O ministro Alexandre de Moraes incluiu
o presidente Bolsonaro no inquérito das fake news por conta de
seus ataques às eleições de 2022. Em entrevista à Rádio 93 FM, do Rio de
Janeiro, o capitão comentou a decisão do magistrado e disse que “a
hora dele vai chegar”.
“O Alexandre de Moraes acusa todo mundo de tudo. Bota
como ‘réu’ no seu inquérito sem qualquer base jurídica para fazer operações
intimidatórias, busca e apreensão, ameaça de prisão, ou até mesmo prisão. É
isso o que ele está fazendo. E a hora dele vai chegar, porque ele está
jogando fora das quatro linhas da Constituição há muito tempo. Eu não pretendo
sair das quatro linhas para questionar essas autoridades, mas acredito que
o momento está chegando. […] Ele fez um absurdo agora, me colocou como réu
naquele inquérito das fake news dele. Ele é a mentira em pessoa dentro do STF.”
Bolsonaro disse ainda que Moraes é arbitrário e ditatorial. “Não dá para continuarmos com um ministro arbitrário, ditatorial, que não leu a Constituição, ou, se leu, aplica de acordo com seu entendimento, para, cada vez mais, agredir a democracia.” De quebra, prometeu promover mais uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, caso o voto impresso não seja implementado no Brasil.
Observação: Ao menos o obelisco da cortesia não extrapolou os limites da grosseria, como fez na última sexta-feira em conversa em Joinville (SC), ao chamar o ministro Barroso de "filho da puta" e acusá-lo (levianamente) de defender que adolescentes mantenham relações sexuais "sem problema nenhum". Semanas antes, pelo fato de o ministro ser favorável ao voto eletrônico, o "mito" dos bolsomínions chamou-o de "idiota" e "imbecil". Gente fina é outra coisa!
Winston Churchill ensinou que quem tenta aplacar a fome do crocodilo pode até ser devorado por último, mas não escapa de ser devorado. O filósofo Karl Popper ensinou que a tolerância ilimitada para com os intolerantes leva à destruição da tolerância.
O Judiciário entendeu, afinal. Percebeu que Bolsonaro
segue à risca o roteiro que levou um bando de baderneiros a invadir o
Capitólio. E que o “Capitólio”, no Brasil, serão o TSE e o STF. E
que os militares brasileiros não têm com a Constituição o mesmo compromisso que
têm seus pares americanos. E que, até hoje, mais da metade dos eleitores de Trump
acredita que as eleições foram roubadas.
Os juízes decidiram agir. E sua ação é de tirar o fôlego. O TSE
abriu, por unanimidade, inquérito contra Bolsonaro pelas fake news
contra as urnas eletrônicas. E enviou ao STF, em decisão também unânime,
notícia-crime contra o presidente da República.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo,
imediatamente transformou Bolsonaro em investigado. E determinou a Anderson
Torres, coadjuvante do presidente na infame live do dia 29, que preste
depoimento à Polícia Federal — no governo surreal de Jair Bolsonaro,
o ministro da Justiça (chefe do chefe da PF) é delegado da PF… E
vai depor a delegados da PF, seus pares. Cármen Lúcia, de sua
parte, remeteu à PGR pedido de parlamentares para que Bolsonaro
seja investigado por crime eleitoral.
Se as instituições estivessem funcionando, o Judiciário não
precisaria agir de ofício: o procurador-geral da República, Augusto Aras,
e o presidente da Câmara, Arthur Lira, estariam competindo pelo privilégio
de tirar do poder um presidente que rasga a Constituição quase que diariamente.
Mas Bolsonaro cooptou o PGR, que se faz de morto para não
denunciar o presidente, e comprou o Centrão, que se recusa a votar e
aprovar o impeachment. Sobrou para os juízes.
Para impedir Bolsonaro de ser candidato em 2022,
ninguém precisa de Aras ou de Lira. Se o TSE comprovar que
o presidente usou seu poder para desacreditar as eleições ou fazer campanha
fora de hora — o que todo mundo sabe que é verdade —, qualquer um poderá pedir
a cassação da candidatura do Messias. A partir de agora, o capitão tem
uma espada sobre a cabeça.
Ficou claro que os magistrados estão unidos e vão resistir a
qualquer tentativa de melar a eleição, e é de se supor que muita gente tenha
entendido o recado. O ministro Braga Netto — um general de quatro
estrelas, até o início do ano passado integrante do Alto Comando do Exército —
foi convocado a depor na Câmara, e nenhum militar protestou. Em movimento
contrário, o Exército baixou uma portaria restringindo drasticamente o acesso
dos generais ao Twitter.
O mais bolsonarista dos comandantes das Forças Armadas, brigadeiro
Carlos Almeida Baptista Jr., procurou o ministro Gilmar Mendes,
dono do STF, para reiterar que as Forças Armadas repudiam o golpismo.
(Os militares continuam sendo quem sempre foram, mas terão percebido, quem
sabe, que o caminho para o qual o presidente Bolsonaro quer empurrar o país não
é bom para ninguém.) O jogo mudou — e até Jair Bolsonaro entendeu
Com Ricardo Rangel