quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A MALDIÇÃO DA REELEIÇÃO



Acusado de protecionismo ao criar o Mundo, por ter favorecido a porção de terra que mais adiante seria o Brasil, o Senhor do Universo assim se justificou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." 

Segundo Jobim, o Brasil não é para amadores. Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras" —, mas também que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano". Figueiredo (que era um sábio e não sabia) nos ensinou que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar". Deu para entender ou quer que eu soletre?

Dos 13 postulantes à presidência em 2018, quatro — Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Jango Filho e Vera Lucia — formavam um elenco de filme de terror de quinta classe; outros quatro — Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva e José Maria Eymael — eram "arrozes de festa" em eleições presidenciais; e três — João AmoedoHenrique Meirelles e Álvaro Dias — eram alternativas mais interessantes que a marionete do presidiário e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre. Mas aí entrou em cena o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim, e deu no que deu.

Em vez chorar o leite derramado, melhor seria aprender com os erros do passado para não os cometer novamente no futuro. Mas seria querer demais da escumalha descerebrada a que se convencionou chamar de "eleitorado". Triste Brasil!

Ciro já foi candidato à Presidência três vezes. A despeito de sua invejável oratória), o cearense de Pindamonhangaba é um populista incorrigível. A ver se terá melhor sorte em 2022 do que em 1998, 2002 e 2018. 

Alckmin era vice de Mário Covas em 2001, e assumiu o governo paulista com a morte do titular. Foi reconduzido ao Palácio dos Bandeirantes em 2002, 2010 e 2014 e concorreu ao Planalto em 2006 e 2018, mas foi derrotado ambas as vezes. Aos 69 anos recém-completados, o picolé de chuchu quer bater asas do ninho tucano e se filiar ao PSB para ser vice na chapa de Lula — ou concorrer (mais uma vez) ao governo do Estado.

Comenta-se que exigências feitas por Kassab têm provocado mal-estar antes mesmo do casamento de papel passado, de modo que o ex-governador não descarta a possibilidade de migrar para o Solidariedade. Qualquer que seja sua decisão, será um fim de carreira melancólico para um político egresso do PMDB, que ajudou a fundar o PSDB e presidiu o tucanato de 2017 a 2019.

Boulos disputou a Presidência em 2018 e perdeu. Disputou prefeitura de Sampa em 2020 e chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Bruno Covas. Jango e Vera não passaram de acidentes de percurso e Daciolo, Marina e Eymael são... Daciolo, Marina e Eymael

O ex-bombeiro desceu do monte para disputar o Planalto em 2018 e (pasmem!) obteve mais votos que a ex-seringueira que sonhava ser freira, mas se elegeu vereadora (1988), deputada (1990), senadora (em 1994 e 2002) e foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, chegando mesmo a ser cogitada para "poste" em 2010 (mas o desempregado que deu certo achou que a nefelibata da mandioca seria mais fácil de controlar, e cometeu o que muitos consideram seu maior erro de estratégia política). 

Daciolo desceu de novo do monte para disputar o Planalto no ano que vem. Até onde a vista alcança, ele deve subir novamente a montanha em outubro do ano que vem. Glória a Deus e adeus! Marina participou participou das três últimas eleições presidenciais, mas deve ficar fora da próxima, embora não descarte a possiblidade de concorrer ao Senado ou à Câmara Federal (para ajudar seu partido a vencer a cláusula de barreira). 

Eymael — o "democrata cristão" que foi deputado federal de 1986 a 1995 e disputou todas as eleições presidenciais desde 2018 (noves fora a de 2002) não só é pré-candidatíssimo como (pasmem!) diz que "Lula vence todos os pré-candidatos nas pesquisas porque seu nome não está inserido nos levantamentos". Talvez seja coisa da idade (82 anos). Parafraseando a caricata Copélia — protagonizada pela impagável Arlete Salles —, "eu prefiro não comentar".

Para encurtar a conversa, havia em 2018 pelo menos três candidatos que poderíamos ter testado se a dicotomia disseminada pelo demiurgo de Garanhuns e seus jegues amestrados não produzisse a imbecilidade coletiva que escalou os dois extremistas mais extremados do espectro político-ideológico para disputar o segundo turno, colocando numa sinuca de bico a parcela do eleitorado que não geme de dor quando raciocina. 

Claro que havia também a alternativa de anular o voto, votar em branco ou se abster de votar, como fizeram 42 milhões de eleitores que se recusaram a apoiar o "mico" dos bolsomínions — e teriam votado no capeta em pessoa para evitar a volta da roubalheira lulopetista. De novo, deu no que deu.

Com a irreverência que lhe é peculiar, Diogo Mainardi diz que, entre votar em Lula ou Bolsonaro, prefere se atirar do Campanário de São Marcos (para quem não sabe, ele mora na Itália). Para João Amoedo, do Novo, esse cenário equivale a escolher entre morrer afogado ou com um tiro. O deputado Vinicius Poit, também do Novo, vai mais além: "Precisamos de uma outra opção que não seja nem esses dois nem o Ciro, que é outro populista. Eu votaria nulo porque populismo, seja de direita ou de esquerda, não faz bem ao país”. 

E eu assino embaixo.

Continua...