Fim de ano sem cartomante, búzios e tarô é como ceia de Natal sem peru ou Réveillon sem champanhe — embora este ano esteja mais para frango e filtrado de maçã, daqueles usados em ebó para pombagira. Mas convém deixar os vaticínios para quem tem bola de cristal.
Prever o resultado das eleições de 2022 não é tarefa para jornalistas nem para analistas de política, mas para futurólogos, videntes, profetas e assemelhados.
Quando a mídia comandava as massas (com o advento das redes sociais, as massas passaram a comandar a mídia), a função precípua da imprensa era noticiar os fatos. Para expor opiniões pessoais, os jornalistas valiam-se das colunas e os veículos de comunicação, dos editoriais.
Muitos profissionais da imprensa (majoritariamente de esquerda) não se furtam a distorcer os fatos e torcer por seu bandido, ops!, candidato de
estimação, notadamente quando as pesquisas antecipam a vitória do demiurgo de
Garanhuns em 2022, com 171% dos votos válidos.
Se a sorte madrasta realmente nos presentear com um
"terceiro tempo" de lulopetismo, o ex-presidiário convertido a
ex-corrupto terá de cortar um doze para recolocar o bonde nos trilhos: o
anormal que elegemos em 2018 não trabalha, mas se empenha como
ninguém na desconstrução do país que o impeachment impediu a
gerentona de araque concluir.
Desde FHC — mentor
intelectual e primeiro beneficiário da PEC da Reeleição —, todos os
presidentes que concorreram ao segundo mandato se reelegeram, notadamente porque contavam com a caneta e a poltrona presidenciais, que são ferramentas poderosíssimas. Até Dilma,
a inolvidável, logrou êxito nesse mister, o que demonstra quão
certos estavam Pelé
e Figueiredo
ao dizerem que o povo brasileiro não sabe votar.
Políticos são como fraldas e, pela mesma razão, devem ser trocados regularmente. A reeleição
é nefasta para o país, e a polarização — que foi semeada pela escória
lulopetista e estrumada pelo PSDB — é uma tragédia nacional.
A dicotomia político-ideológica transformou em plebiscito o pleito de 2018 e obrigou a parcela esclarecida do eleitorado a apoiar um lunático despirocado para evitar que um criminoso condenado presidisse o país de dentro da cela. E deu no que deu. Agora, a julgar pelas pesquisas, o "mito" dos descerebrados dará com os burros em outubro de 2022 — o que seria digno de comemoração não fosse o fato de o hoje “ex-corrupto” ser tido e havido como o responsável por sua derrota.
Observação: Fala-se inclusive que o petralha pode liquidar a fatura logo
no primeiro turno, o que seria providencial para ele: o crescimento das
intenções de voto no ex-juiz que o mandou para a cadeia pode mandá-lo agora
para a... enfim, o PT precisa que Bolsonaro sangre até o fim do
mandato, mas o diabo é que ele está sangrando rápido demais.
Como escreveu Mario Sabino em O Antagonista,
só os ingênuos acreditam que Lula et caterva quiseram em algum
momento derrubar o capetão, inobstante as inúmeras atrocidades por ele
cometidas ao longo da pior gestão desde a redemocratização desta banânia.
Lula sabe que outro adversário quebrará o “encanto” da polarização e o impedirá de conquistar milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 para impedir a volta do PT. A reboque do crescimento de Sergio Moro nas pesquisas, o antipetismo ganhará fôlego num eventual segundo turno, daí a preocupação do sumo pontífice e dos cardeais da seita do inferno em liquidar a fatura em 2 de outubro.
Se chegar ao segundo turno, o candidato do Podemos conquistará o eleitorado que taparia o nariz e votaria no PT apenas para evitar a reeleição de Bolsonaro. Uma ironia poética, visto que o presidente de turno só se elegeu em 2018 devido ao antipetismo (combinado com uma conjunção de fatores que eu já comentei outras oportunidades).Sabino lembra que na política a velocidade das quedas
e subidas pode definir uma eleição. Quando Eduardo Leite estava à frente
de João Doria na preferência do tucanato, um cacique experiente me
disse ao colunista que o governador do RS havia “subido rápido demais” nas
intenções de voto das prévias do partido, e que o ideal teria sido uma ascensão
mais gradual. Dito e feito: quem ganhou a parada foi o governador paulista.
Continua...