No Rio, a criminalidade não está apenas nas bocas de fumo ou
nos escritórios da milícia. O crime organizado ocupou os palácios Guanabara e
Laranjeiras, sede da administração estadual e residência oficial do governador.
Quando era deputado federal pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro ocupou
a tribuna da Câmara para elogiar milicianos — gente que despia a farda de
policial nas horas vagas para vender segurança a preços módicos a comerciantes
e moradores das áreas conflagradas. Na campanha de 2018, ensaiou um lamento:
"As milícias tinham plena aceitação popular, mas depois acabaram se
desvirtuando. Passaram a cobrar “gatonet” e gás".
O então presidenciável esqueceu de mencionar o transporte
clandestino e as construções ilegais. Mas lapsos de memória são
compreensíveis. Bolsonaro tinha ao seu redor o ex-sargento e
operador de rachadinhas Fabrício Queiroz, além do ex-capitão Adriano
da Nóbrega. O primeiro livrou-se da cadeia graças ao prestígio dos amigos
nos tribunais superiores de Brasília, e o segundo foi passado nas armas no
interior da Bahia.
Bolsonaro impulsionou a eleição de Witzel,
um ex-juiz que prometeu extinguir a corrupção e "mirar na cabecinha"
dos bandidos. Foi deposto por desvio de verbas da saúde. Antes disso, Luiz
Pezão, o antecessor de Witzel, armou com Michel Temer uma
intervenção federal cenográfica na segurança do Rio quando faltavam dez meses
para o melancólico final de sua gestão. E deu no que está dando.
Chefiava a "intervenção" o general Braga
Netto, hoje ministro da Defesa e opção de candidato a vice na chapa
de Bolsonaro. Na última quarta-feira, enquanto a polícia escalava o
Jacarezinho, o governador-tampão passava o pires em Brasília. Sob
intensa oposição do Tesouro Nacional e da Procuradoria da Fazenda Nacional,
tentava convencer a gestão Bolsonaro a ignorar pareceres
técnicos que desaconselham a admissão do Rio na UTI federal do plano de
recuperação fiscal.
De duas, uma: ou Bolsonaro adere ao espetáculo do seu aliado, ou Castro terá de explicar como fará para levantar a lona do circo eleitoral da segurança pública, com o prometido viés social, sem bilheteria.
Com Josias de Souza