segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

CONSULTA PÚBLICA PRA QUÊ?


O Brasil está prestes a contabilizar 620 mil mortes por Covid, parte das quais teve a ver com a péssima atuação de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia — um mandatário negacionista, despreparado, que enjeita o epíteto de "genocida" e se empenha em acrescentar o "infanticídio" à extensa lista de crimes que lhe foram atribuídas pela CPI para a qual afirma “estar cagando”. 

Apoiadores dessa tragédia em forma de governante ainda criticam o ex-ministro Mandetta por ter orientado a população a buscar auxílio quando e se enfrentasse problemas respiratórios, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, apoiam a sandice de Queiroga de promover uma “consulta pública” sobre a imunização de crianças de 5 a 11 anos, a despeito de a Anvisa ter aprovado a vacina da Pfizer para essa faixa etária

Mandetta ecoou a recomendação da OMS quando quase nada se sabia do "novo coronavírus", e a medida visava evitar o colapso do sistema de Saúde. Passados 20 meses da primeira morte no Brasil, sabe-se que uma criança morreu de Covid a cada três dias do início da pandemia até o final de dezembro.

Marcelo Queiroga, que não passa de uma patética versão de jaleco do General Pesadelo, prefere manchar seu currículo a perder o cargo e o apoio de Bolsonaro nas próximas eleições (ele pretende disputar uma cadeira de senador pelo estado da Paraíba). Para ganhar pontos com o mandatário-suserano, o cardiologista asseverou, no último dia 18, que "o novo prazo permite que as autoridades analisem a decisão da Anvisa em todas as suas nuances". Mas não detalhou o que ainda precisaria ser analisado para além dos resultados da tal "consulta pública" e da "audiência pública" a ser realizada amanhã. 

Todas as evidências científicas disponíveis até o momento indicam que os benefícios de vacinar o público infantil superam, de longe, os potenciais riscos, de modo que essa a exigência de Queiroga serve apenas para atrasar ainda mais a imunização infantil e demonstrar sua obediência canina a um presidente mentalmente avariado, que sempre foi contrário às vacinas e agora quer exigir atestado médico e autorização expressa dos pais ou responsáveis para a imunização dos pequenos. 

Observação: Em entrevista à CNN Brasil, a infectologista Luana Araújo criticou Queiroga pelas declarações de que não pode haver pressa para imunizar a faixa etária porque o número de óbitos é baixo. Na sua visão, a fala do ministro foi profundamente infeliz, até porque não existe número aceitável de mortes de crianças.“Ciência malfeita é achismo. […] Essa declaração é profundamente infeliz. Ela não só não leva em consideração as evidências científicas, como também mostra um profundo desconhecimento dos números do próprio país. Não existe patamar aceitável de óbito de criança. É cruel e absolutamente desconectado da realidade.” 

Já passam de 600 os auditores da Receita Federal que entregaram seus cargos. O ministro responsável pela área, Paulo Guedes, segue em férias. A Bahia enfrenta as piores chuvas nos últimos 35 anos, já há 20 mortos e mais de 30 mil desabrigados. O presidente da República segue em férias. De quebra, provoca aglomerações, aumentando a exposição dos brasileiros à Covid

É evidente que Jair Bolsonaro e seus auxiliares têm muitas prioridades. Também é evidente que entre elas não estão o Brasil e os brasileiros.