terça-feira, 30 de novembro de 2021

O AMOR É LINDO

 

Ensina o "Pai da Psicanálise" que um mecanismo de projeção resulta na incapacidade que algumas pessoas têm de reconhecer os próprios erros, falhas e deficiências de forma mais ampla. Em outras palavras: para essas pessoas, todos têm defeitos, menos elas. O que nos leva ao psicopata que, graças a um pacto com Belzebu, continua entrincheirado no Palácio do Planalto, terminando alegremente a destruição que Dilma começou, mas não teve tempo de concluir.

A criatura em questão, que tenta vender a imagem de homem forte, viril, imune à corrupção — em suas próprias palavras, "imorrível, imbrochável e incomível" (faltou dizer "intragável", "insuportável", "indigerível", mas esses são "os outros") — traiu o eleitorado fazendo, na Presidência, tudo que condenou, quando candidato.

Para se eleger Presidente, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre renegou o "Centrão". Agora, para se manter presidente, retorna às origens, amancebando-se justamente com o principal expoente da "velha política", a caterva que esteve no centro (sem trocadilhos) dos principais escândalos de corrupção das últimas décadas — da compra de votos para aprovar a PEC da Reeleição, no primeiro mandato de FHC, ao mensalão e o petrolão, nas gestões do parteiro do Brasil Maravilha e da aberração que lhe sucedeu.

O Centrão nasceu no alvorecer da redemocratização e teve como pais fundadores uma escumalha egressa dos partidos que apoiavam a ditadura — como o PP (hoje comandado por Ciro Nogueira e Arthur Lira) e o PFL (que virou DEM e, mais recentemente, juntou os trapos com o PSL, dando origem ao União Brasil).

Posto isso, é possível (e até provável) que nosso indômito morubixaba venha a se sentir totalmente à vontade na casa nova, feliz como um pinto no lixo. O "mito" dos atoleimados, que subiu no palanque para vituperar a "velha política" e se elegeu graças ao repúdio ao lulopetismo corrupto, torna-se agora (ou volta a ser) um obelisco do "é dando que se recebe".

Em 1979, o escritor austríaco Johannes Mario Simmel publicou o romance "NINGUÉM QUER UM CORAÇÃO". Se ainda fosse vivo — e se interessasse pela abjeta política canarinha —, poderia escrever "NINGUÉM QUER UM PRESIDENTE", inspirado naquele que transformou em superpartido a agremiação nanica da pela qual se elegeu e dela se desfiliou um ano depois da eleição, devido a conflito$ de intere$$e, e que tentou fundar seu próprio partido — o natimorto "Aliança pelo Brasil" —, mas morreu na praia, com menos de 1/3 das assinaturas necessárias.

Aos 66 anos de idade e com a popularidade abaixo dos 20% (pela primeira vez em sua desditosa gestão), o "mito" dos atoleimados vê no espelho o rascunho do mapa do inferno e é atormentado pelos fantasmas que assombram políticos que perdem a credibilidade. Recentemente, a notícia de uma suposta traição conjugal (com um bombeiro, mas que não era o Cabo Daciolo) expôs a fragilidade do "imbrochável pero no mucho".

Ainda de acordo com o pensamento freudiano, tendências projetivas se desenvolvem de maneira forte nos tipos paranoicos, que veem conspirações em toda parte e defeitos em todo mundo (menos neles próprios).

Num país normal e em condições normais, o pesadelo de conviver mais quatro anos com o pior mandatário desde a redemocratização desta banânia seria uma piada de mau gosto, e o protagonista da anedota já teria sido expelido do cargo e sepultado sob a lápide do ostracismo.  Mas nem nós vivemos em condições normais, nem o Brasil é um país normal... Acha que exagero? Então veja mais esta:

Senadores do PT, que vinham trabalhando para que Rodrigo Pacheco disputasse a vice-presidência tendo o demiurgo de Garanhuns como cabeça de chapa, agora defendem a aliança com o quase ex-tucano e eterno picolé de chuchu Geraldo Alckmin. Para essa casta, a chapa Lula/Alckmin não só traria mais votos, como passaria uma mensagem de "união dos adversários históricos".

É fato que urge unir forças para “resgatar” e “recuperar” o Brasil, hoje nas mãos de Bolsonaro, mas a solução dificilmente estaria em apoiar uma chapa surreal, composta por um petralha amancebado com um ex-tucano. Cada qual escolhe a corda com que quer se enforcar. Quanto a Lula, eu não sei, mas Alckmin... enfim, o funeral é dele.

Observação: Como informou O GLOBO, o ex-governador de São Paulo ouviu um apelo de dirigentes de centrais sindicais para que ofereça o dedo à aliança com o molusco eneadáctilo, como deve fazer Jair Bolsonaro com Valdemar Costa Neto, agora à tarde, enquanto se comemora em Brasília o "dia do evangélico".

O amor não é lindo?