Segundo a coluna de Malu Gaspar, o motivo da agitação que tomou conta dos caciques do PL desde a reunião em que o dono da sigla sacou dos dirigentes estaduais a tal "carta branca" para o enlace com Bolsonaro foi o compromisso de que o partido não fará alianças formais, em 2022, com candidatos em estados alinhados ao PT — como vinha sendo planejado no Nordeste — nem com políticos da órbita de Doria — como o vice-governador e pré-candidato ao governo paulista Rodrigo Garcia.
Atualização: Aparadas as arestas, o enlace de Bolsonaro com o PL de Costa Neto se dará na próxima terça-feira. Antes de bater o martelo sobre a nova data, o "mito" exigiu a garantia de poder indicar um candidato bolsonarista para disputar o governo paulista, e Costa Neto respondeu que “o PL fará o que Bolsonaro quiser”, e que a filiação de Bolsonaro trará à tona problemas regionais que vão precisar ser colocados à mesa.
Bolsonaro que se cuide: o cenário descortinado pelas últimas pesquisas mostra que é Sergio Moro quem tem melhores chances de derrotar o
ex-presidiário de Curitiba no segundo turno. Mas, como o futuro é duvidoso, sobretudo num país em que até o passado é
incerto, é bom todos os pré-candidatos botarem as barbichas de molho. Depois de
quatro anos em cima do monte, o monte, digo, o Cabo Daciolo desceu para
disputar novamente a presidência. Pausa para as gargalhadas.
O lançamento do nome do ex-bombeiro foi realizado no
mesmo dia de sua filiação ao partido Brasil 35, legenda pela qual esse outro lunático deve
entrar na disputa. O anúncio foi feito em uma publicação
no Twitter, no qual Daciolo aparece em uma foto ao lado da presidente nacional da sigla (alguém já ouviu falar em Suêd Haidar Nogueira?).
Como muitos devem se lembrar, o militar de carreira (chegou a cabo, vejam vocês!) ganhou destaque na campanha de 2018 por sua participação hilária nos debates televisivos. Inacreditavelmente, mesmo sem tempo de TV e rádio, a excrescência foi o sexto candidato mais votado no primeiro turno (1,26%). Glória a Deus! E adeus!
Voltando ao despirocado palacioano, Bolsonaro prioriza um aliado no governo de São Paulo e já avisou Tarcísio de Freitas de que terá de "ir para o sacrifício". O ministro apareceu com 4% de intenções de voto na pesquisa estimulada do último Datafolha, mas prefere disputar o Senado por Goiás. Embora ele e Costa Neto sejam adversários políticos, ambos dizem que suas diferenças não são irreconciliáveis. Pelo visto, a lua-de-mel pode durar pouco. Caso queira manter o combinado com o Messias, o babalorixá do PL terá que debelar vários focos de revolta que já começaram a surgir no partido.
No que diz respeito à "surpreendente" união (de
interesses) entre o eterno picolé de chuchu, que está com um pé é meio
fora do PSDB, e o picareta "ex-corrupto", eterno presidente de
honra do PT, a coluna de Dora Kramer diz que não se trata
de um factoide, mas tampouco chega a ser um fato. A conversa existe, só que por
enquanto a coisa tem o formato de balão de ensaio, mas um lance tático do
interesse de ambos, pois os favorece no campo do simbolismo político.
Sem nada a perder de imediato, tanto um quanto outro
contabilizam ganhos com o gesto. Alckmin, na sua pretensão de disputar o
Palácio dos Bandeirantes, fica na condição de cortejado e ganha um reforço no
cacife junto a partidos que estão de olho na filiação dele assim que se
concretizar sua saída do PSDB — o ex-governador ganharia musculatura
nessas negociações e ainda conquistaria simpatias à esquerda.
