Para o caso de alguém ter esquecido, as eleições municipais estão marcadas para o próximo domingo. A boa notícia é que o abominável e insuportável horário político obrigatório no rádio e na TV — que a gente paga para os políticos fazerem nossos ouvidos de penico — deixou de ser veiculado a partir da noite de ontem. A má notícia é que ele pode voltar.
Se houver mais de 200 mil eleitores cadastrados no seu município e, no próximo domingo, nenhum dos postulantes ao cargo de prefeito obtiver 50% mais um voto do total de votos válidos, a diarreia recomeçará depois de 5 dias prosseguirá até a antevéspera do segundo turno. Portanto, não gaste seu estoque de cotonetes antes de hora.
Vale lembrar também que o voto é facultativo apenas para quem tem entre 16 e 18 anos, pessoas com mais de 70 anos e analfabetos. Para os demais, o direito de voto de voto deve ser exercido compulsoriamente (trata-se, dizem, de um “dever cívico”).
Caso não compareça
nem justifique a ausência perante a Justiça Eleitoral, o eleitor relapso estará
sujeito a pena de multa (R$ 3,50) e demais sanções previstas no artigo
7 da Lei nº 4.737 de 15 de Julho de 1965.
Em nossa republiqueta de almanaque há Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Justiça Desportiva, Justiça Militar, e por aí vai. Só falta mesmo é justiça.
O que sobra em leis ao país falta em vergonha cara a governantes, políticos, candidatos a cargos eletivos e distinta companhia.
Tem até lei que abre as portas da cela para traficantes de alto coturno — como o mandachuva do PCC André do Rap — e togado que aplica alegremente, ex officio, tamanha barbaridade, embora tudo pudesse ter sido resolvido com um simples telefonema...
Ah, também tem lei que prevê punições para magistrados que mijam fora do penico. Mas isso é outra conversa.
Aqui tem lei que manda interromper os testes da “vacina chinesa do Doria” porque um voluntário se suicidou. E o contra-almirante que nosso querido Messias que não miracula escalou para presidir a Anvisa teve o desplante de dizer que a suspensão da testagem foi uma decisão técnica e segue um procedimento padrão diante de dúvidas sobre possíveis efeitos colaterais.
Só faltou explicar como, diabos, o suicídio de um
voluntário pode ser considerado um efeito colateral do imunizante que está sendo
testado. Talvez o nobre contra-almirante devesse voltar à escola de oficiais
para aprender a diferenciar "evento adverso grave
não esperado" de “efeito adverso grave
não esperado”.
Voltando ao cerne do problema, digo, da postagem, pode-se acusar os postulantes à prefeitura de Sampa de qualquer coisa, menos de falta de criatividade.
É invejável a capacidade que essa caterva tem de tirar
da cartola soluções mirabolantes para absolutamente todos os problemas da maior
metrópole do país — e de outros problemas que ela possa vir a ter nas próximas
décadas.
Não existe problema difícil, dizem. Enchentes, desemprego,
cracolândia, congestionamentos, segurança pública... Nada disso foi resolvido
até hoje porque faltou trabalho, vontade política, e competência aos prefeitos
anteriores. É curioso que para todo problema complexo sempre há uma solução
simples... e errada.
Entre o elenco de filme de terror de quinta classe travestido de postulante à prefeitura, tem até candidata a vice que já prefeitou o município — há mais de 30 anos, diga-se, quando tinha idade para ser mãe da própria antiguidade (hoje poderia ser avó) — a quem o cabeça da chapa — líder dos “trabalhadores sem-teto” e notório estimulador de invasões — se refere como “a melhor prefeita que São Paulo já teve”.
Na verdade, essa macróbia senhora disputa cabeça
a cabeça, com Celso Pitta, Gilberto Kassab e Fernando Haddad,
o título de pior alcaide de toda a história de São Paulo.
Curiosamente, os candidatos apadrinhados pelo atual
inquilino do Palácio do Planalto e pelo ex-inquilino da cela VIP da
Superintendência da PF em Curitiba afundaram nas pesquisas depois que os
padrinhos se dignaram de participar mais ativamente das campanhas. Em contrapartida, o prefeito
Bruno Covas, candidato à reeleição, que tem feito o possível para
desvincular sua imagem do governador tucano João Doria, aparece em
primeiro lugar nas pesquisas, com 32% das intenções de voto.
Celso Russomanno, do Republicanos, que é o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, derreteu ao longo da campanha. De primeiro colocado nas pesquisas em setembro, com 29% das intenções de voto, ele entrou em parafuso depois que o capitão caverna, embalado pelo noivado com o Centrão, resolveu apoiar o candidato do partido ao qual se filiaram seus filhos Flávio e Carlos.
Segundo a última
pesquisa Datafolha, o eterno defensor dos direitos do consumidor tem 14%
das intenções de voto, dividindo o segundo lugar com Guilherme Boulos
e Márcio França.
Observação: A mesma pesquisa do Datafolha dá conta de que a imagem de Bolsonaro vem piorando. Em São Paulo, a rejeição é de 50% e a aprovação caiu para 23%. No Rio, a piora se deu no lado da aprovação, que caiu de 34% para 28% em apenas uma semana.
Jilmar Tatto, que conta com as bênçãos do criminoso de Garanhuns, despencou de inexpressivos 6% para míseros 4%. Diante desse resultado, setores da esquerda, e até estrelas petistas, passaram a defender a ideia de que Tatto desista de concorrer e o partido trabalhe por Boulos, do PSOL, que aparece em terceiro lugar.
Se a desistência for consumada,
o PT, que já elegeu três prefeitos em São Paulo, trocará o antigo sonho
de hegemonia pela pragmática posição de satélite. Sinal dos tempos.
No que concerne aos postulantes às 55 glândulas mamárias disponibilizadas pela Câmara Municipal de São Paulo, o cenário é ainda mais surreal.
Os vereadores, como se sabe, são os representantes municipais do Poder Legislativo. Em conjunto com os prefeitos, eles trabalham para promover os interesses e o bem-estar da população propondo, discutindo e aprovando as leis que vão guiar a vida dos cidadãos em âmbito municipal — sem mencionar a Lei Orçamentária Anual, que define como serão aplicados os recursos do município.
Isso na teoria, evidentemente.
Na prática, a história é outra: de cada dez propostas aprovadas nos últimos três anos, oito tiveram a ver com nomes de ruas, datas comemorativas e
honrarias (como o título de cidadão paulistano).
Em Sampa, cada vereador ganha R$ 18.990 mensais de salário e tem direito a nomear 18 funcionários, com salários entre R$ 3 mil e R$ 18 mil. Também pode gastar R$ 25 mil por mês com papelaria, transporte, telefonia e correio, entre outros.
Entre janeiro de 2017 e outubro
de 2020 a Câmara aprovou 933 projetos de lei, dos quais 234 foram para criar
datas comemorativas, 222 para nomear e renomear ruas, avenidas e equipamentos públicos,
e 285 são concessões de títulos e honrarias. Dos 55 edis, quatro não disputarão
a reeleição.
Durma-se com um barulho desses.