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Os "relógios solares" são movidos a quartzo, mas desobrigam o usuário de substituir a bateria a cada dois ou três anos, pois captam a luminosidade (natural ou artificial) do ambiente, convertem-na em energia elétrica e armazenam em capacitores integrados ao módulo. Isso faz deles (e de modelos "térmicos", como o smartwatch Matrix, que usa o calor do pulso como fonte de energia) uma alternativa interessante aos modelos mecânicos (de corda manual ou automática) ou a quartzo com bateria de lítio. Como a recarga é constante, podemos usar "sem culpa" o cronógrafo e outros recursos que consomem muita energia.
Relógios solares são sopa no mel para quem quer um modelo à prova d'água como manda o figurino, pois a estanqueidade da caixa — que costuma ser comprometida, nas versões a quartzo convencionais, pelas trocas de bateria — é preservada. Ainda assim, seus painéis fotovoltaicos e capacitores têm vida útil limitada (em tese, é possível substituir o módulo quando esses modelos deixam de funcionar, mas na prática o molho sai mais caro que o peixe).
Observação: Rolex, Omega, Breitling, Tissot e outros ícones de alta relojoaria suíça contam com modelos de pulso apropriados à prática de esportes aquáticos, inclusive mergulho com ou sem tanque de ar. Mas o preço de um Rolex Submariner Date — resistente à pressão de até 30 ATM (ou 300 m, ou 1000 ft) — com caixa e pulseira de aço inox gira em torno de US$ 20 mil (ou R$ 110 mil, pelo câmbio atual). Adquirida em separado, a pulseira pode custar mais de R$ 8 mil. Achou caro? Então saiba que os elos custam quase R$ 1 mil cada.
Observação: Estou falando de relógios e peças de reposição originais; a Web está coalhada de réplicas e imitações baratas, cujos preços que vão de algumas centenas a milhares de reais. Olho vivo, pois só examinando a máquina se consegue diferenciar um modelo original de uma réplica de "primeira linha".
Relógios de movimento mecânico integram rotor, mecanismo de balanço e uma série de componentes — tambor, âncora de escape, rodas, engrenagens, rubis, pinos limitadores, reguladores, e por aí vai — que os tornam volumosos, pesados e bem mais caros que os movidos a quartzo. Também nesse caso a estanqueidade da caixa é preservada — ainda que seja recomendável fazer revisões e lubrificações a cada quatro ou cinco anos (período durante o qual o mecanismo realiza mais de meio bilhão de ciclos de escapamento), um relojoeiro responsável dificilmente reaproveitará os anéis de vedação da caixa e da coroa (cuidado que os "trocadores de bateria" de plantão não costumam observar).
O conceito do "moto perpétuo" — segundo o qual o próprio dispositivo produz a energia que consome— contraria as leis da física, mas é perseguido desde sempre pelos fabricantes de relógios. Em meados dos anos 1970, um engenheiro da Seiko começou a desenvolver um sistema que ficaria conhecido como "Spring Drive", e que a empresa só lançaria comercialmente quase três décadas e mais de 600 protótipos depois.
O Seiko Spring Drive — montado manualmente com 416 componentes, 50 rubis, 140 pontos de lubrificação e 5 lubrificantes diferentes — conta com reserva de marcha de 72 horas (mesmo com o cronógrafo em uso) e precisão de 1 segundo por dia, rivalizando com os melhores relógios eletrônicos do mundo. Por outro lado, modelos baseados nessa tecnologia são caros pra dedéu — o Grand Seiko Spring Drive Diver SBGA229, por exemplo, custa por R$ 33 mil (valor que inclui o frete e o seguro-postagem).
O ajuste da frequência e a exatidão no
corte do cristal de quartzo definem a precisão do relógio. O Bulova
Precisionist — um dos modelos a quartzo mais pontuais do mundo — varia
míseros 10 segundos por ano. Na tecnologia Precisionist, os cristais de
quartzo formam um diapasão de três hastes (o padrão normal é de apenas
duas) e os mecanismos operam a 262.144 kHz (frequência oito vezes superior
à dos modelos a quartzo convencionais), o que os torna os Bulova tão
precisos quanto modelos bem mais caros — como o Rolex
Submariner e o Grand
Seiko HI-BEAT 36000.
Observação: Os dois modelos da Bulova
que integram minha modesta coleção (e ilustram esta postagem) são anteriores a
2010, mas nem por isso decepcionam: quando havia horário de verão, eu os
sincronizava com o relógio
do Windows em outubro e, três meses depois, ao atrasá-los em uma
hora, eu observava que a variação tinha sido inferior a 10 segundos.
Continua...