domingo, 26 de dezembro de 2021

BOLA DE CRISTAL PRA QUÊ?

 

Fim de ano sem cartomante, búzios e tarô é como ceia de Natal sem peru ou Réveillon sem champanhe — embora este ano esteja mais para frango e filtrado de maçã, daqueles usados em ebó para pombagira. Mas convém deixar os vaticínios para quem tem bola de cristal

Prever o resultado das eleições de 2022 não é tarefa para jornalistas nem para analistas de política, mas para futurólogos, videntes, profetas e assemelhados. 

Quando a mídia comandava as massas (com o advento das redes sociais, as massas passaram a comandar a mídia), a função precípua da imprensa era noticiar os fatos. Para expor opiniões pessoais, os jornalistas valiam-se das colunas e os veículos de comunicação, dos editoriais.

Muitos profissionais da imprensa (majoritariamente de esquerda) não se furtam a distorcer os fatos e torcer por seu bandido, ops!, candidato de estimação, notadamente quando as pesquisas antecipam a vitória do demiurgo de Garanhuns em 2022, com 171% dos votos válidos.

Se a sorte madrasta realmente nos presentear com um "terceiro tempo" de lulopetismo, o ex-presidiário convertido a ex-corrupto terá de cortar um doze para recolocar o bonde nos trilhos: o anormal que elegemos em 2018 não trabalha, mas se empenha como ninguém na desconstrução do país que o impeachment impediu a gerentona de araque concluir.

Desde FHCmentor intelectual e primeiro beneficiário da PEC da Reeleição —, todos os presidentes que concorreram ao segundo mandato se reelegeram, notadamente porque contavam com a caneta e a poltrona presidenciais, que são ferramentas poderosíssimas. Até Dilma, a inolvidável, logrou êxito nesse mister, o que demonstra quão certos estavam Pelé e Figueiredo ao dizerem que o povo brasileiro não sabe votar.

Políticos são como fraldas e, pela mesma razão, devem ser trocados regularmente. A reeleição é nefasta para o país, e a polarização — que foi semeada pela escória lulopetista e estrumada pelo PSDB — é uma tragédia nacional.

A dicotomia político-ideológica transformou em plebiscito o pleito de 2018 e obrigou a parcela esclarecida do eleitorado a apoiar um lunático despirocado para evitar que um criminoso condenado presidisse o país de dentro da cela. E deu no que deu. Agora, a julgar pelas pesquisas, o "mito" dos descerebrados dará com os burros em outubro de 2022 — o que seria digno de comemoração não fosse o fato de o hoje “ex-corrupto” ser tido e havido como o responsável por sua derrota.

Observação: Fala-se inclusive que o petralha pode liquidar a fatura logo no primeiro turno, o que seria providencial para ele: o crescimento das intenções de voto no ex-juiz que o mandou para a cadeia pode mandá-lo agora para a... enfim, o PT precisa que Bolsonaro sangre até o fim do mandato, mas o diabo é que ele está sangrando rápido demais.

Como escreveu Mario Sabino em O Antagonista, só os ingênuos acreditam que Lula et caterva quiseram em algum momento derrubar o capetão, inobstante as inúmeras atrocidades por ele cometidas ao longo da pior gestão desde a redemocratização desta banânia.

Lula sabe que outro adversário quebrará o “encanto” da polarização e o impedirá de conquistar milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 para impedir a volta do PT. A reboque do crescimento de Sergio Moro nas pesquisas, o antipetismo ganhará fôlego num eventual segundo turno, daí a preocupação do sumo pontífice e dos cardeais da seita do inferno em liquidar a fatura em 2 de outubro. 

Se chegar ao segundo turno, o candidato do Podemos conquistará o eleitorado que taparia o nariz e votaria no PT apenas para evitar a reeleição de Bolsonaro. Uma ironia poética, visto que o presidente de turno só se elegeu em 2018 devido ao antipetismo (combinado com uma conjunção de fatores que eu já comentei outras oportunidades).

Sabino lembra que na política a velocidade das quedas e subidas pode definir uma eleição. Quando Eduardo Leite estava à frente de João Doria na preferência do tucanato, um cacique experiente me disse ao colunista que o governador do RS havia “subido rápido demais” nas intenções de voto das prévias do partido, e que o ideal teria sido uma ascensão mais gradual. Dito e feito: quem ganhou a parada foi o governador paulista.

Continua...