SE FALAR MERDA DESSE MAU HÁLITO, OS DEVOTOS DO CERCADINHO MORRERIAM ASFIXIADOS.
Além de ser difícil avaliar visualmente a profundidade de um alagamento (sobretudo se a água for barrenta), ainda há o risco de obstáculos submersos (buracos, pedras, galhos de árvores, bueiros sem tampa, etc.).
Em tese, seguir pelo meio da pista é preferível a trafegar próximo ao
meio fio, mas na prática a teoria pode ser outra. Se o veículo ficar submerso e
o motor morrer, pode ocorrer um fenômeno conhecido como calço hidráulico
— quando o motor aspira água juntamente com o ar que forma a mistura a ser
comprimida e inflamada no interior dos cilindros.
Observação: O motor gera torque e potência a partir da compressão e posterior combustão de uma mistura de ar e combustível (para entender isso melhor, reveja este resumo sobre os princípios básicos do funcionamento do motor de combustão interna do ciclo Otto). O ar que ingressa nos cilindros passa por um filtro, mas esse filtro não foi projetado para impedir a entrada de água. Demais disso, manter o giro elevado “força” a expulsão dos gases resultantes da combustão e impede a entrada de água pelo cano de descarga, evitando que o motor “morra”.
A água que invade a câmara de combustão não só inviabiliza a queima da mistura como submete os pistões a um esforço para o qual eles não foram dimensionados (ao contrário dos gases, os líquidos não são compressíveis). Isso pode resultar em quebra ou entortamento das bielas (hastes metálicas que ligam os êmbolos à árvore de manivelas, ou virabrequim) e no travamento do motor. Aliás, é por isso que jipes, picapes e outros veículos projetados para uso offroad têm seus canos de descarga posicionados verticalmente e o sistema de captação de ar (snorkel) na altura da capota. Assim, eles podem atravessar córregos, riachos e trechos alagados (dentro de certos limites, naturalmente) sem que a água seja sugada para dentro do motor.
Como regra geral, não se deve tentar religar o motor que “apagar” em meio à travessia de um alargamento, nem dando a partida com a chave, nem empurrando para fazê-lo “pegar no tranco”. Em vez disso, deve-se colocar a alavanca de mudanças no ponto morto (ou na posição N, nos automáticos e automatizados) e empurrar o veículo para fora da água.
Se o
motorista tiver um mínimo de habilidade manual e dispuser das ferramentas
necessárias, retirar as velas de ignição e dar a partida pode ser de grande ajuda
(sem as velas não há compressão, mas o movimento dos pistões expulsa a água do
interior dos cilindros).
Supondo que os componentes do sistema eletrônico de
injeção não tenham sido afetados, basta reinstalar as velas, reconectar os
cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Todavia, é mais seguro chamar
um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará
um exame mais detalhado.
Boa sorte a todos.