terça-feira, 18 de maio de 2021

OU O BRASIL SE LIVRA DOS POPULISTAS, OU OS POPULISTAS ACABAM COM O BRASIL


Depois de uma semana repleta de más notícias para o Planalto na CPI da Covid, esta começa com um depoente que tem pouquíssimos amigos no Senado  mesmo entre governistas , que foi defenestrado do governo há cerca de dois meses e que já demonstrou que não ter a mesma lealdade de antes ao capitão-cloroquina. 

Falo do ex-chanceler Ernesto Araújo, que, segundo Robson Bonin publicou na coluna Radar, não deve ganhar como prêmio de consolação um posto no exterior. De acordo com um integrante da cúpula do Itamaraty, a tendência é que o olavista fique em Brasília mesmo, mas ainda não se sabe em que função.

Os senadores deverão questionar Araújo sobre sua turbulenta relação com a China, que pode ter custado ao Brasil o atraso na produção de imunizantes. Vale lembrar que no começo do mês o dono do blog “Metapolítica 17 — contra o globalismo” foi ao Twitter fazer um desabafo sobre sua passagem e saída do governo e deixou escapar críticas ao ex-chefe. “Hoje o povo brasileiro tem a oportunidade de recuperar sua esperança, ao pedir ao PR Bolsonaro simplesmente que ele volte a ser o Presidente eleito em 2018, aquele que prometeu derrotar o sistema, o líder de uma transformação histórica e constitucional, o portador de uma missão”, escreveu o ex-chanceler.

Mas o depoimento mais esperado da semana é o do ex-ministro Pazuello, que deve ser ouvido amanhã, quando então quem estará na berlinda não será ele, mas o ex-capitão que o subordinava (um manda e o outro obedece). 

Provocado por um habeas corpus impetrado pela AGU, o ministro Ricardo Lewandowski concedeu ao general o direito de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo — o que não deixa de ser curioso, uma vez que Pazuello será ouvido na condição de testemunha, não de investigado. 

Quanto às demais perguntas, o depoente não só deverá responder como falar a verdade (o artigo 342 do Código Penal explicita que o ato de mentir ou deixar de falar a verdade em juízo, processo administrativo ou inquérito policial constitui crime de falso testemunho). Aliás, por faltar com a verdade para não comprometer o chefe o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten quase recebeu voz de prisão.

Noves fora a tropa de choque do Planalto, os senadores que integram a CPI estão mais interessados no suserano do que no patético vassalo — que era apenas o homem errado na hora errada. 

Segundo Eliane Cantanhede, o ministro Lewandowski deve ter flertado com a ideia de simplesmente negar o habeas corpus que a AGU impetrou em favor de Pazuello, mas pesou na decisão do togado o fato de o Supremo já ter concedido o direito ao silêncio a depoentes de CPIs em várias oportunidades.

Os puxa-sacos do Planalto cantaram vitória, e os senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros Bolsonaro “lamentaram” o despacho de Lewandowski e repetiram resignadamente que “decisão da Justiça se cumpre, goste-se ou não”. Tudo teatro. Na vida real, a cúpula da CPI celebrou e o governo reclamou.

Pazuello tem motivo para se sentir desconfortável — a exemplo do alto comando do Exército, que conviveu durante dez meses com o vexame de ter um dos seus fazendo bancando a marionete enquanto o “gabinete do ódio” palaciano espancava a ciência e ditava as regras. Bolsonaro, por seu turno, sempre quis ter um “cumpridor de ordens” à frente da Saúde, tanto é que empurrou dois médicos porta afora e aboletou na cadeira um esbirro subserviente (e incompetente).

Até o esclarecidíssimo “cidadão comum” se deu conta desse descalabro: de acordo com o Datafolha, a aprovação do ministério despencou dos 76% cravados sob Mandetta para 28% com Pazuello. E a reprovação respingou na popularidade do capitão, cuja “atuação no combate à pandemia” é malvista por 51% dos entrevistados. 

Visando jogara para a plateia e garantir votos para se reeleger (que Deus nos livre dele e de seu principal adversário), Bolsonaro inaugura obras deixadas por antecessores onde seu governo investiu poucos recursos. Em 5 de novembro do ano passado, o presidente inaugurou mais uma etapa do Canal do Sertão de Alagoas, que levará água do Rio São Francisco para 42 município do estado. 

O canal e as adutoras já custaram R$ 3 bilhões. A maior parte da obra foi executada na gestão de Dilma, num total R$ 2 bilhões. A execução financeira chegou a R$ 500 milhões em 2014. O investimento do atual governo foi de R$ 193 milhões — apenas 6% do total. 

Em Piranhas, o presidente participou de inauguração de sistema de abastecimento e, cercado por crianças, banhou-se na água que jorrava de um cano. Quase ninguém usava máscara.

Em fevereiro do ano passado, Bolsonaro inaugurou os últimos 51 quilômetros da pavimentação do trecho da BR-163, que vai da divisa do Mato Grosso a Santarém, no Pará. A obra — que consumiu R$ 3,4 bilhões desde 2008 — vai permitir a chegada dos grãos do Centro-Oeste aos portos do Rio Tapajós. 

Nos governos de Dilma e Lula, a pavimentação recebeu injeção de R$ 2,7 bilhões, ao passo que a atual gestão investiu R$ 307 milhões — 9% do valor total, que teve início em 1971, como parte do Programa de Integração Nacional criado no governo Médici com o lema “Integrar para não entregar”.

Implantada como estrada de terra, a rodovia foi inaugurada pela primeira vez em 1976 — pelo então presidente-general Geisel —, no km 877, chamado de “marco-zero”. Bolsonaro voltou ao local para uma “nova inauguração” e, em seu discurso, afirmou que “governar é eleger prioridades, é também não deixar obras paradas, não é inventar obras para ser reeleito lá na frente”, e que (pasmem) não está preocupado com reeleição.

Com Lucio Vaz, da Gazeta do Povo