quinta-feira, 4 de novembro de 2021

SOBRE RELÓGIOS, PULSEIRAS E QUE TAIS — TERCEIRA PARTE

A INFORMAÇÃO MAIS NECESSÁRIA É SEMPRE A MENOS DISPONÍVEL.

Os "relógios solares" são movidos a quartzo, mas desobrigam o usuário de substituir a bateria a cada dois ou três anos, pois captam a luminosidade (natural ou artificial) do ambiente, convertem-na em energia elétrica e armazenam em capacitores integrados ao módulo. Isso faz deles (e de modelos "térmicos", como o smartwatch Matrix, que usa o calor do pulso como fonte de energia) uma alternativa interessante aos modelos mecânicos (de corda manual ou automática) ou a quartzo com bateria de lítio. Como a recarga é constante, podemos usar "sem culpa" o cronógrafo e outros recursos que consomem muita energia. 

Relógios solares são sopa no mel para quem quer um modelo à prova d'água como manda o figurino, pois a estanqueidade da caixa — que costuma ser comprometida, nas versões a quartzo convencionais, pelas trocas de bateria — é preservada. Ainda assim, seus painéis fotovoltaicos e capacitores têm vida útil limitada (em tese, é possível substituir o módulo quando esses modelos deixam de funcionar, mas na prática o molho sai mais caro que o peixe).

Observação: Rolex, Omega, Breitling, Tissot e outros ícones de alta relojoaria suíça contam com modelos de pulso apropriados à prática de esportes aquáticos, inclusive mergulho com ou sem tanque de ar. Mas o preço de um Rolex Submariner Date  resistente à pressão de até 30 ATM (ou 300 m, ou 1000 ft)  com caixa e pulseira de aço inox gira em torno de US$ 20 mil (ou R$ 110 mil, pelo câmbio atual). Adquirida em separado, a pulseira pode custar mais de R$ 8 mil. Achou caro? Então saiba que os elos custam quase R$ 1 mil cada.

Observação: Estou falando de relógios e peças de reposição originais; a Web está coalhada de réplicas e imitações baratas, cujos preços que vão de algumas centenas a milhares de reais. Olho vivo, pois só examinando a máquina se consegue diferenciar um modelo original de uma réplica de "primeira linha".

Relógios de movimento mecânico integram rotor, mecanismo de balanço e uma série de componentes — tambor, âncora de escape, rodas, engrenagens, rubis, pinos limitadores, reguladores, e por aí vai — que os tornam volumosos, pesados e bem mais caros que os movidos a quartzo. Também nesse caso a estanqueidade da caixa é preservada — ainda que seja recomendável fazer revisões e lubrificações a cada quatro ou cinco anos (período durante o qual o mecanismo realiza mais de meio bilhão de ciclos de escapamento), um relojoeiro responsável dificilmente reaproveitará os anéis de vedação da caixa e da coroa (cuidado que os "trocadores de bateria" de plantão não costumam observar).

O conceito do "moto perpétuo" — segundo o qual o próprio dispositivo produz a energia que consome— contraria as leis da física, mas é perseguido desde sempre pelos fabricantes de relógios. Em meados dos anos 1970, um engenheiro da Seiko começou a desenvolver um sistema que ficaria conhecido como "Spring Drive", e que a empresa só lançaria comercialmente quase três décadas e mais de 600 protótipos depois. 

O Seiko Spring Drive — montado manualmente com 416 componentes, 50 rubis, 140 pontos de lubrificação e 5 lubrificantes diferentes — conta com reserva de marcha de 72 horas (mesmo com o cronógrafo em uso) e precisão de 1 segundo por dia, rivalizando com os melhores relógios eletrônicos do mundo. Por outro lado, modelos baseados nessa tecnologia são caros pra dedéu — o Grand Seiko Spring Drive Diver SBGA229, por exemplo, custa por R$ 33 mil (valor que inclui o frete e o seguro-postagem).

O ajuste da frequência e a exatidão no corte do cristal de quartzo definem a precisão do relógio. O Bulova Precisionist — um dos modelos a quartzo mais pontuais do mundo — varia míseros 10 segundos por ano. Na tecnologia Precisionist, os cristais de quartzo formam um diapasão de três hastes (o padrão normal é de apenas duas) e os mecanismos operam a 262.144 kHz (frequência oito vezes superior à dos modelos a quartzo convencionais), o que os torna os Bulova tão precisos quanto modelos bem mais caros — como o Rolex Submariner e o Grand Seiko HI-BEAT 36000.

Observação: Os dois modelos da Bulova que integram minha modesta coleção (e ilustram esta postagem) são anteriores a 2010, mas nem por isso decepcionam: quando havia horário de verão, eu os sincronizava com o relógio do Windows em outubro e, três meses depois, ao atrasá-los em uma hora, eu observava que a variação tinha sido inferior a 10 segundos.

Continua...