segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O QUE ESPERAR DA CPI DO GENOCÍDIO


Há tempo de plantar e tempo de colher. O criminoso Lula semeou a cizânia, e os brasileiros colheram 13 anos 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto (e suas sequelas). Estimulada pela abominável patuleia, a dicotomia impulsionou o bolsonarismo boçal, e os brasileiros colheram a tragédia ora em curso e sem data certa para acabar.

Observação: Não fossemos um país de ignorantes. Ou de hipócritas. Ou ambas as coisas. Não fosse assim, os sumos pontífices de ambas as seitas infernais teriam sido trancafiados numa cela — um deles até foi, só que a cela era uma sala VIP (que ele transformou em parlatório petista e sede do comitê de campanha de Haddad) e a permanência foi curta e a chave seria jogada fora. E lá ficariam, até o minuto final do resto de suas imprestáveis existências, a alma viva mais honesta do Brasil e o grande estadista que nega o epíteto de "genocida" (uma mandatário que, por ação ou omissão, concorre para a morte de 600 mil compatriotas é o quê?) e que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar. Tudo farinha do mesmo saco. Como também o são 95% dos membros do Congresso Nacional. Triste Brasil.

A CPI do Genocídio nos deu seis meses de depoimentos reveladores, mentirosos, tediosos, apavorantes, sinceros, cínicos, ridículos e comoventes, além de muita gritaria, confusão, grosseria e equívocos. Mas nos deu também um relatório — talvez prolixo e desfocado — que apresenta uma radiografia pormenorizada da página mais trágica e vergonhosa de nossa história, e encerra virtudes indiscutíveis e inestimáveis.

O relatório da Comissão comprova e documenta atos inaceitáveis e criminosos de diversas autoridades públicas — com destaque para o presidente da República — que já eram de conhecimento geral, como a sabotagem ao isolamento social, às máscaras e às vacinas; o estímulo ao uso de medicamentos inócuos e perigosos; a busca (letal) por uma suposta imunidade de rebanho; as fake-news.

Em cerca de 1.200 páginas, o relatório trouxe a lume atos inaceitáveis e criminosos de autoridades e pessoas privadas, como a existência de um monstruoso esquema de corrupção — que contou com a participação de militares e, possivelmente, do líder do governo na Câmara, além do silêncio cúmplice do presidente da República — no Ministério da Saúde; a existência de um “gabinete paralelo”, sem responsabilidade pública mas com autoridade para formular políticas públicas de saúde; o uso macabro de seres humanos como cobaias para um “tratamento” fraudulento e perigoso. E muito mais.

Demonstrou a Comissão que o descaso, a incompetência e a má-fé de autoridades públicas — em especial do presidente da República — foram diretamente responsáveis pela morte de outra forma evitável de milhares de brasileiros. E, acima de tudo, confrontou a Nação com um espelho e três perguntas:

1. Como é possível que, diante de tanto horror, o Congresso não proceda ao impeachment de Jair Bolsonaro?

2. Como é possível que, diante de tanto horror, o procurador-geral da República, Augusto Aras, se recuse a denunciar Jair Bolsonaro?

3. Como é possível que, diante de tanto horror, cerca de um quarto dos eleitores continue a apoiar Jair Bolsonaro?

A questão que se coloca é sobre os resultados: serão firmes ou a coisa toda acabará na base do dito pelo não dito? Certamente haverá consequências, mas convém não esperar que sejam céleres. O tempo da Justiça é diferente dos tempos da sociedade e da política.

A CPMI dos Correios — que resultou no processo do mensalão e dizimou a cúpula e a reputação do PT —passou ao largo da figura do então presidente, que, por consequência, também ficou de fora da denúncia apresentada, e aceita, ao STF. Descontadas a natureza dos fatos e o espírito do tempo político em relação a um e a outro, Bolsonaro teve esse destino por se tratar de um réu que, além de confesso, não cansou de produzir provas contra si.

A CPMI dos Correios terminou em abril de 2006, e o então procurador-geral apresentou a denúncia ao STF em novembro do ano seguinte. O processo só foi julgado em 2012 — demorou, mas não falhou.

É possível que Bolsonaro se safe de alguns crimes que lhe foram imputados — ou de todos eles. Mas é na cena política e social que reside o pior para o capetão, que ora assume a condição inédita de presidente nominalmente acusado por comissão parlamentar de inquérito.

A ver.

Com Ricardo Rangel e Dora Kramer