quinta-feira, 22 de abril de 2021

AINDA SOBRE A SEGURANÇA DIGITAL (CONCLUSÃO)

A CIÊNCIA NUNCA RESOLVE UM PROBLEMA SEM CRIAR PELO MENOS OUTROS DEZ.

Para concluir esta breve sequência sobre segurança digital, relembro que em algum momento da história da informática os cibercriminosos se deram conta de que o malware poderia ser um aliado valioso se, em vez de danificar o sistema alvo, monitorasse os hábitos de navegação das vítimas, bisbilhotasse seus arquivos sigilosos e capturasse credenciais de login, números de cartões de crédito e que tais.

Manter o Windows e os aplicativos atualizados, contar com a proteção de um arsenal de segurança responsável, criar senhas seguras, desconfiar (sempre) de anexos e hyperlinks recebidos por email e/ou compartilhados em programas mensageiros e/ou redes sociais, por exemplo, são dicas largamente divulgadas, mas nem sempre observadas. E “o problema com as consequências (como observou o Conselheiro Acácio, personagem do romance O Primo Basílio, de Eça de Queiroz), é que elas sempre vêm depois”.

É fato que ainda não inventaram um software de segurança idiot proof a ponto de proteger usuários relapsos de si mesmos, mas também é fato que ninguém apresentou uma solução melhor do que usar esse tipo de ferramenta. Se ela não garante proteção absoluta como spywarestrojansransomwares e assemelhados, ao menos minimiza os riscos de o usuário ser vítima desses programinhas mal-intencionados.

Deixar o computador desligado é uma solução, mas não uma alternativa válida, a exemplo de não conectar a Internet — nos tempos que correr, isso seria como usar uma Ferrari apenas para ir buscar pão na padaria da esquina. Existe uma maneira menos absurda — mas ainda radical, pelo menos no âmbito doméstico — de operar o computador livremente, sem se preocupar com a segurança e a integridade do sistema. Essa alternativa, conhecida como “virtualização”, consiste basicamente em instalar um aplicativo que cria uma "imagem" das definições e configurações do computador e as recarrega a cada inicialização. Assim, sempre o usuário ligar o computador, tudo será como dantes no quartel de Abrantes, independentemente da ação de malwares e/ou das “barbeiragens” cometidas pelo próprio usuário durante a sessão anterior.

Observação: virtualização faz lembrar do filme "Feitiço do Tempo", no qual um repórter meteorológico ranzinza (Bill Murray) foi encarregado pela quarta vez consecutiva de cobrir uma festividade interiorana chamada de "Dia da Marmota" e, após pernoitar na cidadezinha devido a uma nevasca, passa a reviver a cada manhã o dia da festa, como se o tempo tivesse deixado de passar (clique aqui para assistir).

O detalhe (e o diabo mora nos detalhes) é que eventuais atualizações e correções do Windows, de seus componentes e dos demais aplicativos, instalações e remoções de software, apagamento de arquivos e pastas, enfim, quaisquer alterações realizadas legítima e intencionalmente durante uma sessão são desfeitas na próxima inicialização. Claro que é possível criar exceções ou desativar a ferramenta antes de fazer as modificações desejadas, mas até aí morreu o Neves.  

Alguns anos atrás, ao avaliar aplicativos de virtualização para embasar um artigo, achei-os interessantes para donos de lanhouses, cibercafés e afins, mas restritivos demais para usuários domésticos. Nesta revisão, percebi claramente que as ferramentas estão bem mais amigáveis, não o bastante para recomendar seu uso, mas o suficiente para sugerir, a quem interessar possa, o Faraonics Deep Freeze e o Shadow Defender, que oferecem versões de teste, mas exigem registro após o prazo de avaliação, o que não acontece com o Reboot Restore, que é freeware. Seja qual for a sua escolha, só ative a proteção depois de particionar o HDD (veja como fazer isso na sequência de 5 postagens iniciada por esta aqui) e mover para a partição que não será virtualizada seus arquivos de texto, planilhas, enfim, tudo o que você costuma alterar constantemente.

Cumpre mencionar que reverter ações malsucedidas nas edições 9x do Windows exigia executar o scanreg/restore via prompt de comando — uma tarefa complicada para os poucos leigos e iniciantes que sabiam da existência desse recurso). Sensível a esse problema, a Microsoft criou o System Restore (ou restauração do sistema), que pretendia introduzir no WinXP — que não só foi um sucesso absoluto de crítica e de público como se tornou a edição mais longeva da história do Windows —, mas acabou adicionando aos recursos nativos do Windows Millennium Edition, que lançou a toque de caixa em setembro de 2000, para aproveitar o apelo mercadológico da “virada do milênio”, mas acabou sendo um retumbante fiasco.

Em linhas gerais, o System Restore cria backups das configurações do Registro e de outros arquivos essenciais ao funcionamento do computador em intervalos regulares, ou sempre que alguma modificação abrangente é procedida (note que também é possível "pontos de restauração" manualmente). Assim, caso o PC se torne instável ou seja incapaz de reiniciar, o usuário pode tentar reverter o sistema a um ponto anterior através da interface gráfica e, com um pouco de sorte, resolver o problema com relativa facilidade.

Observação: O desairoso WinME sucedeu ao Win98SE (que muitos consideravam “o melhor Windows de todos os tempos), mas não conseguiu se legitimar como seu virtual sucessor — missal da qual o XP, lançado 13 meses depois, se desincumbiu com um pé nas costas. Dentre seus muitos problemas do ME, relembro a lentidão, os travamentos constantes e a profusão de telas azuis da morte — decorrentes, em grande medida, da maneira como o sistema suportava aplicações que dependiam de compatibilidade integral com o MS-DOS. Além disso, se PC ficasse ocioso por mais de 10 minutos, mover o cursor do mouse podia resultar no congelamento do sistema, acompanhado ou não de uma indesejável tela azul. A ocorrência desse erro dependia da configuração do computador, mas quem teve a infelicidade de ser aporrinhado por ele jamais o esqueceu. Ademais, a própria restauração do sistema se tornou problemática no ME a partir de 8 de setembro de 2001, já que um erro na forma como o recurso passou a marcar os pontos a partir dessa data tornou a ferramenta incapaz de encontrá-los, e mesmo quando a restauração era realizada com sucesso podia acontecer de malwares serem ressuscitados junto com os arquivos legítimos, o que tornava a restauração inútil quando o propósito era recuperar o sistema de uma eventual infecção.