Perguntado sobre como seria a 3ª Guerra Mundial, o físico alemão Albert Einstein respondeu que não saberia dizer, mas que a quarta certamente seria com pedras e paus.
Se, como disse Carl von Clausewitz, a guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios, poderíamos dizer que a política é apenas guerra com outro formato. Mas isso é outra conversa. De momento — e ao longo dos próximos meses — a questão que se coloca é quem vai vencer a próxima eleição presidencial.
Afora videntes, cartomantes, oráculos, pitonisas e institutos de pesquisas eleitoreiras, ninguém sabe a resposta (nem se o Brasil sobreviverá à atual gestão). Mas sabe-se que a disputa será a mais violenta de nossa história recente, com campanhas marcadas não pela disputa de ideias, mas pela bestialidade.
Tanto a reeleição de Bolsonaro quanto a volta do lulopetismo seria uma tragédia de proporções épicas. O dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos em 2018 para evitar um mal maior nada fez de útil em três anos de governo, e nada indica que algo vá mudar daqui até o final de seu deplorável mandato. Negando todas as evidências, seus puxa-sacos atribuem a desgraça nacional à pandemia, como se a Covid fosse um problema exclusivo do Brasil e o "mito" já não brincasse de reizinho havia 14 meses quando os primeiras mortes decorrentes do vírus maldito (falo do biológico) ocorreram em solo tupiniquim.
No ENSAIO
SOBRE A CEGUEIRA, publicado em 1995, o escritor português José
Saramago (Nobel de Literatura em 1998) ensinou que “a cegueira é uma
questão privada entre a pessoa e os olhos com que nasceu” e que “a
pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos pela
frente”. Relembro essas pérolas porque muita gente
ainda fala em “esquerda” e “direita”, no âmbito político-ideológico, como nos
anos 1970, quando havia União Soviética e Muro de Berlim .
Como essa gente vota, a próxima eleição presidencial está fadada a ser uma reprise do pleito plebiscitário de 2018, com a diferença de que, em 2018, para evitar que o país fosse governado por um bonifrate que não soltava um peido sem a bênção do então presidiário de Curitiba, elegemos destrambelhado que se serve da Presidência para veranear em Dubai, promover motociatas, dar cavalos-de-pau “lá no Beto Carreiro”, pilotar jet-ski no litoral catarinenses e vituperar as instituições do alto de algum palanque improvisado.
Outra diferença é que a rejeição ao lulopetismo corrupto, que campeava solta na eleição passada, agora perde longe da aversão ao bolsonarismo boçal. Assim, só nos resta torcer para que a tal terceira via se consolide.
Tanto Lula quanto Bolsonaro são populistas demagogos, ainda que de polaridades político-ideológicas invertidas. Ambos têm seu público fiel, mas campanha é treino e governo é jogo. Espera-se que um presidente eleito que governe para todos — coisa que nenhum desses dois jamais fez. A questão é que as “convicções” do demiurgo de Lula velhas conhecidas, ao passo que Bolsonaro, enquanto candidato, encenou a pantomima de cruzado contra a corrupção na política, o toma-lá-dá-cá, os partidos venais do Centrão, a nefasta reeleição e blá, blá, blá. E deu no que deu.
Lula, que nos tempos pujantes da Lava-Jato colecionou 20 processos criminais e foi condenado a mais de 25 anos de prisão, agora se diz absolvido. Insiste na cantilena da conspiração, de que não há (nunca houve e jamais haverá) alguém mais honesto do que ele, de ter sido o melhor presidente desde Tomé de Souza (a despeito do Mensalão, do Petrolão, dos R$ 300 milhões da Odebrecht, das palestras pagas a peso de ouro, do tríplex, do sítio etc. e tal) e promete voltar a ser o parteiro do Brasil Maravilha, o pai dos pobres e mãe dos ricos, o enviado pela Divina Providência para acabar com a fome, presentear a imensidão de desvalidos com três refeições por dia e multiplicar a fortuna dos milionários. E o pior é que um bocado de gente se presta a lhe emprestar o ouvido para servir de penico.
Tanto a esquerda lulopetista corrupta quanto a direita bolsonarista boçal são nefastas para o país, e ambas mobilizarão seus devotos (e seus robôs) para espalhar fake news travestidas de propostas de governo. Bolsonaro, para justificar a humilhação pública no dia 2 de outubro, quando for expurgado da disputa já na primeira consulta aos eleitores, deve intensificar preventivamente os ataques às urnas eletrônicas e alardear a suposta fraude que culminará com sua derrota.
Como bem salientou o historiador e professor Marco
Antonio Villa, a tarefa de todos os democratas,
independentemente dos matizes político-ideológicos, é transformar o processo
eleitoral em um palco de discussão dos grandes problemas nacionais. E o Brasil
está fadado mais uma vez a perder essa oportunidade histórica por se imiscuir em
questões menores e dar trela a provocações de extremistas que priorizaram temas
absolutamente secundários e carregados de reacionarismo, como ser ou não
favorável a “banheiro trans”.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o governador João Doria disse que ele, Sergio Mro, Simone Tebet e Alessandro Vieira continuarão dialogando até o início de junho, quando então farão uma avaliação sobre as condições para a convergência em torno de uma candidatura com potencial para pôr fim a essa maldita polarização. Que Deus os ajude e não nos desampare. No que me concerne, já estaria de bom tamanho se um deles tirasse Lula ou Bolsonaro do páreo — e melhor ainda se ambos os extremistas extremados forem escorraçados no primeiro turno.