terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

MAIS SOBRE CHUVAS DE VERÃO (FINAL)

SE FALAR MERDA DESSE MAU HÁLITO, OS DEVOTOS DO CERCADINHO MORRERIAM ASFIXIADOS.

Além de ser difícil avaliar visualmente a profundidade de um alagamento (sobretudo se a água for barrenta), ainda há o risco de obstáculos submersos (buracos, pedras, galhos de árvores, bueiros sem tampa, etc.). 

Em tese, seguir pelo meio da pista é preferível a trafegar próximo ao meio fio, mas na prática a teoria pode ser outra. Se o veículo ficar submerso e o motor morrer, pode ocorrer um fenômeno conhecido como calço hidráulico — quando o motor aspira água juntamente com o ar que forma a mistura a ser comprimida e inflamada no interior dos cilindros.

Observação: O motor gera torque e potência a partir da compressão e posterior combustão de uma mistura de ar e combustível (para entender isso melhor, reveja este resumo sobre os princípios básicos do funcionamento do motor de combustão interna do ciclo Otto). O ar que ingressa nos cilindros passa por um filtro, mas esse filtro não foi projetado para impedir a entrada de água. Demais disso, manter o giro elevado “força” a expulsão dos gases resultantes da combustão e impede a entrada de água pelo cano de descarga, evitando que o motor “morra”.

A água que invade a câmara de combustão não só inviabiliza a queima da mistura como submete os pistões a um esforço para o qual eles não foram dimensionados (ao contrário dos gases, os líquidos não são compressíveis). Isso pode resultar em quebra ou entortamento das bielas (hastes metálicas que ligam os êmbolos à árvore de manivelas, ou virabrequim) e no travamento do motor. Aliás, é por isso que jipes, picapes e outros veículos projetados para uso offroad têm seus canos de descarga posicionados verticalmente e o sistema de captação de ar (snorkel) na altura da capota. Assim, eles podem atravessar córregos, riachos e trechos alagados (dentro de certos limites, naturalmente) sem que a água seja sugada para dentro do motor.

Como regra geral, não se deve tentar religar o motor que “apagar” em meio à travessia de um alargamento, nem dando a partida com a chave, nem empurrando para fazê-lo “pegar no tranco”. Em vez disso, deve-se colocar a alavanca de mudanças no ponto morto (ou na posição N, nos automáticos e automatizados) e empurrar o veículo para fora da água. 

Se o motorista tiver um mínimo de habilidade manual e dispuser das ferramentas necessárias, retirar as velas de ignição e dar a partida pode ser de grande ajuda (sem as velas não há compressão, mas o movimento dos pistões expulsa a água do interior dos cilindros).

Supondo que os componentes do sistema eletrônico de injeção não tenham sido afetados, basta reinstalar as velas, reconectar os cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Todavia, é mais seguro chamar um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará um exame mais detalhado.

Boa sorte a todos.