quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O BRASIL É REFÉM DE UM LOUCO NO PODER


Não me culpe pelo título, pois eu não o criei; apenas mantive a epígrafe escolhida por Ricardo Kotscho para o texto publicado no Balaio do Kotscho do portal UOL, onde esse jornalista paulistano escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano. Acompanhe.

"Conter Bolsonaro", suplicava o editorial da Folha do dia 20 de outubro, com chamada na capa. Mas quem vai colocar a camisa de força no capitão enfurecido, fora de controle dos generais, em guerra aberta contra a "vacina comunista da China e do Doria?” “Restará ao Congresso, ao Judiciário e a estados e municípios tomar medidas para que os brasileiros não fiquem sem vacina?”, questionava o jornal.

Gostaria de acreditar nisso, mas acontece que todas as instituições estão hoje aparelhadas pelo presidente, que enfeixa em suas mãos os Três Poderes e as Forças Armadas, com os órgãos técnicos do Ministério da Saúde militarizados e o general de plantão desmoralizado, que ainda não pediu demissão.

Em entrevista à Jovem Pan — emissora líder da rede bolsonarista de rádio e televisão — Bolsonaro dobrou a aposta e anunciou que o governo federal não comprará de jeito nenhum a vacina chinesa desenvolvida pela parceria Sinovac-Butantan, nem que ela seja aprovada pela Anvisa. "A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso", decretou o todo-poderoso presidente.

Pensamento nosso de quem, cara pálida? Quer dizer que a vida de 212 milhões de brasileiros será refém de um louco no poder? Vale tudo para agradar a turma do Face. Até mesmo vidas perdidas. Num surto de megalomania paranóica, Bolsonaro resolveu desafiar a maior potência econômica mundial, nossa maior parceira comercial, colocando em risco a saúde pública só para abater um concorrente, em sua desabalada corrida pela reeleição, e agradar os devotos das redes sociais.

Vejam o que ele disse na entrevista, em seu português trôpego, depois de passar o dia com emissários de Donald Trump, em ofensiva conjunta contra a China: "Tenho certeza que (sic) outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos. A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá".

Pode durar anos? Até lá, num país que já conta com 6,3 milhões de infectados e quase 173 mil vítimas fatais, quantos mais precisarão morrer antes do doutor Jair Messias Bolsonaro liberar uma vacina?

Um louco pode ser esperto, e vice-versa "NÃO SERÁ COMPRADA. O povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM". Governando pelo Twitter, o presidente agora deu para escrever suas mensagens em letras maiúsculas para não restarem dúvidas, como fazem seus seguidores mais fanáticos.

Assim como o editorialista, os leitores do jornal também manifestaram indignação com os últimos acontecimentos da guerra contra a vacina deflagrada pelo capitão-cloroquina. Confira algumas delas:

"Bolsonaro necessita urgentemente de um psiquiatra. Esse senhor é um psicopata... e se diz cristão e evangélico";

"Com um presidente como o que temos, não precisamos de pandemia nem de qualquer fato externo para afundar o país";

"No Brasil que tem Bolsonaro, a realidade supera a mais delirante ficção política. Bolsonaro ignorou a pandemia do coronavírus e agora é contra a vacinação. Trata-se de um genocida compulsivo";

"Agora a ordem é não comprar a vacina chinesa por estar vinculada à figura de um adversário político. Até quando o Brasil será destruído pela insanidade de um louco no poder?”.

Quem ainda defende o presidente diz que ele não é louco, mas muito esperto. Uma coisa não elimina a outra. Vida que segue.