Observação: Falando no PSDB, nem a escolha do candidato a ser derrotado no pleito presidencial de 2022 os tucanos conseguiram concluir no último domingo. Empresas de tecnologia contratadas para acompanhar as prévias diagnosticaram que o problema do app de votação estava na ausência de licenças suficientes para suportar o reconhecimento facial dos filiados, informa o site Metrópoles. A Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolveu o aplicativo, comprou uma quantidade mínima dessas licenças da Microsoft para colocar o aplicativo em funcionamento. É triste ver um partido que governou o Brasil por oito anos e deu cabo da hiperinflação fracassar numa consulta prévia a pouco menos de 45 mil filiados. Como pretende conquistar a confiança do eleitorado para governar 230 milhões de brasileiros se está perdido nas próprias divergências e contradições, se não é mais um ninho não mais de tucanos, mas, sim, de mafagafos que se engalfinham e não dialogam com a sociedade? O resultado das prévias, qualquer que ele seja, certamente será contestado pelo grupo perdedor, o que significa que a unidade já ferida estará definitivamente comprometida.
Já o ex-presidiário Lula tenta conquistar apoios ao centro do espectro político a fim de combater a pecha de líder de um dos extremos e reverter o desgaste resultante da manifestação do secretário de Relações Internacionais do PT em apoio à farsesca vitória de Daniel Ortega na Nicarágua. Embora tenha boa interlocução com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que até agora tem dado como certa a filiação de Alckmin, o PT sabe — e Kassab confirma — que a aliança só seria possível no segundo turno. Por isso, os petistas estão empenhados na ida do ex-governador para o PSB. Assim, eles tirariam o quase ex-tucano da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, atrairiam os socialistas para a candidatura de Haddad e abririam caminho para alianças em colégios eleitorais importantes, como Rio de Janeiro e Pernambuco.
Em recente entrevista, Alckmin se fez cara de esfinge e não se aprofundou no assunto. Para se ter uma ideia do mistério, Kassab, perguntado sobre quando o ex-governador bateria o martelo, respondeu o seguinte: "Assim que você souber, me avisa" Por ora, a ideia de aliança entre Lula e Alckmin é só um lance tático que favorece a ambos.
A Alckmin interessa manter a bola rolando para lá e para cá ao menos até o resultado das prévias do PSDB, quando o tucano deve realmente definir seu destino partidário. Mas isso não significa que a oferta de tapete vermelho por parte do PT só lhe renda vantagens. Há custos e benefícios a medir. Por exemplo, valeria a pena trocar o cenário favorável de uma eleição ao governo do estado numa legenda (PSD) disposta a lhe entregar o comando regional por uma aliança para lá de incerta com um partido (PT) cujo corpo tem dono de autoridade absoluta? E mais: o movimento seria bem-aceito pelo eleitorado de centro antipetista que no caso talvez preferisse seguir com Sergio Moro?
Para o PT, além da suavizada na imagem de radical, as resistências seriam
residuais. Primeiro porque militância e dirigentes já absorveram uniões entre
contrários desde a formação de chapa com Brizola de vice em 1998, com o
empresário José Alencar (à época filiado ao PL) em 2002 e a
partir de 2010 até 2016 com o emedebista Michel Temer. Segundo porque
no partido a vontade de Lula é lei. Ademais, o eleitorado de esquerda
não teria para onde correr.
Para convencer Alckmin, o petistas argumentam que a eleição de São Paulo não será fácil para ele. Segundo eles, Doria ganhará a legenda do PSDB, precisará deixar o cargo em abril de 2022 e aí seu candidato, o vice Rodrigo Garcia, disputará em outubro do alto do Palácio dos Bandeirantes. Na aliança com a seita do inferno — supondo que a dianteira nas pesquisas seja mantida —, Alckmin chegaria, afinal, ao Planalto como vice-presidente da República.
Em contrapartida, quem tenta afastar o picolé de chuchu da tentação lulista alega que
a aliança equivaleria à compra de um terreno na Lua. No campo minado do PT
chegando como corpo estranho, o ex-gonvernador seria um vice decorativo e não
teria, como tinha Michel Temer no MDB, o comando de uma sigla forte nas
mãos.
Como se vê, há mais dúvidas que certezas nessa que hoje
seria uma união marcada pela instabilidade. A conferir.