A CIÊNCIA NUNCA RESOLVE UM PROBLEMA SEM CRIAR PELO MENOS OUTROS DEZ.
Para concluir esta breve sequência sobre segurança digital,
relembro que em algum momento da história da informática os cibercriminosos se
deram conta de que o malware poderia ser um aliado valioso se,
em vez de danificar o sistema alvo, monitorasse os hábitos de navegação das
vítimas, bisbilhotasse seus arquivos sigilosos e capturasse credenciais de
login, números de cartões de crédito e que tais.
Manter o Windows e os aplicativos
atualizados, contar com a proteção de um arsenal de segurança responsável,
criar senhas seguras, desconfiar (sempre) de anexos e hyperlinks recebidos por
email e/ou compartilhados em programas mensageiros e/ou redes sociais, por
exemplo, são dicas largamente divulgadas, mas nem sempre observadas. E “o
problema com as consequências (como
observou o Conselheiro Acácio, personagem do romance O Primo Basílio,
de Eça de Queiroz), é que elas sempre vêm depois”.
É fato que ainda não inventaram um software de
segurança idiot proof a ponto de proteger usuários relapsos de si mesmos,
mas também é fato que ninguém apresentou uma solução melhor do que usar esse
tipo de ferramenta. Se ela não garante proteção absoluta como spywares, trojans, ransomwares e
assemelhados, ao menos minimiza os riscos de o usuário ser vítima desses
programinhas mal-intencionados.
Deixar o computador desligado é uma solução, mas não
uma alternativa válida, a exemplo de não conectar a Internet — nos tempos que
correr, isso seria como usar uma Ferrari apenas para ir buscar pão na
padaria da esquina. Existe uma maneira menos absurda — mas ainda radical, pelo
menos no âmbito doméstico — de operar o computador livremente, sem se preocupar
com a segurança e a integridade do sistema. Essa alternativa, conhecida como “virtualização”,
consiste basicamente em instalar um aplicativo que cria uma "imagem"
das definições e configurações do computador e as recarrega a cada
inicialização. Assim, sempre o usuário ligar o computador, tudo será como
dantes no quartel de Abrantes, independentemente da ação de malwares e/ou das “barbeiragens”
cometidas pelo próprio usuário durante a sessão anterior.
Observação: A virtualização faz
lembrar do filme "Feitiço do Tempo", no qual um repórter
meteorológico ranzinza (Bill Murray) foi encarregado pela quarta vez
consecutiva de cobrir uma festividade interiorana chamada de "Dia da
Marmota" e, após pernoitar na cidadezinha devido a uma nevasca, passa
a reviver a cada manhã o dia da festa, como se o tempo tivesse deixado de
passar (clique aqui para
assistir).
O detalhe (e o diabo mora nos detalhes) é que eventuais
atualizações e correções do Windows, de seus componentes e dos
demais aplicativos, instalações e remoções de software, apagamento de arquivos
e pastas, enfim, quaisquer alterações realizadas legítima e intencionalmente
durante uma sessão são desfeitas na próxima inicialização. Claro que é
possível criar exceções ou desativar a ferramenta antes de fazer as
modificações desejadas, mas até aí morreu o Neves.
Alguns anos atrás, ao avaliar aplicativos de
virtualização para embasar um artigo, achei-os interessantes para donos de
lanhouses, cibercafés e afins, mas restritivos demais para usuários
domésticos. Nesta revisão, percebi claramente que as ferramentas estão bem mais
amigáveis, não o bastante para recomendar seu uso, mas o suficiente para
sugerir, a quem interessar possa, o Faraonics Deep
Freeze e o Shadow
Defender, que oferecem versões de teste, mas exigem registro após o
prazo de avaliação, o que não acontece com o Reboot Restore, que é freeware.
Seja qual for a sua escolha, só ative a proteção depois de particionar o HDD (veja
como fazer isso na sequência de 5 postagens iniciada por esta
aqui) e mover para a partição que não será virtualizada seus arquivos
de texto, planilhas, enfim, tudo o que você costuma alterar constantemente.
Cumpre mencionar que reverter ações malsucedidas nas
edições 9x do Windows exigia executar o scanreg/restore
via prompt
de comando — uma tarefa complicada para os poucos leigos e iniciantes
que sabiam da existência desse recurso). Sensível a esse problema, a Microsoft
criou o System Restore (ou restauração
do sistema), que pretendia introduzir no WinXP — que não só foi
um sucesso absoluto de crítica e de público como se tornou a edição mais
longeva da história do Windows —, mas acabou adicionando aos recursos
nativos do Windows Millennium Edition, que lançou a toque de caixa em
setembro de 2000, para aproveitar o apelo mercadológico da “virada do milênio”,
mas acabou sendo um retumbante fiasco.
Em linhas gerais, o System Restore cria backups das
configurações do Registro e
de outros arquivos essenciais ao funcionamento do computador em intervalos
regulares, ou sempre que alguma modificação abrangente é procedida (note que
também é possível "pontos de restauração" manualmente). Assim,
caso o PC se torne instável ou seja incapaz de reiniciar, o
usuário pode tentar reverter o sistema a um ponto anterior através
da interface gráfica e, com um pouco de sorte, resolver o problema com relativa
facilidade.
Observação: O desairoso WinME sucedeu
ao Win98SE (que muitos consideravam “o melhor Windows de todos os
tempos), mas não conseguiu se legitimar como seu virtual sucessor — missal da
qual o XP, lançado 13 meses depois, se desincumbiu com um pé nas costas.
Dentre seus muitos problemas do ME, relembro a lentidão, os travamentos constantes
e a profusão de telas
azuis da morte — decorrentes, em grande medida, da maneira como o
sistema suportava aplicações que dependiam de compatibilidade integral com o MS-DOS.
Além disso, se PC ficasse ocioso por mais de 10 minutos, mover o cursor do
mouse podia resultar no congelamento do sistema, acompanhado ou não de uma
indesejável tela azul. A ocorrência desse erro dependia da configuração do
computador, mas quem teve a infelicidade de ser aporrinhado por ele jamais o
esqueceu. Ademais, a própria restauração do sistema se tornou problemática
no ME a partir de 8 de setembro de 2001, já que um erro na forma como o
recurso passou a marcar os pontos a partir dessa data tornou a ferramenta
incapaz de encontrá-los, e mesmo quando a restauração era realizada com sucesso
podia acontecer de malwares serem ressuscitados junto com os arquivos legítimos,
o que tornava a restauração inútil quando o propósito era recuperar o sistema
de uma eventual infecção.