Desde 2020 que se delineia um cenário marcado pela violência, e o que assistimos no último Sete de Setembro será potencializado em escala nunca vista no Brasil ao longo do ano que vem, relembra o professor Marco Antonio Villa. Na avaliação do historiador, Bolsonaro quer o caos social em 2022, e a caterva que o apoia usará e abusara de fake news para evitar sua derrota. A campanha eleitoral será agressiva e torpe como nunca se viu, e, a exemplo de Trump, o "mito" não se conformará com a derrota nas urnas nem acatará a decisão da Justiça, pouco importante quantos Lexotans o chefe do GSI injete na veia até lá.
Dora Kramer vê nas declarações do ministro um bocado
de artificialismo. Nem o general toma calmantes na veia, nem Bolsonaro
tem condições de tomar quaisquer medidas contra o Supremo. Mais fácil
ocorrer o contrário (aliás, já passou da hora).
A pantomima se destina a reavivar o clima de beligerância
contra tudo e todos: depois do aconteceu ao longo dos últimos três anos, se voltar
a agitar bandeiras contra a corrupção e a "velha política”, como fez em
2018, Bolsonaro não convenceria nem a Velhinha
de Taubaté (caso Luiz Fernando Veríssimo resolvesse ressuscitá-la).
Volto a dizer que o maior cabo eleitoral de Bolsonaro
foi o lulopetismo corrupto, e que ninguém (em sã consciência) acreditava que aquele
deputado do baixo clero, que jamais se destacou pelo entendimento das complexas
questões de Estado, se convertesse num bom governante. Mas poucos podiam
imaginar, em 1º de janeiro de 2019, que a cerimônia de posse no Palácio do
Planalto seria a pedra fundamental do pior governo desta "Nova
República".
Bolsonaro ignora a Constituição que jurou defender — da
qual só leu "quatro linhas" — e espanca o Estado Democrático de Direito
para levar ao delírio uma caterva de eleitores que não tem olhos para ver nem
cérebro para raciocinar — entre os quais existe inclusive gente estudada,
supostamente esclarecida. E, ao assumir a barbárie como visão de mundo, essa
escumalha se reencontrara com os valores mais reacionários da história do
Brasil.
Neste domingo (19), durante "merecido descanso" no
litoral paulista — onde deve permanecer até a próxima quinta-feira, na boa
companhia de Pedro Guimarães, presidente da CEF, de assessores especiais
e de grande comitiva — o mandachuvas e trovoadas do Planalto disse a apoiadores
que o Ministério da Saúde exigirá de pais e responsáveis de menores de 12 anos um
termo de responsabilidade que autorize a vacinação das crianças.
"O que pretendemos fazer? Vacina para crianças só se
autorizada pelos pais. Se algum prefeito, governador ou ditador quiser impor é
outra história, mas do governo federal tem que ter autorização dos pais e uma
receita médica", perorou o despirocado, que em outras ocasiões já
tentou barrar a vacinação de menores de 18 anos.
Bolsonaro disse ainda que pediu a
divulgação do nome dos técnicos da Anvisa que aprovaram a aplicação do
imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, o que causou reação da
agência. Vale destacar que, apesar da liberação, o início da vacinação não pode
ocorrer imediatamente, já que o Ministério da Saúde ainda não providenciou as
doses específicas para imunizar 70 milhões de crianças.
O pesadelo que estamos vivendo é produto da nossa história
política. Bolsonaro não é um acidente, um acaso ou um fenômeno natural, como
uma erupção vulcânica ou um tsunami. Portanto, é imperativo revermos o processo
de redemocratização — notadamente os 21 anos do condomínio PSDB-PT —,
porque algo de muito errado aconteceu.
A tarefa democrática e civilizatória para 2022 é de varrer o
reacionarismo bolsonarista. A derrota dos extremistas nazifascistas é condição sine
qua non para a preservação da democracia e dos valões consubstanciados na
Constituição. Claro que isso não inclui a vitória do ex-presidiário, de modo que
precisamos 1) torcer para que Bolsonaro seja descartado no primeiro
turno; 2) votar mais uma vez em quem não queremos para evitar a vitória de quem
queremos menos ainda.
Triste Brasil.