sexta-feira, 5 de março de 2021

O FIM DO ADOBE FLASH

OS TOLOS DIZEM QUE APRENDEM COM OS PRÓPRIOS ERROS; EU PREFIRO APRENDER COM OS ERROS DOS OUTROS.

Em janeiro deste ano, para desespero dos fãs de antigos jogos pelo navegador e alívio da maioria dos especialistas em cibersegurança o Adobe Flash foi compulsória e definitivamente aposentado.

Criado na década de 1990 pela extinta Macromedia, o Flash viralizou nos anos 2000, quando foi largamente utilizado na criação de animações vetoriais cujos arquivos (no formato .swf, de “Shockwave Flash File”) reuniam gráficos, vídeos, sons e scripts, e eram por um plugin multiplataforma nativo do navegador ou instalado pelo próprio usuário.

Observação: No âmbito da informática, “plugin” (ou “add-on”, ou ainda “extensão”) é o nome que se dá a programinhas acessórios que ampliam a gama de recursos do software principal. Essa solução é largamente usada em navegadores de internet, e foi pensada para facilitar a ampliação das funcionalidades do software sem que para isso seja preciso reescrevê-lo inteiramente.

Mesmo naqueles tempos remotos, quando a rede dial-up era a modalidade padrão de conexão com a Internet, e a despeito de o recurso demandar mais largura de banda do que a maioria dos usuários domésticos dispunha, as webpages que não incluíssem ao menos um banner piscante ou um filminho de abertura com musiquinha e bolinha pulando eram consideradas “sem graça”.  

Em 2005, a Adobe Systems comprou a Macromedia, ampliou a gama de recursos do software e rebatizou-o de Adobe Flash. Mas popularidade e segurança não andam de mãos dadas, e um sem-número de bugs no plugin do Flash expôs os navegadores a invasões e roubos de dados. E mal a Adobe fechava uma brecha, outra ainda mais perigosa era descoberta e explorada pelos cibercriminosos, num círculo vicioso sem fim.

O problema da segurança e o fato de animações SWF deixarem os dispositivos mais lentos e instáveis — e drenarem as baterias dos dispositivos portáteis com uma volúpia de dar inveja aos devotos da seita de São Lula pelo caixa da Petrobras — levaram a Apple a ignorar conteúdos em Flash. Mais recentemente, fabricantes de navegadores se juntaram ao time dos que rejeitavam as animações da Adobe, a começar pelo Google (desenvolvedor do Chrome), que foi pioneiro na análise do conteúdo em Flash e bloqueio de websites em que ele fosse desnecessário ou “não prioritário” (como as inevitáveis bolinhas que pulam em banners de publicidade). A Fundação Mozilla, desenvolvedora do Firefox), logo seguiu o exemplo, chegando mesmo a bloquear o plugin e “encorajar a adoção de tecnologias mais seguras e estáveis”.

Como alternativa, os desenvolvedores apostaram no HTML5 Canvas ou ressuscitaram o pré-histórico gif animado. Até o player de vídeo do Youtube foi reformulado para se livrar do plugin, levando a Adobe a anunciar que sepultaria o Flash a partir de janeiro deste ano. Mas nem todo mundo migrou para outras ferramentas, e houve até quem se unisse em prol da exumação do famigerado plugin.  

O atestado de óbito do Flash foi lavrado no dia 1º de janeiro, mas o fabricante concedeu mais 11 dias a quem desejasse velar o corpo antes do devido sepultamento. Por uma daquelas malfadadas ironias do destino (como a que nos obrigou a eleger Bolsonaro), um sistema de ferrovias da cidade de Dalian, no norte da China, tornou-se vítima do fim do Adobe Flash: no dia 12 de janeiro, o painel de controle da rede, desenvolvido na linguagem ActionScript, própria da tecnologia Flash, apresentou instabilidades durante cerca de 20 horas.

Fala-se que os desligamentos e bloqueios que a Adobe colocou em prática para encerrar de vez a tecnologia foram a causa do acidente, mas esse não é realmente o ponto. A mídia mencionou problemas de despacho e emissão de bilhetes, mas as autoridades negaram o problema. Ao fim e ao cabo, a equipe de suporte técnico retirou todas as barreiras e fez o Adobe Flash funcionar nos computadores das estações ao longo da linha, e tudo voltou ao normal. Mas é preciso ter em mente que parte de uma infraestrutura crítica está usando agora (embora para tarefas não críticas) uma tecnologia insegura e sabidamente desatualizada.

O programa atualmente existe apenas para Windows; usuários de outros sistemas operacionais terão que procurar alternativas para executar conteúdo em Flash. Inúmeras empresas ainda contam com a tecnologia para alguns serviços — na maioria das vezes internos. A título de curiosidade, pesquise no Goolgecomo executar o Flash após 2021” e você encontrará vários links com instruções — como instalar uma versão do Flash Player anterior ao recurso de parada de emergência —que, obviamente, não é recomendável seguir, seja porque usar versões antigas de qualquer software envolve riscos, seja porque baixar software de sites não oficiais potencializa esses riscos.

Por essas e outras, se você ainda precisa realmente do Flash, use um ambiente virtual para executar versões antigas e soluções alternativas improvisadas — e faça-o apenas quando e se for necessário. Adicionalmente, instale uma solução de segurança para detectar tentativas de exploração de vulnerabilidade, mesmo que você esteja usando uma solução alternativa que pareça segura.