-cloroquina passou a apoiá-los abertamente
(mais detalhes na postagem anterior).
Russomano disputou a prefeitura de São Paulo em 2012
e 2016. Nas duas vezes, disparou na frente e subiu feito rojão. Nas duas vezes, entrou em parafuso e foi
eliminado do páreo no primeiro turno. Diante disso, não causa estranheza seu “derretimento”: segundo levantamento da XP/Ipespe divulgado na última
quinta-feira, o apadrinhado do estadista de fancaria, com 12% das intenções de voto, está tecnicamente empatado
com Guilherme Boulos (Psol) e Márcio França (PSB). Quem lidera
a corrida, com 34%, é o atual prefeito e candidato á reeleição Bruno Covas 34% (que varreu para debaixo do tapete o apadrinhamento do governador tucano João Doria, mas isso é outra conversa).
Em entrevista publicada n’O GLOBO em 14 de outubro, Celso Russomano, vulgo "cavalo paraguaio", afirmou que só se decidiu concorrer porque o presidente lhe prometeu apoio: "Eu o conheço há muito tempo”, disse Bolsonaro. E ajuntou: “Russomano foi deputado federal comigo. Eu sou capitão do Exército e ele é tenente da Aeronáutica. Então um capitão do Brasil e um tenente na prefeitura de São Paulo. Ele é a minha pedida para a cidade. Quem não escolheu ainda e puder escolher, a gente agradece”. Depois da queda nas pesquisas, o eterno defensor dos direitos do consumidor removeu de seu jingle a menção ao padrinho e intensificou os ataques a Covas.
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Elsinho Mouco, marqueteiro responsável pela campanha de Russomano, negou que houve intenção de excluir o presidente das peças publicitárias e disse que “motivos circunstanciais” fizeram com que seu nome não aparecesse nas inserções do começo da semana. “O Bolsonaro vai continuar sendo citado”, afirmou o publicitário. No final do mês passado, Russomano voltou a citar o padrinho em seu horário eleitoral e prometeu implementar em São Paulo um auxílio emergencial nos moldes do Renda Brasil. O programa do governo federal, contudo, nunca saiu do papel e foi enterrado pelo ídolo dos bolsomínions.
Situação análoga à de São Paulo se verifica no Rio, onde o emedebista
Eduardo Paes lidera a disputa com 34% das preferências, de acordo com a
pesquisa Datafolha divulgada no último dia 11. Crivella está em
segundo lugar, com 14%, tecnicamente empatado com a
pedetista Delegada Martha Rocha e a petista Benedita da Silva.
Ao que tudo indica, o Messias que não miracula vem andando na ponta
dos pés para não incomodar o Centrão. No que sua excelência faz muito bem. Embora
estejam cada vez mais alinhadas ao governo, as marafonas do Congresso podem se
voltar contra o governante depois da eleição. Assim como os tubarões farejam
sangue, políticos do Centrão farejam um pato-manco a léguas de
distância.
Observação: O Partido Novo, que em 2018 celebrou a eleição de
oito deputados federais e de seu primeiro governador, Romeu Zema, em Minas Gerais,
deve ficar de fora do segundo turno. A legenda lançou 11 candidatos à prefeitura nas
capitais e não possui chances em nenhuma.
Diferentemente da apuração nos EUA, aqui por
estas bandas o resultado das urnas é conhecido poucas horas depois do encerramento do pleito. A conferir.