domingo, 8 de agosto de 2021

A HORA DELE VAI CHEGAR...

 

O ministro Alexandre de Moraes incluiu o presidente Bolsonaro no inquérito das fake news por conta de seus ataques às eleições de 2022. Em entrevista à Rádio 93 FM, do Rio de Janeiro, o capitão comentou a decisão do magistrado e disse que a hora dele vai chegar.

“O Alexandre de Moraes acusa todo mundo de tudo. Bota como ‘réu’ no seu inquérito sem qualquer base jurídica para fazer operações intimidatórias, busca e apreensão, ameaça de prisão, ou até mesmo prisão. É isso o que ele está fazendo. E a hora dele vai chegar, porque ele está jogando fora das quatro linhas da Constituição há muito tempo. Eu não pretendo sair das quatro linhas para questionar essas autoridades, mas acredito que o momento está chegando. […] Ele fez um absurdo agora, me colocou como réu naquele inquérito das fake news dele. Ele é a mentira em pessoa dentro do STF.”

Bolsonaro disse ainda que Moraes é arbitrário e ditatorial. “Não dá para continuarmos com um ministro arbitrário, ditatorial, que não leu a Constituição, ou, se leu, aplica de acordo com seu entendimento, para, cada vez mais, agredir a democracia.”  De quebra, prometeu promover mais uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, caso o voto impresso não seja implementado no Brasil.

Observação: Ao menos o obelisco da cortesia não extrapolou os limites da grosseria, como fez na última sexta-feira em conversa em Joinville (SC), ao chamar o ministro Barroso de "filho da puta" e acusá-lo (levianamente) de defender que adolescentes mantenham relações sexuais "sem problema nenhum". Semanas antes, pelo fato de o ministro ser favorável ao voto eletrônico, o "mito" dos bolsomínions chamou-o de "idiota" e "imbecil". Gente fina é outra coisa!


 
Winston Churchill ensinou que quem tenta aplacar a fome do crocodilo pode até ser devorado por último, mas não escapa de ser devorado. O filósofo Karl Popper ensinou que a tolerância ilimitada para com os intolerantes leva à destruição da tolerância.

O Judiciário entendeu, afinal. Percebeu que Bolsonaro segue à risca o roteiro que levou um bando de baderneiros a invadir o Capitólio. E que o “Capitólio”, no Brasil, serão o TSE e o STF. E que os militares brasileiros não têm com a Constituição o mesmo compromisso que têm seus pares americanos. E que, até hoje, mais da metade dos eleitores de Trump acredita que as eleições foram roubadas.

Os juízes decidiram agir. E sua ação é de tirar o fôlego. O TSE abriu, por unanimidade, inquérito contra Bolsonaro pelas fake news contra as urnas eletrônicas. E enviou ao STF, em decisão também unânime, notícia-crime contra o presidente da República.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, imediatamente transformou Bolsonaro em investigado. E determinou a Anderson Torres, coadjuvante do presidente na infame live do dia 29, que preste depoimento à Polícia Federal — no governo surreal de Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça (chefe do chefe da PF) é delegado da PF… E vai depor a delegados da PF, seus pares. Cármen Lúcia, de sua parte, remeteu à PGR pedido de parlamentares para que Bolsonaro seja investigado por crime eleitoral.

Se as instituições estivessem funcionando, o Judiciário não precisaria agir de ofício: o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, estariam competindo pelo privilégio de tirar do poder um presidente que rasga a Constituição quase que diariamente. Mas Bolsonaro cooptou o PGR, que se faz de morto para não denunciar o presidente, e comprou o Centrão, que se recusa a votar e aprovar o impeachment. Sobrou para os juízes.

Para impedir Bolsonaro de ser candidato em 2022, ninguém precisa de Aras ou de Lira. Se o TSE comprovar que o presidente usou seu poder para desacreditar as eleições ou fazer campanha fora de hora — o que todo mundo sabe que é verdade —, qualquer um poderá pedir a cassação da candidatura do Messias. A partir de agora, o capitão tem uma espada sobre a cabeça.

Ficou claro que os magistrados estão unidos e vão resistir a qualquer tentativa de melar a eleição, e é de se supor que muita gente tenha entendido o recado. O ministro Braga Netto — um general de quatro estrelas, até o início do ano passado integrante do Alto Comando do Exército — foi convocado a depor na Câmara, e nenhum militar protestou. Em movimento contrário, o Exército baixou uma portaria restringindo drasticamente o acesso dos generais ao Twitter.

O mais bolsonarista dos comandantes das Forças Armadas, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., procurou o ministro Gilmar Mendes, dono do STF, para reiterar que as Forças Armadas repudiam o golpismo. (Os militares continuam sendo quem sempre foram, mas terão percebido, quem sabe, que o caminho para o qual o presidente Bolsonaro quer empurrar o país não é bom para ninguém.) O jogo mudou — e até Jair Bolsonaro entendeu

Com Ricardo Rangel