Ensina o "Pai da
Psicanálise" que um mecanismo de projeção resulta na incapacidade que
algumas pessoas têm de reconhecer os próprios erros, falhas e deficiências de
forma mais ampla. Em outras palavras: para essas pessoas, todos têm defeitos,
menos elas. O que nos leva ao psicopata que, graças a um pacto com Belzebu,
continua entrincheirado no Palácio do Planalto, terminando alegremente a destruição
que Dilma começou, mas não teve tempo de concluir.
A criatura em questão, que tenta vender a imagem de homem
forte, viril, imune à corrupção — em suas próprias palavras, "imorrível,
imbrochável e incomível" (faltou dizer "intragável",
"insuportável", "indigerível", mas esses são "os
outros") — traiu o eleitorado fazendo, na Presidência, tudo que condenou,
quando candidato.
Para se eleger Presidente, o dublê de mau militar e
parlamentar medíocre renegou o "Centrão". Agora, para se
manter presidente, retorna às origens, amancebando-se justamente com o
principal expoente da "velha política", a caterva que esteve no
centro (sem trocadilhos) dos principais escândalos de corrupção das últimas
décadas — da compra de votos para aprovar a PEC da Reeleição, no
primeiro mandato de FHC, ao mensalão e o petrolão, nas gestões do
parteiro do Brasil Maravilha e da aberração que lhe sucedeu.
O Centrão nasceu no alvorecer da redemocratização e
teve como pais fundadores uma escumalha egressa dos partidos que apoiavam a
ditadura — como o PP (hoje comandado por Ciro Nogueira e Arthur
Lira) e o PFL (que virou DEM e, mais recentemente, juntou os
trapos com o PSL, dando origem ao União Brasil).
Posto isso, é possível (e até provável) que nosso indômito morubixaba
venha a se sentir totalmente à vontade na casa nova, feliz como um pinto no
lixo. O "mito" dos atoleimados, que subiu no palanque para vituperar
a "velha política" e se elegeu graças ao repúdio ao lulopetismo
corrupto, torna-se agora (ou volta a ser) um obelisco do "é dando que se
recebe".
Em 1979, o escritor austríaco Johannes Mario Simmel publicou
o romance "NINGUÉM
QUER UM CORAÇÃO". Se ainda fosse vivo — e se interessasse pela abjeta
política canarinha —, poderia escrever "NINGUÉM QUER UM PRESIDENTE",
inspirado naquele que transformou em superpartido a agremiação nanica da pela
qual se elegeu e dela se desfiliou um ano depois da eleição, devido a conflito$
de intere$$e, e que tentou fundar seu próprio partido — o natimorto "Aliança
pelo Brasil" —, mas morreu na praia, com menos de 1/3 das assinaturas
necessárias.
Aos 66 anos de idade e com a popularidade abaixo dos 20% (pela
primeira vez em sua desditosa gestão), o "mito" dos atoleimados vê no
espelho o rascunho do mapa do inferno e é atormentado pelos fantasmas que
assombram políticos que perdem a credibilidade. Recentemente, a notícia de uma
suposta traição conjugal (com um bombeiro, mas que não era o Cabo Daciolo)
expôs a fragilidade do "imbrochável pero no mucho".
Ainda de acordo com o pensamento freudiano, tendências projetivas
se desenvolvem de maneira forte nos tipos paranoicos, que veem conspirações em
toda parte e defeitos em todo mundo (menos neles próprios).
Num país normal e em condições normais, o pesadelo de
conviver mais quatro anos com o pior mandatário desde a redemocratização desta
banânia seria uma piada de mau gosto, e o protagonista da anedota já teria sido
expelido do cargo e sepultado sob a lápide do ostracismo. Mas nem nós vivemos em condições normais, nem
o Brasil é um país normal... Acha que exagero? Então veja mais esta:
Senadores do PT, que vinham trabalhando para
que Rodrigo Pacheco disputasse a vice-presidência
tendo o demiurgo de Garanhuns como cabeça de chapa, agora defendem a aliança
com o quase ex-tucano e eterno picolé de chuchu Geraldo Alckmin. Para
essa casta, a chapa Lula/Alckmin não só traria mais votos, como passaria
uma mensagem de "união dos adversários históricos".
É fato que urge unir forças para “resgatar” e “recuperar” o
Brasil, hoje nas mãos de Bolsonaro, mas a solução dificilmente estaria em
apoiar uma chapa surreal, composta por um petralha amancebado com um ex-tucano.
Cada qual escolhe a corda com que quer se enforcar. Quanto a Lula, eu não sei,
mas Alckmin... enfim, o funeral é dele.
Observação: Como informou O GLOBO, o ex-governador de São Paulo ouviu
um apelo de dirigentes de centrais sindicais para que ofereça o dedo à aliança
com o molusco eneadáctilo, como deve fazer Jair Bolsonaro com Valdemar Costa
Neto, agora à tarde, enquanto se comemora em Brasília o "dia do evangélico".
O amor não é lindo?