sábado, 14 de novembro de 2020

SOBRE PESQUISAS E ELEIÇÕES MUNICIPAIS


Sempre tive ressalvas quanto a estatísticas e, por extensão, às pesquisas de intenção de voto feitas durante as campanhas eleitorais. Sobre estatísticas, respaldo minhas suspeitas na situação supostamente confortável (em termos de temperatura média) de um cidadão com a cabeça no forno e os pés no freezer. Sobre as pesquisas, basta comparar os resultados das abordagens com a apuração das urnas. Vejamos um exemplo.

Às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018, todas as pesquisas davam de barato a vitória de Dilma (que disputava uma cadeira no Senado pelo estado das Minas Gerais) e a derrota de Bolsonaro no segundo turno, fosse quem fosse o adversário da vez. Faltou combinar com as urnas: a anta pedanta amargou um melancólico 4º lugar, enquanto o capitão venceu o bonifrate do presidiário de Curitiba por 10,7 milhões de votos.

Em linhas gerais, Ibope, Datafolha, Paraná Pesquisas e afins usam critérios científicos e dados fornecidos pelo IBGE, TSE etc. para definir uma “amostra” da população que represente fielmente todo o colégio eleitoral de um determinado município, estado ou país (conforme o caso). O objetivo é obter, a partir do menor número possível de entrevistas, a eficiência pretendida — que corresponde geralmente a um nível de confiança de 95%, com uma margem de erro entre dois e três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Como dizia Magalhães Pinto, "a política é como nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito, então olha de novo e elas já mudaram". Na melhor das hipóteses essas pesquisas representam um “instantâneo”  da intenção de voto do eleitorado num determinado momento, desde que se admita, tomando por base o cenário atual, que a opinião de algo entre 2 mil e três mil entrevistados espelhe o que pensam 8.986.687 paulistanos aptos a votar neste domingo. 

Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, a aprovação de Bolsonaro vem diminuindo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Até aí, o instituto tropeçou no óbvio. Tanto é que o apoio explícito do presidente prestou um desserviço aos candidatos do Republicanos (partido do Centrão ao qual se filiaram seus filhos Flávio e Carlos) à prefeitura desses dois municípios: Celso Russomano, que havia largado na frente, agora disputa com Márcio França o terceiro lugar; Marcelo Crivella, embora seja o segundo colocado, está 20 pontos percentuais atrás do demista Eduardo Paes.

O apoio do criminoso Lula aos candidatos petistas também não produziu bons resultados. Em São Paulo, Jilmar Tatto está em 5º lugar, com 6% das intenções de voto; no Rio, Benedita da Silva está em 4º lugar, com 8%. Com padrinhos assim, é melhor permanecer pagão. Bruno Covas, que desde o início da campanha buscou descolar sua imagem do governador João Doria, lidera a disputa, em São Paulo, com 32% das intenções de voto.

TV Cultura realizou na noite da última quinta feira o derradeiro debate entre os candidatos ao Palácio do Anhangabaú. Na pratica, a emissora serviu aos telespectadores uma reprise requentada da patuscada promovida e transmitida pela Band em 1º de outubro. O grande problema (mais uma vez) foi o número de participantes (10) e o tempo concedido para perguntas (1min), respostas (1min), réplicas (30s) e tréplicas (30s). 

No primeiro bloco, os candidatos responderam perguntas feitas pela jornalista Vera Magalhães; nos três blocos seguintes, trocaram perguntas entre si e no último, apresentaram as considerações finais. O nível abissal dos participantes não sugeria uma discussão de alta indagação, focada nos interesses da população, mas o tempo que cada qual tinha para responder as perguntas mal dava para dizer “boa noite, sou fulano(a), votem em mim, muito obrigado(a) e até logo”.

Mesmo sob o jugo do cronômetro implacável do diretor de jornalismo da Cultura, Leão Serva, que funcionou como mediador, Artur do Val mirou suas baterias em Bruno Covas. Mais conhecido como “Mamãe Falei”, o candidato do Patriotas aparece em 5º lugar na pesquisa Datafolha, empatado com petista Jilmar Tatto. Em vários momentos, candidatos de partidos e ideologias distintas formaram dobradinhas para atacar o prefeito tucano, que questionou nível do debate. (Esperava o quê? Uma reunião de notáveis?)

Com 32% das intenções de voto, Covas precisa conquistar mais 12% do eleitorado para liquidar a fatura no primeiro turno. Tomara que consiga. Isso nos livraria do segundo tempo do horário eleitoral obrigatório (que voltará na próxima quinta-feira nos municípios com mais de 200 mil eleitores que não elegerem seus prefeitos neste domingo). Ademais, não boto fé na récua de muares travestidos de eleitor em caso de embate final ser disputado entre os candidatos do PSDB e do PSOL. E o pior é que a possibilidade existe: as intenções de voto no invasor e líder dos sem-teto cresceu de 14% para 16% na última pesquisa, enquanto Russomano despencou de 16% para 14% e Márcio França, de 13% para 12%. 

Deputados e ativistas bolsonaristas investigados nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos contra o STF vêm atuando em favor do afilhado do capitão-cloroquina, mas isso já é outra história e fica para uma outra vez. 

Votem com consciência. Pelo amor de Deus!