terça-feira, 10 de novembro de 2020

O GOLPE DO ENTREGADOR

A VIDA É O QUE ACONTECE ENQUANTO ESTAMOS OCUPADOS FAZENDO PLANOS.

Oito meses de pandemia, home office e isolamento social estimularam compras online e pedidos de comida por aplicativos de delivery são um prato cheio para os vigaristas digitais, que se valem da “engenharia social“ para tirar leite de pedra, dar nó em pingo d’água e, claro, “depenar os patos”.

Levantamento feito pelo Procon-SP apurou que, entre março e julho, foram apresentadas ao menos 125 denúncias contra motoboys que fazem entregas pelo iFood ou pela Rappi. A nova maracutaia, batizada de “golpe do entregador” ou “golpe da maquininha”, funciona assim: 

1- O golpista, que é realmente um entregador cadastrado no aplicativo de delivery, usa o chat do aplicativo para pedir ao cliente seu número de WhatsApp (a justificativa pode variar, mas o mais comum é uma alegada falha no canal oficial da empresa). Sem desconfiar de nada, a vítima fornece a informação solicitada.

2 - Agora pelo WhatsApp, o entregador informa ao cliente que o pagamento efetuado via aplicativo também falhou, e diz que está chegando com o pedido e “a maquininha de cartão da empresa”. 

3 - O criminoso entrega a encomenda à vítima e lhe apresenta a "maquininha de cartão da empresa" que obviamente não é da empresa. O incauto insere o cartão e digita a senha no dispositivo, que costuma ter o visor danificado, para evitar a exibição dos dados da transação. Na melhor das hipóteses, o cliente paga a conta pela segunda vez; segundo o Procon-SP, há relatos de pessoas que tiveram até R$ 5 mil subtraídos de suas contas e cartões de crédito.

Optar pelo pagamento no ato da entrega não impede o golpe. Nesse caso, a transação é efetuada com sucesso na maquininha da empresa, mas o entregador alega que “deu erro” e pede ao cliente que torne a inserir o cartão e digitar a senha. A essa altura ele substitui a maquininha da empresa pela sua, sem que a vítima perceba, ou o faz às claras, alegando que o a máquina da loja deu defeito, justificando, assim o uso da maquininha "de backup".

Noutra modalidade, o entregador fajuto não cobra a conta pela segunda vez, mas uma taxa adicional, a pretexto da alta demanda causada pela pandemia. Essa cobrança é feita na maquininha com visor adulterado, para que o cliente não consiga visualizar as informações na tela. Como a maioria das pessoas não desconfia da pegadinha, esse detalhe não chama a atenção, e a maracutaia só é descoberta depois, quando o lançamento aparece no extrato do cartão ou da conta corrente do cliente. 

iFood, Rappi e outras empresas que tiveram entregadores identificados alegam que eles são profissionais independentes e prestam serviço de entrega sem qualquer vínculo jurídico-trabalhista, mas geralmente expulsam os envolvidos e restituem os valores às vítimas, desde que elas apresentarem os respectivos extratos e boletins de ocorrência.

Observação: Quem tiver a infelicidade de cair nesse engodo deve registrar um boletim de ocorrência (por estelionato) e exercer a chamada “representação criminal” (manifestação de vontade da vítima para autorizar a polícia a dar início as investigações). No caso de pagamento com cartão de crédito, é possível solicitar ao banco ou à operadora do cartão o reembolso do valor subtraído. Se o pagamento tiver sido feito com cartão de débito, é importante descobrir a empresa fabricante da maquininha, já que essas transações passam por um processo que envolve o app, o banco e o fabricante do dispositivo, aumentando as chances de o bloqueio e o estorno serem feitos antes que valor seja creditado na conta dos golpistas).