No ano seguinte, Veja noticiou a invasão da prefeitura de Apucarana (PR) pelo capitão Luís Fernando Valter de Almeida — que, à frente de 50 homens, leu manifesto contra os baixos salários das forças armadas — e divulgou um plano em que Bolsonaro e o também capitão Fábio Passos da Silva pretendiam “explodir bombas em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras (...) e em vários quartéis” (a operação só seria executada se o reajuste concedido aos militares ficasse abaixo de 60%, e serviria para “assustar” o ministro do Exército).
Os capitães “negaram peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação”, mas, após o surgimento de provas documentais (na ocasião da reportagem realizada na Vila Militar, Bolsonaro havia desenhado um croqui, no qual, de forma didática, explicara à repórter o funcionamento de uma carga de dinamite) e depoimentos testemunhais, o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, deu sinal verde para uma sindicância que concluiu que os insurretos deveriam ser expulsos das forças armadas. Ainda assim, o Superior Tribunal Militar acolheu a tese da defesa, segundo a qual os acusados "foram vítimas de um processo viciado", e a expulsão dos capitães não aconteceu. Mas a carreira militar de ambos terminou ali.
Bolsonaro passou para a reserva e chegou a cogitar de trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho que fizera anos antes, mas sua notória aversão ao batente levou-o a aproveitar a repercussão de sua reforma nos meios militares para se eleger vereador pelo e, na sequência, deputado federal, ambas as vezes pelo PDC. Em 1993, ajudou a fundar o PPR — fruto da fusão do PDC com o PDS — e voltou a provocar polêmica ao defender o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso.
Observação: A despeito da evidente contradição, o deputado que defendia o fechamento do Congresso — dizendo que preferia “sobreviver no regime militar a morrer nesta democracia” — tornou a se candidatar em 1994 e foi reeleito com 135 mil votos. O TRE-RJ anulou a eleição por suspeita de fraude e realizou um novo pleito, mas Bolsonaro confirmou sua reeleição e foi empossado em fevereiro do ano seguinte.
Em agosto de 1995, com a criação do PPB — resultado da fusão do PPR com o PP —, Bolsonaro migrou para a nova agremiação e foi reeleito, em 1988, com 102.893 votos. Em junho de 1999, a Mesa Diretora da Câmara decidiu propor ao plenário sua suspensão por um mês, por ter defendido o fechamento do Congresso e afirmado que “a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente”, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso. Acabou que a Mesa recebeu uma retratação e decidiu aplicar apenas uma censura, mas voltou atrás quando Bolsonaro alegou que sua assinatura havia sido falsificada. Mesmo assim, a proposta nunca chegou a ser votada pelo plenário da Câmara.
Questionado por empregar em seu gabinete a companheira Ana Cristina Vale, o pai e a irmã dela, Bolsonaro alegou que estava se divorciando e argumentou que, por não ser casado com Ana Cristina, a contratação não caracterizava nepotismo. Em dezembro, durante um almoço de desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica, Walter Braüer, o ex-capitão defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso — chegando mesmo a dizer que o fuzilamento era até “algo honroso para certas pessoas”. O líder do governo na Câmara pediu a cassação de seu mandato, mas, mais uma vez, a proposta nunca chegou ao plenário da casa.
No início de 2000, Bolsonaro defendeu a pena de morte para qualquer crime premeditado e a tortura em casos de tráfico de drogas. Atacou os homossexuais, dizendo não “admitir abrir a porta do meu apartamento e topar com um casal gay se despedindo com beijo na boca, e meu filho assistindo a isso”, e seguiu defendendo os interesses das FFAA. Inconformado com o aumento da ingerência civil sobre os militares a partir da criação do Ministério da Defesa pelo governo FHC, chamou o ministro de “canalha”, “patife” e “imoral”, acusou-o de postergar o reajuste dos militares e de estar “servindo aos interesses dos EUA no país”.
Reeleito em 2002 com 88.945 votos, nosso herói declarou-se contrário à reforma da previdência. Trocou o PPB pelo PTB, que deixou em 2005 para se filiar ao PFL, que deixou meses depois para ingressar no PP (nova denominação do PPB, sua antiga legenda). Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, Bolsonaro endureceu seus ataques ao PT e aos políticos do partido envolvidos nos escândalos. Chamou José Dirceu de “terrorista” e José Genoíno de “delator”. Chegou mesmo a levar à CPI do Mensalão o coronel reformado Lício Augusto Ribeiro Maciel, responsável pela prisão e interrogatório do petista em 1972, para desmentir a versão de que ele teria sido torturado para entregar os companheiros.
Em outubro de 2005, por ocasião do referendo sobre a comercialização de armas de fogo, Bolsonaro, crítico contumaz das campanhas de desarmamento anteriores, mandou confeccionar cartazes com frases como “O exército do PT é o MST” e “Entregue suas armas: os vagabundos agradecem”, e posicionou-se entre os defensores e organizadores da campanha do “não”, dizendo ser favorável “ao desarmamento, sim, mas dos bandidos” (ao final, venceram os partidários do “não”, com 63% dos votos).
Reeleito para o quinto mandato consecutivo com 99.700 votos, Bolsonaro se envolveu em mais uma polêmica, dessa vez por conta da situação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, no estado de Roraima. Na ocasião, o representante indígena no debate atirou água no ex-capitão. Em 2009, o PCdoB entrou com representação contra ele, por quebra de decoro.
