quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O ATAQUE DA MÃO FANTASMA

A DIFERENÇA ENTRE O REMÉDIO E O VENENO ESTÁ NA DOSE, E A DISTÂNCIA ENTRE A INSANIDADE E A GENIALIDADE ESTÁ NO SUCESSO.

Parece nome de filme de terror, mas é a mais pura realidade: a vítima abre o celular, tenta desbloqueá-lo e a tela fica toda preta. Ela repete o padrão de desbloqueio, mas a interface permanece a mesma. Ela não se lembra de ter aberto o aplicativo bancário nos últimos segundos, mas, mesmo assim, o aparelho está roubando o saldo de sua conta... Trata-se de um Ataque da Mão Fantasma, uma nova categoria de malware de alto risco nascido no Brasil e que já vem fazendo vítimas em outros países.

Nomeado oficialmente de Ghost Hand Attack, a modalidade foi apresentada no Fórum Konferencia@Casa 2021 da Kaspersky, e ataca exclusivamente dispositivos móveis. O analista de segurança digital Fábio Assolini descreveu o golpe como “uma mão invisível, que usa o celular bem na frente do usuário” e depende tanto de malwares quanto de fraudes para operacionalizar.

Na prática, o cambalacho funciona assim: um trojan de acesso remoto (RAT) é instalado através de um email fraudulento que oferece uma atualização falsa de aplicativo ou via táticas de scareware (os famosos anúncios alarmistas de “seu Android está infectado”). Uma vez instalado, o programinha malicioso abre as portas do sistema ao cibercriminoso, que pode utilizar o dispositivo remotamente e em tempo real.

Os RATs burlam todos os sistemas de autenticação de usuário e dão prioridade aos golpistas. Em todos os casos de Ghost Hand Attack, eles assumem privilégio administrativo do dispositivo, e removê-los é complicado — quando detectam uma tentativa de desinstalação, essas pragas fecham a tela automaticamente ou se escondem atrás da lista de apps legítimos.

Até o momento, três famílias de RATs usadas em Ataques de Mão Fantasma foram detectadas pelas instituições: o grupo de trojans bancários Ghimob, BRata e TwMobo, que atuava apenas no Brasil, mas já vem fazendo vítimas entre usuários domésticos e corporativos na América Latina, Europa e nos Estados Unidos. Para piorar, em se tratando de operações feitas a partir do celular da vítima, é difícil para instituições financeiras detectarem que as transferências resultaram de fraudes.

Pioneiro dos malwares de Ghost Hand Attack, o BRata surgiu em 2019 e reapareceu atualmente como um app falso disponível na própria Google Play Store. Ao infectar um dispositivo, ele redireciona o usuário para páginas de phishing que dão total controle do aparelho ao invasor. No seu ressurgimento, essa peste trouxe seis novas linhas de código que são usadas para roubo de contas bancárias internacionais (o número de instalações desse app chegou a 40 mil).

Ghimob é outro trojan remoto que age de maneira similar. Ao detectar o uso do recurso de movimento do smartphone, o trojan rastreia os acessos de tudo o que a vítima vê e faz, podendo capturar senhas e padrões de desbloqueio.

O mais recente dos três Ghost Hand Attacks é ainda mais perigoso. Batizados de “Duro de Matar”, os trojans TwMobo não só assumem o controle total do smartphone como também travam o dispositivo no Modo de Proteção. Além de mirar dados bancários e redes sociais, esses programinhas monitoram o comportamento das vítimas e capturaram imagens e interesses que vendem em e-commerces, agindo como uma versão mais nefasta dos rastreadores do Facebook.

Os ataques dessa família utilizam proteções mais avançadas que as anteriores. “O TwMobo fica oculto após a instalação,” alerta Assolini. “Como os criminosos têm controle do dispositivo e permissões de administradores, podem simplesmente ocultar o ícone em seu primeiro acesso remoto.”

Em todas as incidências desta variação, o Ataque de Mão Fantasma só foi removido mediante um reset de fábrica e, em alguns casos, através da varredura de um antivírus atualizado.

Com Olhar Digital