Há tempo de plantar e tempo de colher. O criminoso Lula semeou a cizânia, e os brasileiros colheram 13 anos 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto (e suas sequelas). Estimulada pela abominável patuleia, a dicotomia impulsionou o bolsonarismo boçal, e os brasileiros colheram a tragédia ora em curso e sem data certa para acabar.
Observação: Não fossemos um país de ignorantes. Ou de hipócritas. Ou ambas as coisas. Não fosse assim, os sumos pontífices de ambas as seitas infernais teriam sido trancafiados numa cela — um deles até foi, só que a cela era uma sala VIP (que ele transformou em parlatório petista e sede do comitê de campanha de Haddad) e a permanência foi curta — e a chave seria jogada fora. E lá ficariam, até o minuto final do resto de suas imprestáveis existências, a alma viva mais honesta do Brasil e o grande estadista que nega o epíteto de "genocida" (uma mandatário que, por ação ou omissão, concorre para a morte de 600 mil compatriotas é o quê?) e que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar. Tudo farinha do mesmo saco. Como também o são 95% dos membros do Congresso Nacional. Triste Brasil.
A CPI do Genocídio nos deu seis meses de depoimentos reveladores,
mentirosos, tediosos, apavorantes, sinceros, cínicos, ridículos e comoventes, além
de muita gritaria, confusão, grosseria e equívocos. Mas nos deu também um
relatório — talvez prolixo e desfocado — que apresenta uma radiografia
pormenorizada da página mais trágica e vergonhosa de nossa história, e encerra
virtudes indiscutíveis e inestimáveis.
O relatório da Comissão comprova e documenta atos
inaceitáveis e criminosos de diversas autoridades públicas — com destaque para
o presidente da República — que já eram de conhecimento geral, como a sabotagem
ao isolamento social, às máscaras e às vacinas; o estímulo ao uso de
medicamentos inócuos e perigosos; a busca (letal) por uma suposta imunidade de
rebanho; as fake-news.
Em cerca de 1.200 páginas, o relatório trouxe a lume atos
inaceitáveis e criminosos de autoridades e pessoas privadas, como a existência
de um monstruoso esquema de corrupção — que contou com a participação de
militares e, possivelmente, do líder do governo na Câmara, além do silêncio
cúmplice do presidente da República — no Ministério da Saúde; a existência de
um “gabinete paralelo”, sem responsabilidade pública mas com autoridade
para formular políticas públicas de saúde; o uso macabro de seres humanos como
cobaias para um “tratamento” fraudulento e perigoso. E muito mais.
Demonstrou a Comissão que o descaso, a incompetência
e a má-fé de autoridades públicas — em especial do presidente da República —
foram diretamente responsáveis pela morte de outra forma evitável de milhares
de brasileiros. E, acima de tudo, confrontou a Nação com um espelho e três
perguntas:
1. Como é possível que, diante de tanto horror, o Congresso
não proceda ao impeachment de Jair Bolsonaro?
2. Como é possível que, diante de tanto horror, o
procurador-geral da República, Augusto Aras, se recuse a denunciar Jair
Bolsonaro?
3. Como é possível que, diante de tanto horror, cerca de um
quarto dos eleitores continue a apoiar Jair Bolsonaro?
A questão que se coloca é sobre os resultados: serão firmes
ou a coisa toda acabará na base do dito pelo não dito? Certamente haverá
consequências, mas convém não esperar que sejam céleres. O tempo da Justiça é
diferente dos tempos da sociedade e da política.
A CPMI
dos Correios — que resultou no processo do mensalão e dizimou a cúpula
e a reputação do PT —passou ao largo da figura do então presidente, que,
por consequência, também ficou de fora da denúncia apresentada, e aceita, ao STF.
Descontadas a natureza dos fatos e o espírito do tempo político em relação a um
e a outro, Bolsonaro teve esse destino por se tratar de um réu que, além
de confesso, não cansou de produzir provas contra si.
A CPMI dos Correios terminou em abril de 2006, e o
então procurador-geral apresentou a denúncia ao STF em novembro do ano
seguinte. O processo só foi julgado em 2012 — demorou, mas não falhou.
É possível que Bolsonaro se safe de alguns crimes que
lhe foram imputados — ou de todos eles. Mas é na cena política e social que
reside o pior para o capetão, que ora assume a condição inédita de presidente
nominalmente acusado por comissão parlamentar de inquérito.
A ver.
Com Ricardo Rangel e Dora Kramer