Reeleito em 2010 com 120.646 votos, Bolsonaro foi candidato à presidência da Câmara e obteve 9 votos — contra 375 do parlamentar eleito, Marco Maia, 106 de Sandro Mabel e 16 de Chico Alencar. Em abril de 2011, criticou o que batizou de “kit gay” e atacou o deputado homossexual Jean Willys (“Eu não teria orgulho de ter um filho como você”). No mês seguinte, meteu-se em nova polêmica envolvendo o projeto de lei que criminalizava a homofobia.
Em 2014, já de olho no Palácio do Planalto e diante da recusa de Ciro Nogueira, dono PP, em lançar sua candidatura à Presidência, filiou-se ao PSC. Como a sigla também não lhe fez a vontade, reelegeu-se mais uma vez deputado federal (com 464 mil votos). Durante o impeachment de Dilma, dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como torturador durante a ditadura militar, o que lhe rendeu mais uma denúncia ao Conselho de Ética da Câmara (dessa vez por apologia à tortura).
Em 2017, concorreu novamente à presidência da Câmara, mas obteve míseros quatro votos (o vencedor foi Rodrigo Maia). Ainda em 2017, sem garantias sobre o lançamento de sua candidatura ao Planalto, cogitou de migrar para o PSDC e chegou a assinar um compromisso de filiação ao PEN.
Em 2018, Gustavo Bebianno articulou a filiação de Bolsonaro e filhos e ao PSL de Luciano Bivar. Na condição de pré-candidato à Presidência, o ainda deputado se dedicou a fazer campanha Brasil afora. Sua candidatura foi oficializada em julho de 2018 e recebeu o apoio formal do PRTB, que indicou como postulante a vice o general Hamilton Mourão. À época, Bolsonaro ressaltou que, embora não tivesse amplas estruturas partidárias e dispusesse de pouco tempo de propaganda na televisão, confiava na espontaneidade dos seus apoiadores, que se mobilizariam em plataformas digitais e viabilizariam uma campanha massiva, mas de baixo custo.
No evento de lançamento da candidatura ao Planalto, defendeu a fusão de ministérios, a privatização de braços da Petrobras e o fim da "indústria de multas", fazendo referência às estradas e também a órgãos associados à defesa do meio ambiente e à fiscalização de condições de trabalho. Foram lançadas ainda as candidaturas dos filhos 01 ao Senado e 03 à Câmara Federal (o primeiro pelo Rio de Janeiro e o segundo por São Paulo).
Nas pesquisas divulgadas ao longo de 2018, o candidato do PSL chegou a ser apontado como o segundo na preferência dos eleitores, atrás apenas do presidiário Lula, que ainda recorria da condição de inelegível, embora já apontasse o duble de poste e bonifrate Fernando Haddad como seu preposto. Iniciada oficialmente a campanha, Bolsonaro seguiu com sua agenda de viagens pelo Brasil até ser esfaqueado, internado e submetido a uma série de intervenções cirúrgicas. O caso teve ampla repercussão e não só colocou o candidato em evidência como lhe serviu de pretexto para escapar dos debates televisivos.
Tendo o antipetismo como principal cabo eleitoral, Bolsonaro confirmou sua liderança no primeiro turno (e ajudou a eleger diversos parlamentares e que o apoiaram em campanha — entre os quais os filhos Flávio Rachadinha, que conquistou uma cadeira no Senado, e Eduardo Bananinha, que passou a integrar a segunda maior bancada na Câmara Federal) e derrotou Haddad no segundo, (com 55% dos votos válidos) eleger.
Na condição de presidente eleito, iniciou as tratativas para composição de seu quadro ministerial, que prometeu balizar por critérios técnicos (e não ideológicos). Empossado em 1 de Janeiro de 2019, defendeu ampla agenda de reformas, assumiu compromissos com o combate à criminalidade e à ideologia de gênero, alardeou um modelo conservador e tradicional para a "família", implementou um mote com os dizeres "Mais Brasil e menos Brasília" e defendeu o porte de armas, o excludente de ilicitude e o livre mercado como diretriz econômica. E deu no que deu.
Bolsonaro foi casado com Rogéria Nantes Nunes Braga Bolsonaro, vereadora no Rio de Janeiro entre 1993 e 2001 — com quem teve os filhos Flávio, Carlos e Eduardo, que também seguiram pelo política —, contraiu segundas núpcias com Ana Cristina Vale, com quem teve outro filho (Jair Renan), e, em 2007, com Michele Bolsonaro, com quem teve a menina Laura, hoje com 11 anos de idade.
No âmbito judicial, o "mito" é investigado em seis inquéritos. O assim chamado inquérito das fake news, que tramita no STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. Outro inquérito (esse no TSE) investiga ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Por último, mas não menos importante: dos cinco filhos que o capitão teve em três casamentos, quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula).FONTES: Portal da Câmara dos Deputados; Portal do Estado de São Paulo; Portal da Folha de São Paulo; Portal O Globo; Portal Jornal do Brasil; Portal IstoÉ; Portal Veja; Portal do Tribunal Superior Eleitoral; Portal de notícias do Jornal Extra; Portal do El País; Portal do jornal Estado de Minas.