Na política não há inocentes, só culpados. E isso vale também para o eleitorado, uma vez que maus políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea.
Vale relembrar a velha anedota segundo a qual o Senhor das Esferas, acusado de protecionismo durante a criação do Mundo por favorecer a porção de terra que futuramente tocaria ao Brasil, assim se pronunciou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." Dito e feito.
Churchill dizia
que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as
outras". Mas que "o melhor argumento contra a democracia é
cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Já o general Figueiredo (que era um sábio e
não sabia) disse certa vez que "um povo que não sabe sequer escovar os
dentes não está preparado para votar".
A nefasta dicotomia político-ideológica semeada por Lula et
caterva, regada pelos tucanos e estrumada pelo bafo do capetão e seus soldadinhos
de chumbo alastrou-se país afora, alcançando, inclusive, as cúpulas dos
Poderes. Foi por isso que a parcela pensante do eleitorado apoiou o
bolsonarismo boçal em 2018, já que a alternativa era a volta do lulopetismo
corrupto. E deu no que deu.
Três anos sob os desmandos de um anormal não foram suficientes para a récua de muares munidos de título de eleitor aprender a lição. A julgar pelas pesquisas, teremos novamente eleições plebiscitárias neste ano, e seremos obrigados — mais uma vez — a apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda.
Resta-nos a esperança de o
imprevisto ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, fazendo com que
um dos dois “salvadores da pátria” saia de cena. Mas isso é apenas um exercício
de futurologia baseado não em fatos, mas na esperança que acalentamos de um
futuro melhor.
Desgraçadamente, falta ao Congresso probidade e vergonha na
cara. Mas o que esperar de uma instituição composta em grande parte por investigados, denunciados e réus — e os insignes parlamentares que não se enquadram numa dessas categorias certamente viriam a se enquadrar se a alta cúpula do Judiciário não estivesse
tomada por defensores atávicos da impunidade? Volto a dizer que quando se dá a
chave do galinheiro a uma raposa e ela encarrega outras raposas de
investigar o sumiço das galinhas... enfim, acho que deu para entender.
Nossas leis são criadas por políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e se escudam no abjeto foro especial por prerrogativa de função. Esqueça a história de que “todos são iguais perante a lei”. Sempre houve, há e continuará havendo “os mais iguais que os outros”.
Presidente e vice, ministros de Estado,
senadores e deputados federais só podem ser processados e julgados no STF,
e os eminentes togados são rápidos como guepardos quando se trata de conceder habeas
corpus a seus bandidos de estimação, aumentar os próprios salários e conceder
a si próprios toda sorte de mordomias, mas lerdos como cágados
pernetas na hora de julgar ex-presidentes corruptos e sanguessugas aboletados no parlamento.
Fala-se muito da politização do Supremo,
mas os ministros só agem quando são provocados. E são os próprios congressistas,
descontentes com essa ou aquela situação, que pedem a interferência dos
magistrados em assuntos que caberia ao parlamento decidir. Foi assim com a instalação da
CPI do Genocídio, que só seguiu adiante depois que uma liminar
do ministro Luís Roberto Barroso pôs fim à fleuma (também chamada de “mineirice”)
do presidente do Senado. E esse é só um exemplo.
Não quero dizer com isso o STF não erra. Erra, e muito, até porque os ministros são seres humanos (alguns se julga semideuses, mas isso é outra história). Em dezembro de 1914, em aparte à um discurso do senador Pinheiro Machado, Ruy Barbosa disse que o Supremo pode se dar ao luxo de errar por último. Décadas depois, Nelson Hungria, príncipe dos penalistas brasileiros, fez eco ao “Águia de Haia” dizendo que o STF tem “o supremo privilégio de errar por último”.
Todos os poderes da República são guardas da Constituição. A Administração
pode se considerar isenta de cumprir lei inconstitucional, mas jamais estará
isenta de cumprir decisões do STF. A menos, é claro, que se mude esse entendimento
constitucional.
Não há democracia que funcione sem “toma-lá-dá-cá” se mais
de 30 partidos disputam fatias de poder e verbas do Erário. E o apetite dessa escumalha é pantagruélico. Haja vista o valor absurdo que foi estabelecido para o “fundão” eleitoral — dinheiro que é roubado
de nós para ajudar a eleger quem vai nos roubar na próxima legislatura.
Gastar bilhões para eleger essa caterva quando falta dinheiro para investir em segurança, saúde e educação, por exemplo, é um escárnio. E a divisão desse butim é feita levando em conta, entre outros fatores, os votos para Câmara e Senado recebidos pelos partidos na eleição anterior. Em 2018, o “fundão” foi de cerca de R$ 2 bilhões — pouco mais de um terço do valor estabelecido para as eleições de 2022.
“É muita demagogia qualquer um chegar aqui e dizer que nós não vamos ter um fundo eleitoral público para financiamento das campanhas”, disse o tal deputado-réu que preside a Câmara. “Hoje a única maneira que temos para evitar que tráfico, milícias e contraventores financiem e façam a má-gestão da política é com um financiamento público, claro e transparente.”
Continua...