Continua dando pano pra manga a aprovação da maracutaia que elevou de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões o valor do Fundo Eleitoral — uma das duas fontes de recursos públicos que abastecem os partidos políticos; a outra é o Fundo Partidário, distribuído anualmente para bancar atividades cotidianas das legendas.
Questionado sobre essa excrecência, o vice-presidente disse que vetaria o aumento se estivesse no lugar de Bolsonaro. Talvez ele ainda venha a estar: na semana passada, um grupo de empresários paulistas fez circular a informação de que o general admitiu pela primeira vez conversar sobre um eventual impeachment do capitão.
Bolsonaro culpou o vice-presidente da Câmara, Eduardo
Ramos, pela aprovação da gatunagem. Em resposta, o deputado o acusou de mentir
para proteger os filhos — tanto Eduardo Bananinha
quanto Flávio Rachadinha votaram a favor da extorsão.
Zero Três postou um vídeo acusando o mais novo desafeto de seu
papai de ter decidido a questão por meio de votação simbólica — ou seja, sem
identificação individual dos votos dos deputados. Em resposta, Ramos
disse que o filho do pai deveria ter a coragem de assumir seu voto e que a
mudança do fundo teve o aval da liderança do governo e de seu partido, o PSL.
E solicitou a Arthur Lira acesso a todos os pedidos de impeachment que tramitam contra
o capitão.
Em entrevista
à revista Crusoé, Ramos disse que o presidente acha que não é
responsável por ficar com dinheiro dos gabinetes, que a primeira-dama não é
responsável por receber cheques de Fabrício Queiroz e que Pazuello não
é responsável pelo fato de o Ministério da Saúde negociar a compra de vacina superfaturada.
E reclamou dos ataques que vem sofrendo: "É avassalador o que essas
milícias digitais fazem. Elas se organizam em grupos de WhatsApp,
divulgam meu telefone celular e fazem ataques coordenados, para que me mandem
mensagens de conteúdo muito agressivo. São um bando de babacas, de fanfarrões,
uns valentões de redes sociais".
Questionado sobre Ramos ter se declarado como
oposição ao governo, Mourão respondeu: "Vamos ver até onde
vai durar essa oposição, né? […] E a questão de querer ver os pedidos de
impeachment… Tá bom. Que veja, pô".
Talvez Mourão fosse a melhor saída para o Brasil. Quando
nada, seria menos ruim que prolongar a atual gestão até o dia do juízo final. João
Amoêdo voltou a defender o impedimento nesta segunda-feira. Em
entrevista ao Papo Antagonista, ele rebateu o discurso de que o processo
traria instabilidade ao país. "Ao contrário dos que dizem que o
impeachment traz instabilidade, eu acho que, no caso de Bolsonaro, o
impeachment traz estabilidade. O que traz instabilidade é a presença de um
presidente que desrespeita as leis e que diz que o processo eleitoral não vai
ser sério. Isso sim traz instabilidade". Palmas para ele.
Ainda segundo Amoêdo, o bolsonarismo atrapalha
a unidade nos partidos, o "golpe do fundão" é um
assalto ao bolso do cidadão, rachadinha
é crime e o
impeachment de Bolsonaro é mais urgente que a criação da 3ª via. Ele citou os mais de 130 pedidos que estão parados na Câmara e afirmou que os
protestos marcados para o dia 12 de setembro podem contribuir para que o
processo avance.
Não obstante, tanto o Legislativo quanto o Supremo parecem achar melhor deixar o presidente cavar a própria sepultura. Em tese, é uma boa estratégia. Na prática, porém, a teoria pode ser outra.
Quando Roberto Jefferson denunciou o mensalão, o PSDB achou que Lula cairia sozinho em 2006. Mas o petralha não só se reelegeu como plantou um poste para sucedê-lo em 2010. Por outro lado, Lula achou que a estocadora de vento manteria aquecida a poltrona presidencial até daí a quatro anos, quando então ele voltaria a ocupá-la. Foi a pior decisão que tomou em toda sua trajetória política.
Bolsonaro reiterou nesta terça-feira que vai
vetar o fundão, e que, se o Congresso quiser mantê-lo, pode derrubar
seu veto. Disse ainda que a situação atual é diferente da de 2020, e que "neste
caso houve uma extrapolação, extrapolou o valor, então eu tenho a liberdade de
vetar e vamos vetar".
É fundamental que a sociedade brasileira defina o tipo de
democracia em que deseja viver, pois isso impactará diretamente o processo
eleitoral dos próximos anos. A julgar pelo teor das manifestações populares,
parece que o tipo de mudança desejado aponta para uma democracia
descentralizada, com protagonismo dos governos estaduais; candidaturas
independentes sem a obrigação de filiação partidária; extinção do fundo
partidário; voto distrital genuíno; fim dos salários e benefícios para os
cargos eletivos; e o sepultamento da vida política profissional de uma vez por
todas.
A conferir.